Em português caboclo, ‘A trinca chegaram’

Gilvan Freire

A trinca, já se sabe, são Luciano Agra, Nonato Bandeira e Bira, os cardeais da seita de RC que querem liberdade de pensamento e crença – um cisma pregado desde Calvino na reforma protestante e modernizado por Leonardo Boff através da Teoria da Libertação, no quase final do século XX, no Brasil, que dividiu Deus em dois: o dos pobres e o dos outros, e permitiu o livre pensar que, como o coçar, é só começar.

Era por volta de meados do século passado quando violeiros paraibanos rompiam uma noite fria na cidade interiorana de Teixeira, numa daquelas cantorias famosas – verdadeiros saraus culturais da época. O cantador de viola Lourival Batista, o maior gênio universal do trocadilho de improviso, deparou-se com a ‘deixa’ de um violeiro menos experiente que saudou duas autoridades que entravam no recinto.

– ‘A trinca chegaram’, terminou o verso assim, atropelando duas vezes a gramática.
Lourival que enquanto viveu só conheceu outro igual em genialidade, o monteirense Pinto do Monteiro, respondeu:

– Isso de trinca chegaram é erro de português
Mesmo porque só pode ser trinca sendo de três
Ai está um sabido com dois erros duma vez.

No caso de João Pessoa, o que era antes uma dupla, Luciano e Nonato, agora são três, incluindo Bira, a nova espécie que RC criou à sua imagem e semelhança, contanto que não queira ser igual ao criador. A trinca ‘chegaram’ em separado, porque Agra não confiava em Nonato e nem em Bira e nem vice-versa. Ou seja, todos desconfiavam de todos (e com muita razão de cada lado) porque disputavam as mesmas coisas: uma prefeitura e o apoio do dono, que só por mera coincidência age como dono dos quatro.

Não haveria de dar certo três pessoas quererem ao mesmo tempo a mesma coisa que pertence a uma quarta, quando essa poderia dá-la a quem quisesse e a nenhum dos três. Deu no que deu, e a escolhida foi Estelizabel, que não é da trinca porque a trinca passou a ser três em apenas um, uma simplificação matemática que determina quando em valor ou peso uma fração pode representar três.

Vencidos na escolha altamente democrática que um homem único pôde fazer em nome de muitos, a trinca pôs em prática uma lógica matemática inversa. E gramaticalmente diferente. Trata-se de afirmar que três não podem valer menos que um, porque, fosse assim, uma quinta pessoa poderia anular ou aniquilar também quatro. Ou mais. Nesse caso, gramaticalmente, seria conveniente dizer, pensando no número de pessoas apreensivas, que ‘o grupo reagiram’.

É o que está havendo nessa mistura de gramática e matemática, onde os números e a concordância verbal convergem para expressar a posição de uma trinca, que pode ser até de mais de três, tanto que já foi de dois. Nonato, Agra e Bira estão somados, rimando e concordando no tempo verbal: é agora. Especialmente depois da perda parcial do PT. Agra quer voltar, RC está frágil. Dois em um pode significar Luciano e Nonato. É a trinca de dois, porque ainda não se sabe o que fazer de Bira. E Estelizabel pode sobrar, só para que se confirme a teoria de que quem é dono de três pode ser também de quatro. Se RC aceitar, será quatro em um, como já vem sendo.