EM CABEDELO, É SÓ FURAR O TUMOR E ESCOAR O PUS

Por Gilvan Freire

                         Walter Santos, pelo WSCOM, lembrou, em tempo, a má sina dos três mais importantes municípios da grande João Pessoa – Cabedelo, Bayeux e Santa Rita – e de suas populações, por causa do desastre administrativo dos últimos tempos. De fato, não há explicação para isso, vez que a Capital, com todos os seus de razoáveis a bons resultados de gestão, poderia exercer grandes e benéficas influências sobre os demais.

Às vezes, é de se pensar que os atrasos e caos dominantes nesses três cantos da região metropolitana visinha é resultado da falta de lideranças novas e do predomínio de líderes velhos, todos carcomidos pelo tempo e pelos anacrônicos estilos de gestão. Pode até ser, em parte, mas algumas experiências mais recentes depõem contra a observação.

                        Em Santa Rita, o duelo entre forças conservadoras nos últimos 30 anos e a infelicidade de não haver surgido líderes jovens independentes das oligarquias do tempo dos engenhos e sua massa de trabalhadores braçais e paupérrimos, e um modelo de educação incapaz de gerar novas ideias e construir uma cidadania contemporânea das sociedades modernas, são as causas mais prováveis do isolamento existente entre a população local e a moderna e próspera João Pessoa. E, com a ascensão do atual prefeito, qualquer esperança fica de principio perdida, porque ele gera a mais segura das garantias de que Marcos Odilon retornará ao cargo – se conseguir a façanha de que seu mandato chegue ao fim no prazo legal de desocupação.

 

                        Bayeux é uma Santa Rita piorada, com massa de trabalhadores mais urbana, mas, como se fosse uma combinação ou imitação, inteiramente distante do que acontece de bom na Capital. É a cidade metropolitana que mais importa forasteiros e mais exporta talentos para João Pessoa, além de fortalecer o comércio e a indústria da Capital. A administração da cidade é um desastre continuado e perpetuado, parecendo um pacto de ingovernabilidade celebrado voluntariamente entre o próprio povo e seus líderes políticos. E todos parecem felizes. Mas a sociedade tem feito tentativas de renovação com produtos importados, e o resultado só não tem sido pior porque pior não pode ficar, enquanto um cidadão da terra, qualificado e educado para tão desafiadora missão, não tenha vergonha da cidade mas tenha pena dela e de seu povo abandonado.

 

                        Cabedelo é a João Pessoa que nunca dá certo. Porquê uma cidade não dá certo dentro de outra? É porque elas não são iguais. João Pessoa e Cabedelo estão ligadas mas já foram separadas, cada um curtindo os seus costumes ao longo dos tempos de formação do povo. Há ainda em Cabedelo uma população nativa que cultiva hábitos tradicionais e se relaciona internamente dentro desse padrão cultural. O fenômeno Zé Regis, nos últimos anos, decorre dessa peculiaridade. O eleitor ver nele outro nativo, encontrável no mercado ou na praça pública, ou nos velórios, sempre despojado, vestido simples e disponível para conversas ao pé do ouvido. Por causa disso ele ficou dispensado de fazer algo diferente e a cidade sempre volta com ele à antiguidade.

Mas é nessa Cabedelo tão distante e próxima da Capital ao mesmo tempo, onde nasceu nos seus últimos anos uma máfia que corrói o dinheiro público e desmoraliza a sociedade e atravanca o processo de mudanças. Há de tudo: apropriação de dinheiro e bens públicos; venda de favores políticos; corrupção da máquina administrativa; negociatas e chantagens; enriquecimento ilícito de famílias; descaminho de bens do município; e uma cultura de improbidade alastrada que contamina quase a generalidade dos agentes políticos.

 

A renúncia de Luceninha está situada no contexto de uma cidade bela cujo povo não tem o controle de seu destino. Ele é um homem fraco, incapaz de dá conta da missão que buscou apoiado em sua simplicidade sedutora e em meio a desesperança coletiva. Ele foi vítima não inocente de uma confraria que ele mesmo ajudou a consolidar e pela qual chegou ao poder. Só não esperava que tão cedo ela o botasse prá fora, se se metesse a contrariar seus interesses mais subalternos, ou querer livrar a própria cara sozinho. A cumplicidade matou um dos cúmplices, para puder sobreviver com outros. É uma podridão imensa, um tumor apustemado e grande, que pode ser estourado a qualquer tempo. E precisa. Voltarei ao assunto.

 

Este artigo integrará o futuro livro:

‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’

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