Em balanço da Copa, Valcke isenta Fifa de culpa no escândalo dos ingressos

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A entrevista coletiva de avaliação da Copa do Mundo no Brasil foi marcada por sentimentos diversos. Do lado brasileiro, era indisfarçável o alívio pelo sucesso do evento fora de campo. Entre os representantes da Fifa, o presidente Joseph Blatter só tinha motivos para sorrir: respondia com satisfação às perguntas sobre o bom nível do futebol apresentado no torneio, e repassava para o secretário geral, Jérôme Valcke, as questões mais delicadas. Sempre sério, o homem de confiança de Blatter pouco participou da entrevista, mas foi dele a missão de falar sobre o esquema de venda ilegal de ingressos, por valores superfaturados, liderado pelo franco-argelino Mohamed Fofana e com participação do CEO da Match Services, Raymond Whelan, que se entregou à Justiça nesta segunda-feira.

Ao ser questionado sobre o problema, Blatter implicou com a palavra corrupção, usada na pergunta, e logo passou o tema para Valcke.

— Quando você fala de corrupção, precisa apresentar evidências. Se você diz que existe algo errado na venda de ingressos, aí está certo, mas não corrupção. Sobre esses problemas, eu passo a palavra para o secretário Jérôme Valcke — disse Blatter.

Valcke garantiu que a Fifa tem interesse em esclarecer o problema, e que a entidade só vendeu ingressos pelo valor estipulado no próprio bilhete.

— Nós da Fifa, e isso tem que ficar claro, vendemos todos os ingressos com valor de face. Mas há três milhões de ingressos fora do sistema da Fifa, eles passam por outras partes, parceiros comerciais, e são vendidos a eles pelo valor de face. Mas não sabemos o que eles fazem com esses ingressos, e é contra isso que estamos brigando. Se não vão usar, têm de devolver, não importa se é um ingresso normal ou de hospitalidade. Mas não se pode dizer que não estamos brigando contra isso, na África do Sul (em 2010) também houve pessoas presas. Nunca dissemos às autoridades que não vamos colaborar, sempre vamos dar as informações necessárias — afirmou Valcke.

AVALIAÇÃO POSITIVA

Perguntado sobre a avaliação do Mundial de 2014, em comparação com o de 2010, quando ele deu nota 9 para a África do Sul, Blatter fez um balanço positivo.

— Minha nota é 9,25. O Brasil melhorou em relação à África do Sul, mas perfeição não exite, por isso não é possível dar dez — afirmou o dirigente, embora a tradução oficial da Fifa tenha se atrapalhado com os números, anunciando 9,95, confundindo muitos jornalistas.

— Esta foi a minha décima Copa, a quinta como presidente. Foi uma Copa muito especial, pela qualidade do futebol, a intensidade dos jogos, um futebol ofensivo desde o início, não houve um só jogo que não tenha sido disputado com intensidade — comentou.

Mas Blatter não aprovou tudo. A escolha de Lionel Messi, por exemplo, não teve o aval do presidente da Fifa.

— Devo ser diplomático ou devo dizer a verdade — brincou o dirigente, quando perguntado sobre a eleição do argentino, escolhido pelo grupo de estudos técnicos da Fifa, e não em votação dos jornalistas, como nas Copas anteriores. — Confesso que fiquei um pouco surpreso ao ver Lionel Messi subindo a tribuna para receber o troféu.

A Copa de 2014 deixou marcas positivas em campo, como os 171 gols marcados, igualando o recorde da França-98, e os 3.429.873 torcedores presentes aos estádios nos 64 jogos da competição, a segunda maior audiência da história, atrás apenas da Copa de 94, nos Estados Unidos. O Mundial do Brasil teve média de 53.592 pessoas por partida nas arquibancadas, com ocumpação média de 98,4% da capacidade dos estádios.

O ministro do Esporte, Aldo Rabelo, ressaltou o clima de pessimismo que antecedeu o evento, em contraste com a organização bem sucedida. Ele lamentou a morte de dois jornalistas argentinos, ambos em acidentes automobilísticos, em Minas Gerais e São Paulo, e pediu desculpas às famílias. Na ausência do presidente da Fifa, José Maria Marín, que também preside o Comitê Organizador Local, Rabelo também falou sobre o desempenho da seleção.

— O Brasil precisa repensar o que fazer para se recuperar e se preparar para a Copa de 2018, na Rússia.

Sobre o próximo Mundial, Blatter anunciou que em setembro haverá uma reunião da Fifa com o comitê organizador russo para discutir, entre outras coisas, a quantidade de estádios, que será entre dez e 12, número desejado pelos anfitriões.

— Hoje, o número de estádios está em 12, mas isso ainda será decidido posteriormente, não reunião com a Fifa — confirmou o diretor executivo do comitê organizador da Rússia-2018, Alexey Sorokin.

Mais do que a quantidade de sedes e estádios, a Rússia terá de se preocupar também com a receptividade da população aos turistas estrangeiros. Blatter enfatizou que está preocupado com casos de racismo e discriminação no futebol. Perseguições de torcedores de clubes russos a jogadores negros, e a recente lei do país contra propaganda e manifestações favoráveis aos homossexuais ligam o sinal de alerta na entidade.

— Temos que combater o racismo e a discriminação. Ontem (domingo), eu conversei com (Vladimir) Putin (presidente da Rússia) e insisti que na próxima Copa do Mundo teremos que combater esses problemas — disse o presidente da Fifa.

O Globo