Eleição na capital foi pontuada por reviravoltas

Nonato Guedes

“Um pleito atípico”. É como agentes políticos e analistas da imprensa definem o processo travado na disputa pela prefeitura municipal de João Pessoa este ano. No início da corrida, revezavam-se na liderança o ex-governador José Maranhão, do PMDB, e o senador Cícero Lucena, do PSDB. Luciano Cartaxo, do Partido dos Trabalhadores, despontava num distante terceiro lugar, e em posição inferior vinha a candidata do PSB, patrocinada pelo governador Ricardo Coutinho, a jornalista e ex-secretária de Planejamento Estelizabel Bezerra. Depois de algum tempo de polarização, Maranhão e Cícero foram perdendo terreno, enquanto Cartaxo avançava velozmente. Apoiado pelo atual prefeito Luciano Agra, sem partido, e contando com o ‘feeling’ político do candidato a vice Nonato Bandeira, que desistiu da candidatura própria para se compor com ele, Luciano venceu resistências internas no PT, onde uma corrente era favorável à aliança com o PSB em torno de Estelizabel e atraiu dirigentes do partido no primeiro turno. Neste segundo turno, coroou a estratégia de campanha, trazendo para o seu palanque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de uma gigantesca manifestação no populoso bairro de Mangabeira.

A derrocada de Maranhão foi um dos fatos de relevância da campanha, que contou com sete postulantes no primeiro turno. O ex-governador caiu vertiginosamente nas intenções de voto e, no resultado final do primeiro turno ficou em quarto lugar, abaixo de Estelizabel Bezerra, neófita na disputa de mandatos políticos. Cícero Lucena, que lutou com desvantagem, sem o reforço de estrelas maiores do PSDB e até com dificuldades financeiras para tocar a campanha, logrou dividir com Cartaxo o segundo turno, mas passou a colecionar índice acentuado de rejeição com a reedição de denúncias sobre a “Operação Confraria”, desbaratada pela Polícia Federal em 2005, versando sobre desvio de verbas públicas na gestão de Cícero na prefeitura. O candidato tucano, que contou com manifestação de apoio do senador Cássio no Guia Eleitoral, teve que se justificar sobre as denúncias de envolvimento na Operação Confraria e tentou se contrapor insinuando ligações de Cartaxo com políticos petistas condenados peloSupremo Tribunal Federal por envolvimento no caso do mensalão. Cartaxo manteve-se como candidato ‘teflon’ perante boa parte do eleitorado, e beneficiou-se, também, da circunstância de possuir uma baixa rejeição nas pesquisas.

Colateralmente, Cartaxo tirou proveito de realizações positivas da administração do prefeito Luciano Agra, esquivando-se de responder, contudo, a denúncias feitas por adversários sobre supostos escândalos na gestão atual. Com a passagem para o segundo turno, o candidato petista herdou apoios de deputados e lideranças políticas do PMDB e de outros partidos que ficaram de fora do processo. O ex-governador José Maranhão, que teve Cartaxo como vice quando assumiu o Palácio da Redenção por via judicial em 2009, em face da cassação do mandato de Cássio Cunha Lima, declarou posição de neutralidade no segundo turno, embora assediado tanto por Cícero como por Luciano. Justificou que havia feito críticas aos dois postulantes no primeiro turno e cometeria uma incoerência se recomendasse um ou outro, preferindo deixar que o eleitorado deliberasse livremente sobre a “melhor escolha” para a prefeitura da capital.

Situação complicada também foi enfrentada pelo governador Ricardo Coutinho, que é natural de João Pessoa, onde construiu a sua trajetória política como vereador, deputado estadual, prefeito por duas vezes, e obteve apoio na eleição ao governo do Estado em 2010. Depois de ter renegado a candidatura de Luciano Agra, com quem passou a ter um relacionamento de hostilidade, Ricardo enfrentou outra baixa, com a deserção de Nonato Bandeira, seu fiel escudeiro e ex-secretário de Comunicação Social, que se tornou aliado de Cartaxo e abiscoitou a vaga de candidato a vice-prefeito na sua chapa. Sem fichas no jogo, o governador declarou que iria justificar o voto no segundo turno, ausentando-se de João Pessoa para compromissos não revelados. Foi o governador o principal mentor do lançamento de Estelizabel Bezerra, que demonstrou preparo e conhecimento sobre os problemas da capital nos debates de que participou. O esquema do governador avalia que, de qualquer forma, Estelizabel teve um bom desempenho, chegando em terceiro lugar no primeiro turno. A ex-candidata deverá ser aproveitada numa secretaria de Estado, conforme já adiantou o chefe do Executivo. Anteontem, Ricardo Coutinho reuniu prefeitos eleitos pelo PSB e PSD do vice-governador Rômulo Gouveia, no Palácio da Redenção, para discutir a celebração de parcerias administrativas. Ele garantiu que não vai discriminar cidades governadas por adversários políticos, colocando, acima de tudo, os interesses da população paraibana. “O governador não vai penalizar nenhuma cidade por questões partidárias”, reitera o vice Rômulo Gouveia.