Por Roberto Cavalcante
Ao longo da semana que antecedeu o domingo decisivo, mobilizamos equipes e operacionalizamos as questões técnicas. O essencial já estava garantido: como canal independente, com cem por cento da programação produzida pelo Sistema Correio, a RCTV não precisaria quebrar contratos nem invadir a grade nacional para levar ao povo paraibano – lance a lance – o espetáculo democrático em um dia histórico.
Preparamos-nos para um show.
Faltava, apenas, combinar com os atores – gente escolhida pelo próprio povo para nos representar no palco legislativo.
O que os paraibanos assistiram, porém, foi um episódio lamentável – um dos piores já produzidos pela política deste Estado.
Em cena, denúncias de suborno, traições, desrespeito – canastrices inesperadas para o gabarito dos atores.
Verdade que alguns (poucos) souberam manter a elegância.
No geral, porém, o plenário descumpriu a essência do parlamento: o respeito ao contraditório.
O que se assistiu, na verdade, foi um show de desrespeito e de disputas fratricidas. O Legislativo paraibano virou palco onde ninguém se entende e ninguém tem razão.
Saiu de cena o argumento e se instalou a radicalização.
E embora seja profundamente constrangedor reparar em atuações tão indecorosas – posto que sou amigo dos 36 deputados presentes no plenário – a audiência haverá de concordar: imagens saem arranhadas do picadeiro parlamentar.
O show que preparamos não era, definitivamente, para mostrar as vísceras do Legislativo paraibano.
Não nos preparamos, por exemplo, para assistir, em tempo real, violações do sistema eletrônico da Casa de Epitácio Pessoa.
O ato, que redundou na votação por cédulas para a escolha da Mesa Diretora que comandará a Assembleia Legislativa no próximo biênio, agrega uma consequência desastrosa: o patente descrédito político na urna eletrônica.
Esta é a mensagem – claríssima – que ficou do domingo em que o plenário virou palco de um espetáculo de gosto duvidoso: os eleitos pela urna eletrônica não confiam nela.
E se tem uma classe que tem obrigação de testemunhar a confiança da urna é a política.
Mas, se confiassem, não teriam danificado o sistema.
Ao fazê-lo, colocam em xeque o sistema eleitoral brasileiro. E produziram, no imaginário popular, um questionamento inquietante:
Se eles – que foram eleitos pelo voto eletrônico – não confiam no sistema, podemos nós, eleitores, confiar?
*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.