Talvez por isso, a artista tenha topado se juntar ao grupo sinfônico SaGRAMA, o quarteto de cordas Encore, o baterista Tostão Queiroga e o sanfoneiros Beto Hortis e Marcelo Caldi, para reler a obra de Gonzagão sobre arranjos orquestrados inéditos. Com direção geral de André Brasileiro e sob regência do maestro Sérgio Campelo, o show abriga diversas influências teatrais que Elba Ramalho resgatou da década de 1980, ao recitar entre as canções trechos de poemas de Newton Moreno e João Cabral de Melo Neto.
“Interpretar foi ideia da direção, que me apresentou belos textos do pernambucano Newton Moreno, bem entendido de Gonzagão. Decidi incluir o João Cabral porque ele também tem a essência de Gonzagão, dialoga muito com ele. É ótimo porque há mais de 20 anos não praticava esse lado atriz nos shows, que deixei em Pernambuco numa curta carreira por lá, mas que tornou o espetáculo uma catarse; o público fica em pé várias vezes para aplaudir”, diz Elba.
Somado a isso, o palco é abastecido por um cenário simples, sustentado basicamente por um jogos de luzes e rodeado de adornos religiosos, como um estandarte com a imagem de Nossa Senhora, terços e véus, além de pontuais referências regionais explícitas em troncos de árvores, fitas coloridas e um chapéu de cangaceiro que reverenciam a imagem de Luiz Gonzaga. “Tudo isso eu uso na interpretação, que tornou o espetáculo muito mais emocionante. Em ‘Súplica Cearense’ normalmente uso um véu, como se fizesse uma oração mesmo”, completa a cantora.
No repertório, dividido entre atos que vão do rococó ao mar, Luiz Gonzaga ganha vida em clássicos como “Algodão”, “Sabiá”, “Que Nem Jiló” e “Assum Preto”. Como o próprio nome do espetáculo sugere, os afins do show são compostos por canções de um apanhado de artistas da MPB influenciados pelo Rei do Baião. Assim, Elba Ramalho aproveita os arranjos de cordas para repaginar canções como “Ciúme”, de Caetano Veloso, “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil, “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo, e “Chão de Giz”, de Zé Ramalho. “Tivemos uma sintonia tão boa que nem parece que eu fiz só cinco shows desta turnê. Desde os ensaios até agora, as cordas do Encore e o SaGRAMA parecem rejuvenescer clássicos da música brasileira”, diz.
Em uma realização da Natura Musical, sob idealização da produtora cultural e jornalista Margot Rodrigues, “Gonzaga, Cordas e Afins” foi visto por cerca de 7.000 pessoas em Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife e Curitiba. Apesar das duas últimas apresentações estarem programadas para São Paulo nos dias 25 e 26 de novembro, Elba Ramalho tem a intenção de levar a turnê para Europa no ano que vem. “É uma pena que este trabalho se perca em pouco tempo. Temo o problema da disponibilidade dos músicos, que trabalham em outros projetos e têm suas vidas, além da viabilidade financeira. Mas é algo que quero fazer por conta e vou planejar”, adianta.
Serviço. Elba Ramalho apresenta o show “Cordas, Gonzaga e Afins” no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro), hoje, às 21h. Os ingressos custam: Plateia I e II – R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia); Plateia III – R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia)