EILZO MATOS: ESPANTADO? INSULTADO? OFENDIDO? DECEPCIONADO?

ESPANTADO?  INSULTADO? OFENDIDO? DECEPCIONADO?
Não quero relacionar mais adjetivos. Prefiro os substantivos, lorpa e cretino. Assim classifico o romance “ZERO” de Ignácio de Loyola Brandão, o jornalismo e o teatro de Nelson Rodrigues, a literatice embotada de Dalton Trevisan. Uma pena que os autores e jornalistas letrados, todavia sem imaginação, e sem coragem de produzir com os recursos próprios da inteligência e os dados culturais que nos inserem na civilização, valham-se de subterfúgios lingüísticos, para descrever o mundo de suas dores e alegrias, a intensidade ou verdade de sua repulsa ao modelo de Estado, ao momento político, a sua perturbada e gananciosa busca da glória literária. Marcado pela violência, o modelo impõe alguns momentos em sociedades apunhaladas pela censura à liberdade de informação, ao exercício dos direitos do cidadão. Uma pena e uma vergonha: “vomitei a igreja, as proibições, os pecados, os medos, a sensualidade, as punhetas nos cinemas, as putas e tudo mais[…]”
Esse tipo de texto revela o autor não a sociedade, apenas o subterrâneo mais inferior da alma humana. A dele talvez. “Desempregado, José matava ratos num “cinema poeira” (chinfrim a condição humana) o nome mais brasileiro. […] escrevia para mim, para desabafar… que livro era esse, quem o leria? “  […]  retirou o  livro” de uma gaveta onde jogara os textos censurados no jornal”. É verdade que os fatos da literatura não nascem na nossa cabeça, vêm de fora, exprimem algo de situações sociais, das ínvias dissimulações, dos esconsos recônditos da frustração social, humana. Mediocridade erigida em pretenso “libelo crime-acusatório” − norma e praxe na situação-limite denunciada pelo representante do Ministério Público, num processo formal em fase de julgamento pela sociedade, representada pelo “conselho de sentença” do tribunal do júri popular.
Afinal, não é próprio dos jornalistas decentes, a criação, mas a divulgação dos acontecimentos admissíveis, esperados pelos consumidores conhecidos. O que traz o livro em questão é puramente matéria jornalística, não de todo imprópria à narrativa romanesca, todavia, mal colocada na reles trama criativa e cenográfica que intenta reproduzir situações típicas só entrevistas, intuídas e menos compreendidas. Está no corpo do livro “O Manifesto dos 1046” intelectuais e recortes de jornais laudatórios do romance vertido e coreografado em dança, etc etc. Enfim não um livro, mas um painel de fatos escolhidos para impressionarem, valorizar o texto. Consta ainda “Um Dicionário Para os Tradutores”, explicando a língua, a gíria, etc. Para impressionar mesmo, a edição que tenho em mãos, (a capa dura rebrilhante em signos policrômicos, uma espessura de 01 milímetro, vazada num círculo, permitindo ver a página seguinte) traz foto com champanhe ao lado de estante com livros e um estrangeiro ao lado, fala de leituras do texto feitas na Alemanha. Textos em tcheco. Ämérica Latindia Amanhã. “Horreo” outra nota explicativa. Uma vitória da técnica da composição-editoração-impressão, com “Trecho de viagem a Viena”, “A Região dos Pombais, das Putas, ladrões, do Lumpen”, um glossário de “Terminologia Africana” – Caetano,Gil e Gal estavam no auge; de Torturas; outros termos. Momento especial.
Eis o complexo que o inspira: “o maior do mundo”. Sequóias, vulcões, lagos, ferrovia, fossa oceânica, Amazonas, etc. O que a literatura e a ciência política têm com isso?  EPÍGRAFE JORGE BEN JOR “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Em fevereiro (em fevereiro) Tem carnaval (tem carnaval), E por fim nome Cosmo com 10/elevado à potencia 76, anos luz, etc, galáxias, peso do sol, peso da Terra, peso de José. Edição piada mesmo.
Deve existir algo de marxismo-leninismo ortodoxo (infantil) ou menos entendido, nos moldes praticados pela Guerra Fria na raiz do pensamento de ILB. Despeito e ódio. A literatura cuida desses rancores em explosões do estilo e da linguagem. Desde os petróglifos de Altamira aos ideogramas chineses, chegamos aos momentos dos grandes confrontos humanos. Rive Gauche editora. Millôr Fernandes, único filósofo brasileiro em atividade, quando vivo, sentenciou: “Inácio de Loiola passou a vida pensando na sua obsessão. Algo como a luta de classes que é realizada entre a classe alta, a baixa e a média, e os salários seguem a mesma nomenclatura. (A quem se referia? (a Satanás ou a Cristo?)”
Mas é preciso convir que vivemos o “alvorecer da Era Norte-Americana […] Para entender essa época temos que entender os Estados Unidos, não só porque são tão poderosos, mas porque sua cultura se infiltrará no mundo e o definirá (como está acontecendo). Assim como as culturas francesa e inglesa foram definitivas em seus períodos de glória, também a cultura americana, por mais jovem e bárbara que seja, determinará o jeito que o mundo vive e pensa. Estudar o século XXI, significa estudar os Estados Unidos.  (apud alli et alii).
Não vejo ninguém no Ocidente usando burka e trajes do mundo muçulmano, mas o terno masculino e o vestido feminino, com apetrechos, que invadem aqueles territórios islâmicos. E no mundo inteiro a prática é a mesma. Arraigada é a crença de que os EUA se aproximam da véspera de sua destruição. Guerras, corrupção, tiroteios em universidades. O desastre está ali na esquina. Ilusório. Não é mais o que era. Senso de confiança solapado. Calotas polares etc.
Conheço de todas as sociedades (sem pesquisa e maior rigor analítico), na sua manifestação de opinião através da arte, desde litografias rupestres, escritas alfabéticas ou através de sinais, a revolta tanto mais clara na sua enunciação quanto mais ofensiva aos chamados direitos sociais, quer no Oriente que no Ocidente. E o homem busca ser compreendido e compreender. Essa história de chocar, ofender, contestar, existirá até o momento final do advento da razão no governo da sociedade dos homens. O mais é fruto do despreparo intelectual, da fraqueza do caráter, de patologia mental, psíquica, assaz conhecidas e comentadas, e igualmente rejeitadas como expressão do relacionamento humano.
Esta crise da coexistência nos conduziu ao modelo capitalista de sociedade, dita Imperialista, por Lênin, nesta fase superior do capitalismo, e apelidada de Global no sistema de mercado que nos impõe hoje regras e conceitos.
Arraigada é a crença de que os EUA se aproximam da véspera de sua destruição. Guerras, corrupção, tiroteios em universidades. O desastre está ali na esquina. Ilusório. Não é mais o que era. Portanto, A CULTURA NORTE-AMERICANA É UMA LOUCA MISTURA DE ESPALHAFATO EXULTANTE E UMA PROFUNDA TRISTEZA. Senso de confiança solapado  − poder militar e realidade geográfica. Calotas polares etc. Números: PIB14 tri. Mundo 54 tri. Segundo: Japao 4 tri. Petroleo 8,3, Russia 9,7, 10 Arábia Saudita. Economia terra, trabalho, capital. Marinha, Mares. Portugal, Espanha, Holanda, mercadorias. Rota da Seda, turcos. Guerra Fria, portos, EUA asfixiou, bloqueou. O controle dos oceanos, vantagem política do EUA. (apud alli et alii).
O que Ignácio pratica “É a abominação, a mediocridade literária de todos as épocas, mas, em particular, atualmente, que faz com que se acredite que para fazer um romance, basta uma historinha privada, sua historinha privada, sua avó que morreu de câncer, sua história de amor, e então se faz um romance. É uma vergonha dizer coisas desse tipo. Escrever não é assunto privado de alguém. É se lançar, realmente, em uma história universal e seja o romance ou a filosofia, e o que isso quer dizer.” (DELEUZE, GILES)  E continua:
[…]  É (tempo) pobre, e, ao mesmo tempo, não é angustiante. Me faz rir. Na minha idade, digo para mim: não é a primeira vez que há períodos pobres. Digo: o que vivi desde que tenho idade para me entusiasmar um pouco. Vivi a Liberação. A Liberação foi um dos períodos mais ricos que se possa imaginar. Descobria-se ou redescobria-se tudo, na Liberação. Tinha havido a guerra, etc. Não era pouco. Descobria-se tudo: o romance americano, Kafka, havia uma espécie de mundo da descoberta, havia Sartre, não se pode imaginar o que foi, intelectualmente, o que se descobria ou redescobria em pintura, etc. […]  É preciso entender coisas como a grande polêmica: deve-se queimar Kafka? É hoje inimaginável, parece um pouco infantil, mas era uma atmosfera criadora. (aqui, agora, o PT  quer censurar Monteiro Lobato). Então conheci o antes de 68, que foi um período muito rico até depois de 68, enquanto que, nesse entremeio havia períodos pobres. São normais, períodos pobres. Não é a pobreza que é incômoda, é a insolência ou a impudência daqueles que ocupam os períodos pobres. Eles são mais maldosos do que as pessoas geniais que se animam nos períodos ricos. […] São geniais ou obedientes, pois se fala da polêmica sobre Kafka na Liberação… Vi fulano de tal dizer, contente e rindo, que nunca havia lido Kafka. […] Claro, são contentes, quanto mais bobos, mais contentes. São os que consideram, voltamos a isso, que literatura é contar uma história pessoal. Se se acha isso, não é preciso ler Kafka. Não há necessidade de se ler muita coisa, pois se se tem uma escrita bonitinha, se é, por natureza, igual a Kafka. Não é trabalho. Como te explicar? Para falar de coisas mais sérias que esses tolos: fui ver, há pouco tempo, um filme…”
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