Efeitos da globalização sobre a vida humana

João Manoel de Carvalho

Talvez, o ex-ministro Delfim Netto tenha produzido um dos maiores libelos contra os efeitos da globalização no mundo a divulgar o excelente artigo intitulado “O mundo como ele é”, em recente edição do jornal Folha de São Paulo, que divulgamos com destaque na página internacional deste Semanário.

O autor é um nome inteiramente insuspeito para falar sobre temas desta magnitude por ter sido, além de um economista de dimensão continental, um partícipe e protagonista da vida pública brasileira e latino-americana, nos momentos mais críticos em que o processo global se consolidava em todo o mundo.

No seu excelente trabalho, Delfim Netto começa por responsabilizar uma avalanche do pensamento único, cujo codinome de guerra é “capitalismo” pela crise que se projetou sobre o mundo apoiada pelos Estados, que, no seu entender, foram corrompidos pelo dinheiro do sistema financeiro internacional.

Para ele, quebrou-se o equilíbrio entre a urna e o mercado, “que conduz, não linearmente, ao aperfeiçoamento civilizatório da “economia de mercado” – processo esse que se renova e se civiliza um pouco mais a cada crise que acomete o capitalismo.”

No seu entender, “a economia tem a seu favor o fato de que muitas de suas escolas nunca aceitaram as hipóteses dos mercados” perfeitos e capazes de se auto regularem, hipótese esta que produziu a tragédia que vivemos. E mais. Um punhado de economistas antecipou e chamou atenção para o que se armava em nome das inovações financeiras que iriam facilitar o desenvolvimento e diminuir os custos de transação.

Para o ex-ministro Delfim Netto, “é hora, portanto, de reafirmar que existem mesmo princípios econômicos e realidades insuperáveis. Por exemplo, que há uma troca permanente e incontornável entre o consumo maior e o investimento menor e a um emprego menor no futuro. Ou que é uma grande tolice tentar vilar as identidades da contabilidade nacional.”

Ele adverte que é preciso reconhecer que não há um modelo de equilíbrio geral do qual se possam extrair recomendações normativas que permitam classificar, a priori, como prejudicial ao desenvolvimento econômico qualquer medida governamental.

Ao mesmo tempo, Delfim sugere que não há nenhuma razão para supor que o Estado tenha sempre e necessariamente, um reconhecimento superior da realidade e que seja dotado da onisciência que recomenda sua onipotência e onipresença na economia.

No entanto, conclui que, quando se trata de política de desenvolvimento industrial, o Estado pode contabilizar melhor os efeitos diretos e indiretos de seu comércio.

Opinião diversa, mas não totalmente antagônica a Delfim Netto, o economista Octávio Ianni, autor do livro “A Era do Globalismo” assevera que, através da globalização, ressurge e alastra-se o racismo, agrava-se a questão social em escala mundial e abala-se a soberania dos Estados nacionais.