Polêmicas

Eduardo Cunha: ‘PMDB não quer mais cargos’

Josias de Souza

Brizza Cavalcanti/Ag.Câmara

Personagem da semana, o deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, deu entrevista ao repórter Diego Escosteguy. Disse que o PMDB “não quer mais cargos”. Definiu o blocão como “uma aliança sem líder” constituída de “partidos cansados de ser negligenciados pela articulação política do governo”. Acusou o PT de tramar uma “hegemonia sem precedentes”. E vaticinou um futuro amargo para o seu PMDB se o partido não reagir. “Viraremos o DEM do PT.” A íntegra da entrevista pode ser lida aqui. Abaixo os principais trechos:

– Fisiologismo do PMDB: …Abrimos mão dos cargos. A bancada do PMDB não indicará mais cargos no governo Dilma. Essa visão do PMDB como um partido meramente fisiológico, que vive mendigando cargos, tem muito de fantasia. É uma fantasia maniqueísta, que dá ao governo o falso argumento de que está, ao não respeitar a base aliada, apenas agindo eticamente, como arauto da moral, resistindo aos maus da política. Balela. Serve para justificar a incompetência do Planalto no diálogo com os parlamentares que deveriam, afinal, integrar um governo de coalizão. E para dizer: ‘O PMDB é assim mesmo, chantageia o governo até obter mais um ministério’. A gente não quer isso.

– Propósitos do blocão: O Blocão é uma aliança informal entre partidos cansados de ser negligenciados pela articulação política do governo. Alguns dizem que é uma costura feita por nós, do PMDB, para enfraquecer o governo. Não é verdade. É uma aliança sem líder. São partidos que têm uma reclamação generalizada em relação ao governo, mas que querem continuar na base, desde que sejam respeitados. Resolvemos nos unir porque não há mais alternativa de diálogo qualificado. O governo age como se os aliados fossem satélites sem importância.

– Hegemonia do PT:
 As eleições estão chegando, e os deputados perceberam que o PT, em coordenação com o Planalto, trabalha para conquistar uma hegemonia sem precedentes. Na ponta, o PT usa a máquina, explora programas do governo, como entrega de máquinas agrícolas e ônibus escolares. O deputado do PT tem informação privilegiada do governo e entregará a máquina no município de um deputado do PMDB. Isso produz enorme lucro político. Acontece em todos os ministérios, no país inteiro.

– O desespero: O PT elegerá 130 deputados em 2014, saindo dos atuais 87 – o que daria ao partido um tempo de TV recorde nas eleições municipais de 2016. …Se o PT aumentar a bancada, muita gente da base aliada percebeu que não voltará a Brasília no próximo ano. Se o partido tiver menos tempo de TV, nossos prefeitos correrão o mesmo risco em 2016. Bateu o desespero em todo mundo.

– A frustração: Não é questão de hierarquia. É questão do que é melhor para o partido. Há quatro anos, antes de fazer aliança com o PT, o PMDB era maior. Na verdade, a relação PMDB-PT ficará como ocorre com DEM e PSDB. Viraremos o DEM do PT. Um satélite do PT. É isso o que eles querem. O PT tem projeto hegemônico, de dominação completa do poder político. Por isso, sempre terá candidato a tudo, tenderá a ocupar todos os espaços. Isso já ficou claro. O PT não faz um projeto de parceria. É nesse contexto que surge o Blocão. O governo e o PT tratam os outros partidos da mesma maneira. Os deputados se revoltam contra isso.

– Fogo no circo? Claro que não. Vamos botar fogo no circo, se estamos nele? Não faria sentido. …Não aprovaremos projetos que causem impacto negativo nas contas públicas. Isso está preservado. Buscamos uma ação política para escolher temas que a gente possa apreciar de maneira independente, que nos ajudem a mostrar serviço para os eleitores. Mas o movimento da aliança – repito – é em reação ao projeto hegemônico do PT.

– Fator Temer: Michel Temer é aquele fiozinho que está arrebentando. Se não fosse a presença do Michel e ele ser uma figura de que a gente gosta, essa aliança tinha tudo para morrer agora. Se a aliança se mantiver, será mais por Michel do que por qualquer outro motivo. Isso não é bom para o partido. Não fizemos uma aliança para ser personalizada. A gente fez uma aliança achando que o PMDB estava entrando no governo. Engano. Não somos consultados a respeito de nada. O PMDB não participa de reuniões estratégicas. O Planalto só se lembrou da gente durante os protestos de junho, quando precisou de apoio. Ajudamos. Fomos leais. Mas eles não foram.

– Dilma Rousseff: Ela pode fazer o gesto do respeito político. Ter uma atitude equânime, de respeito a todos. Infelizmente, não acho que dê mais tempo de consertar o estrago político para a maioria dos deputados. Mesmo que o Planalto execute as emendas parlamentares que deveria, como, aliás, havia prometido, temos apenas três meses até que a lei eleitoral proíba o governo de gastar. Mas é possível, para Dilma, enfrentar o problema com respeito. Dialogar conosco.

– Ataques de Dilma: É, no mínimo, injusto. Se alguém teve um comportamento, como líder do PMDB, ajudando o governo num dos momentos mais difíceis do mandato dela, fui eu. Atuei para derrubar todos os projetos que tinham impacto fiscal. Não faltei com a lealdade em nenhum momento. Agora, você ser leal ou estar aliado não significa subserviência. Sou aliado, porém penso. Tenho opinião. Minha bancada pensa. Tenho de exercer o que a maioria de minha bancada pensa. É ela que me legitima. Tenho de ser respeitado por isso. O PT acha que pode tratar aliados com migalhas: dão as ordens, e os aliados têm de obedecer. Comigo, infelizmente, não é assim. Na visão deles, aliado que questiona ou debate vira adversário.

– Saudades do Lula?
 Muita. O tratamento do governo do presidente Lula com a classe política foi infinitamente melhor que o tratamento dispensado hoje.