E o povo que vá à...

Rubens Nóbrega

É bem verdade que a mesma coisa deve acontecer em muitos outros estados e cidades do Brasil, mas é particularmente impressionante o descaso ou a indiferença com que muitos gestores na Paraíba tratam os problemas do público que lhes paga da mordomia ao salário, além da pose e do status em alguns casos.
Caso exemplar desse tipo de atitude me foi apresentado esta semana pela médica Teresa Melania Véras, paulista radicada em João Pessoa há 12 anos, há mais de três empenhada em fazer com que a Cagepa resolva um problema tão prosaico quanto malcheiroso (em todos os sentidos), verdadeiro tormento para centenas de pessoas que residem ou trabalham na parte mais adensada do bairro de Miramar.
Moradora da Rua da Aurora, ela se sente extremamente incomodada e justificadamente revoltada porque nenhum órgão ou instância a que recorreu parece importar-se em dar solução ao rio de cocô que escorre permanentemente da rede de esgoto que passa na Rua das Acácias, tendo como ‘nascente’ um vazamento bem em frente ao Colégio Kairós. Os excrementos espalham doença e fedentina por toda a redondeza, aí incluído trecho super movimentado da Avenida Epitácio Pessoa, a maior da Capital.
Trata-se, antes de tudo, de um grave problema de saúde pública. Mas nem isso sensibiliza governantes e auxiliares responsáveis diretos por um transtorno dessa natureza. Tanto que a luta da Doutora Tereza por uma providência resolutiva vem desde o Maranhão III e já se estende há mais de um ano no Ricardus I. Na atual gestão, o próprio governador tomou conhecimento do fato e prometeu agir, mas nada fez até agora. Se ao menos considerasse que as vítimas são seus vizinhos…
Refiro-me ao fato de Sua Majestade morar confortavelmente ali perto, na Granja Santana, com todas as mordomias que o contribuinte é capaz de pagar e suportar, sem se dar conta de quão dispendioso é manter a primeira família naquela dacha. Por essas e outras, seguramente o monarca não dá a menor para a denúncia, sobretudo porque não é afetado diretamente pela podridão e certamente não se importa com a merda em que vivem, literalmente, a maioria dos governados, em especial os habitantes das ruas da Aurora e das Acácias.

Contato com o governador
Pra vocês terem uma ideia da batalha da Doutora Tereza e quem ela já acionou para estancar o caldo de bosta humana que desfila diariamente na avenida, vejam adiante todas as portas em que ela já bateu, inclusive levando abaixo-assinado que organizou e coletou junto aos moradores de Miramar. O relato é da própria denunciante, assim:
– Dirigi-me a todos os órgãos públicos do Estado, incluindo secretarias de Saúde do Estado e do município, vigilâncias sanitárias do Estado e do município, Secretaria da Infraestrutura do Estado (onde conversei pessoalmente com o próprio secretário, o Sr. Gadelha, ainda no governo de José Maranhão), Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Promotoria do Meio Ambiente (Ministério Público Estadual) e diretor responsável pelo setor na Cagepa. Tentei a imprensa e tive o desprazer de descobrir uma imprensa cúmplice do Estado e que não me deu a menor atenção.
Na sequência desses contatos e apelos, ela finalmente obteve o que pensava ser uma vitória, pelo menos parcial, por ter conseguido levar a questão ao conhecimento do governador Ricardo Coutinho. Vejam o que ela conta a respeito:
– Através dos meus conhecimentos, consegui enviar em mãos ao já então governador Ricardo Coutinho uma carta junto com toda a documentação pedindo socorro e providências. Recebi em abril do ano passado um ofício assinado por sua secretária particular, cujo apelido é Darley, prometendo solução em seis meses. Próximo do vencimento do prazo enviei em mãos nova carta ao Senhor Governador, lembrando tudo o que se passara até então, todas as entidades procuradas e reiterei a confiança na solução do problema. Sem nada positivo até hoje, venho conversando por telefone com a sra. Darley, lembrando-lhe o ofício que encaminhei e a promessa do governador, mas até agora só ouço lero-lero e as mais disparatadas desculpas.

 

Contato com a Cagepa
Encaminhei à Assessoria de Imprensa da Cagepa, cedo da manhã de ontem, um pedido de informações e esclarecimentos acerca do esgoto a céu aberto em que se transformou o leito da Rua das Acácias. Até o fechamento desta coluna, nenhuma resposta. Quando chegar, se chegar, será publicada.
Enquanto isso, é importante saber: a própria Companhia e a Promotoria do Meio Ambiente teriam reconhecido que a solução do problema exige investimento de vulto. Pois o que vem acontecendo resulta do “subdimensionamento da rede de esgoto e do crescimento imobiliário sem a necessária infraestrutura”, explica a Doutora Tereza.
Acrescenta que em conversa com “gente séria da Cagepa” foi informada de que o Estado já teria dinheiro do Pac (Programa de Aceleração do Crescimento) para fazer a obra, mas… Pois bem, conhecendo como são e estão as coisas na Paraíba, e em razão do sofrimento por que vem passando, ela teme que o destino dessa grana venha a compor mais uma história com o mesmo odor que ela e companheiros de infortúnio são obrigados a sentir diariamente.