Dunga: um retorno marcado por surpresas

foto

Nonato Guedes

Empossado há pouco tempo, depois de uma batalha judicial renhida que acabou reconhecendo a maioria de votos alcançada na disputa proporcional de 2010, o deputado estadual Carlos Dunga (PTB) retornou ao Parlamento experimentando um turbilhão de mudanças ou surpresas na configuração político-partidária do Estado, a partir da sua legenda. Quando o Tribunal Regional Eleitoral lhe deu ganho de causa na retotalização de votos e, consequentemente a cadeira titular na Assembléia, o PTB paraibano era comandado pelo suplente de deputado federal Armando Abílio. Nas últimas semanas, o bastão passou para o ex-senador Wilson Santiago, desfiliado das hostes do PMDB e que planeja concorrer a cargo majoritário em 2014.

O PTB ainda vai definir posição em relação às eleições do próximo ano. Tanto pode ter candidato próprio, como se insinua Santiago, como pode apoiar a reeleição do governador Ricardo Coutinho (PSB), ou formar com outras alternativas. Acostumado ao vai e vem da política, Dunga sintetiza: “Tudo é possível, amigo velho; tudo é possível”. Representante da região de Boqueirão e preocupado com problemas como a estiagem e suas conseqüências, a exemplo de dívidas contraídas por produtores rurais, a juros escorchantes, com bancos oficiais e privados, Carlos Dunga está teoricamente alinhado à base governista. Ele conversou com o governador Ricardo Coutinho, a quem encaminhou uma série de demandas de interesse dos municípios que representa. O chefe do Executivo prontificou-se a atender às reivindicações. “Tenho o dever de dar um crédito de confiança”, assinala o parlamentar.

A ligação política mais estreita de Dunga é com o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, reproduzindo a fidelidade que manteve ao poeta e ex-senador Ronaldo Cunha Lima. Afirma que ficará na expectativa de um posicionamento de Cássio para, só então, reunir o seu agrupamento e fixar posições quanto a 2014. Carlos Marques Dunga foi deputado estadual e federal, presidente da Assembléia Legislativa e chegou a ocupar, por seis horas, o governo do Estado, na fase de transição entre o governo Tarcísio Burity II e o governo Ronaldo Cunha Lima. Para ele, há um ambiente de agitação nos meios políticos, certamente em virtude da proximidade do pleito do próximo ano. Refere-se, por exemplo, à polêmica atitude do PPS e do PMN de se fundirem para o acúmulo de forças, tornando-se partido da Mobilização Democrática. Em paralelo, acompanha a movimentação de bastidores que ocorre em Brasília, onde aliados do governo de Dilma Rousseff manobram no Congresso Nacional para criar obstáculos ao surgimento de novas legendas.

Dunga não é necessariamente favorável à proliferação excessiva de agremiações, até por ser remanescente de um período em que as legendas eram poucas e tinham posições firmes, ora no espectro governista, ora no espectro oposicionista. “Partido demais termina confundindo o eleitor e dispersando ou pulverizando votos. Mas respeito as razões de quem quer que seja para tentar migrar rumo a outras siglas. Às vezes, há uma situação concreta de desconforto em determinado partido, e não há outro caminho senão pedir desfiliação”, argumenta ele. Como pano de fundo da indefinição no quadro institucional brasileiro, ele aponta o esvaziamento da representatividade dos partidos, possivelmente ocasionado pela eclosão do movimento militar de 64, que deixou um saldo de obscurantismo nas agremiações, desmotivou lideranças e afastou outras que tinham expressão e condições plenas de dirigir os destinos do país. “Infelizmente, ainda vivenciamos um sistema artificial. Não há doutrinas, não há princípios nem uniformidade de posições. Muitas vezes prevalecem interesses pessoais em detrimento do conjunto”, ressalta. Para ele, certas cúpulas partidárias são responsáveis por esse estado de coisas, devido à falta de empenho em dotar o país de um sistema efetivamente representativo das correntes da opinião pública. Aliás, Dunga chama a atenção para o desinteresse do eleitor. “A descrença do cidadão comum com a classe política e poderes públicos é um fato. Reclama-se muito da demora no equacionamento de pleitos que são apresentados e que poderiam ter uma solução mais rápida”, acentua o parlamentar. Ele assinala que, não obstante as limitações, está na Assembléia Legislativa para cumprir um mandato que lhe foi outorgado de forma legítima pelo eleitorado e usurpado na esteira de erros de cálculo de sufrágios. “Vou aproveitar esse período para continuar sustentando as bandeiras de luta que sempre empalmei, em defesa dos mais necessitados, dos que não são encarados com a devida atenção pelas autoridades competentes”, arremata o parlamentar petebista.