Dorgival: visão e pioneirismo

Rubens Nóbrega

Preparava-me ontem para escrever sobre realizações e pioneirismos de Dorgival Terceiro Neto na Prefeitura da Capital (1971-74) quando encontrei no i-meio o expressivo testemunho que reproduzo adiante.

Veio do Professor Gilvandro Rodrigues, que generosamente cedeu ao colunista essa oportuna homenagem reforçada por justo e necessário reconhecimento àquele a quem chama de “o maior prefeito de João Pessoa nos últimos 50 anos”.

Primeiro programador do primeiro computador da PMJP, instalado por iniciativa e visão do prefeito Dorgival, Gilvandro é o autor do texto que revela a seguir um pouco mais do exemplo de homem público que foi o ex-prefeito e ex-governador.

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Para mim, ele foi o maior prefeito de João Pessoa nos últimos 50 anos (só não digo 400 anos por não conhecer os anteriores). De qualquer forma, para avaliar um homem público é preciso comparar o antes e o depois.

Dorgival pegou a Prefeitura um verdadeiro pardieiro, a sede era quase um barracão e lá ele fez uma revolução. Primeiro Cadastro Imobiliário Municipal, primeiro Plano Diretor, primeiro computador, valorização do funcionário (antes fazia vergonha alguém dizer que era da Prefeitura).

Abriu a Beira-Rio, abriu a Miguel Couto que virou Terceirão, abriu o Retão de Manaíra, urbanizou as avenidas Cruz das Armas e Epitácio. Fez do Parque Arruda Câmara (Bica) um parque de verdade.

Relocalizou o Pronto-Socorro Municipal, que era ali no centro, perto do Ponto de Cem Réis. E um monte de outras coisas estruturantes, sempre pensando no futuro.

Organizou administrativamente a Prefeitura e fez do Planejamento uma função de governo. No primeiro ano, disse que não colocava uma pedra de calçamento numa rua até estruturar a PMJP e concluir o cadastro imobiliário. E assim o fez.

Também tomou decisões polêmicas, como fechar a Lagoa para fazer ali um Parque decente, num projeto arrojado que retirou carros e ônibus do anel interno. Muita gente não gostou e quando chegou um prefeito populista depois (o mesmo de antes), a Lagoa foi reaberta. Hoje a ideia parece estar de volta, mas o original vem dos anos 70, com Dorgival.

Tenho a maior satisfação de ter conquistado meu primeiro emprego público quando Dorgival Terceiro Neto era o Prefeito da Capital. Entrei por concurso público, juntamente com o amigo Marcos Ramalho, e juntos implantamos o primeiro computador da Prefeitura.

Detalhe: na placa de inauguração do Centro de Processamento de Dados da Prefeitura não tem nome de autoridade. Era uma característica de Dorgival. Não queria aparecer, abominava pompa e salamaleques. Dizia que a obra era da Prefeitura, não dele. Não teve assessor ou secretário que o convencesse a colocar o nome na placa.

Hoje, a regra é inaugurar placas com todos os nomes possíveis a homenagear, às vezes até antes de a obra ser concluída. Bem diferente do exemplo de impessoalidade deixado por Dorgival, bem antes de a impessoalidade ser consagrada princípio basilar da administração pela Constituição de 1988.

Por tudo isso e muito mais, resta agradecer e dar adeus ao grande homem que foi Dorgival Terceiro Neto. Obrigado, Prefeito. Descanse em paz. Que Deus o tenha.

Bebendo na fonte dos Ramalho

As realizações de Dorgival prefeito elencadas há pouco foram-me relembradas anteontem pelos Ramalho, os primos Marcos e Severino. Com base nelas escreveria o artigo que Gilvandro me poupou, em benefício dos leitores.

De qualquer modo, a conversa com Marcos e Severino Ramalho forneceu-me régua e compasso para traçar algumas curiosidades em acréscimo ao escrito que abre a coluna.

Começo pelo primeiro computador da PMJP. Foi um Bórus, na época o principal concorrente do IBM. Era bicho ruim de serviço que só funcionava a contento graças à competência e criatividade de Gilvandro e Marcos, que ainda concluíam seus cursos de Engenharia na UFPB, mas já arrebatavam os dois primeiros lugares do concurso de programador aberto pelo governo Dorgival.

A dupla, entre outras proezas, conseguiu rodar eletronicamente a primeira folha de pessoal da PMJP e imprimir boletos do IPTU progressivo criado por Dorgival após a conclusão do cadastro imobiliário que catalogou 90 mil imóveis por toda a cidade. O cadastramento foi feito por uma comissão de técnicos notáveis apoiados por estagiários selecionados entre estudantes da antiga Escola Técnica Federal (atual IFPB).

Até o velho Zé américo ajudou

Além dos corredores viários que Gilvandro citou, na conta de Dorgival os Ramalho botam também a Pedro II e a Rua da Barreira do Cabo Branco, aberta graças ao trabalho de convencimento que o então prefeito fez junto a todos os moradores das casas que tinham a frente voltada para a praia e aquele trecho como quintal.

Dorgival conseguiu com que todos doassem o pedaço encostado à barreira. Convenceu inclusive o mais ilustre dos moradores do Cabo Branco de então, o escritor José Américo de Almeida, que deveria ter suas restrições ao projeto, mas ao final cedeu e doou a sua parte. Não sem antes estabelecer uma condicionante ecologicamente correta: para abrir a nova rua, a Prefeitura deveria fazer replantio ou reflorestamento para compensar a perda das árvores derrubadas.

Foi assim que a cidade ganhou a nova via que desde então devolve à Beira-Rio os carros e ônibus de quem demanda Altiplano, Seixas e Penha passando pela Ponta do Cabo Branco, orlando a quase extinta Praça de Iemanjá, o Farol e a Estação Ciência.