Dilema de um jovem no xadrez da política

foto

Nonato Guedes

Wilson Santiago Filho nasceu no dia dez de agosto de 1989, em João Pessoa, em pleno ano da primeira disputa a presidente da República com o fim do golpe militar instaurado em 1964 e o transcurso da última eleição indireta no Colégio Eleitoral, que teve o respaldo das ruas, e que consagrou Tancredo Neves contra Paulo Maluf. Tancredo, que lutara pela redemocratização, justificava que iria ao Colégio Eleitoral para destruir o próprio veneno da cobra. Venceu Maluf com a adesão de uma Aliança Democrática, que indicou José Sarney, remanescente da ditadura militar, como vice. Tancredo morreu antes de subir a rampa do Planalto. Sarney tirou o mandato, tumultuado por uma crise econômica que tentou debelar com o Plano Cruzado mas não estancou o fantasma inflacionário. Em todo o caso, o país estava reconciliado com o Estado de Direito e os militares recolheram-se de volta aos quartéis. No ano em que Wilson Filho nasceu, Fernando Collor foi eleito presidente, sofrendo, em 92, um processo de impeachment.

Em 2010, Wilson Filho candidatou-se a deputado federal pelo PMDB paraibano, alcançando expressiva votação. Estava à sombra do pai, José Wilson Santiago, natural de Uiraúna, que fora deputado estadual, deputado federal e por 11 meses chegou a assumir o Senado, enquanto durava o impasse sobre a ascensão legítima de Cássio Cunha Lima (PSDB), o mais votado, porém, pendente de restrições legais derivadas da Lei Ficha Limpa. Cássio acabou investido no cargo e é um dos expoentes da bancada federal paraibana no Senado. O ex-senador Wilson Santiago retomou as funções na Defensoria Pública da Paraíba, mas tentou cavar espaços dentro do PMDB para um retorno triunfal em 2014, quer ao Senado, quer ao governo. Sentiu-se isolado pela cúpula paraibana, comandada por José Maranhão. Cogitou deixar o partido. Ontem, oficializou, em Brasília, seu ingresso no PTB, com a condição de assumir a presidência do diretório regional na Paraíba. O ex-presidente estadual do PTB, agora vice-presidente, Armando Abílio, suplente de deputado, diz que houve um acordo para que Wilson Filho se licenciasse da Câmara por alguns meses e ele fosse alçado ao mandato titular.

Wilson Filho não seguiu o pai, incontinenti, no ato de filiação ao PTB. Busca saídas jurídicas e políticas para trocar de sigla, mantendo fidelidade doméstica, sem prejuízo do mandato que conquistou e das bandeiras que empalmou, sobretudo, junto ao contingente jovem. Na Câmara, tem procurado se adaptar ao ‘múnus’ parlamentar. Acertou mais do que errou. Integra Comissões influentes que tratam de assuntos diferenciados. Defende causas de professores, enfermeiras, e abraçou a tese da implantação de uma Zona Franca no Semiárido nordestino, para redimir a região da desigualdade que sofre em relação a Estados mais competitivos. Tem até outubro para definir se troca de legenda, equivale dizer, ingressar no PTB, tornando-se o décimo oitavo parlamentar federal da agremiação trabalhista, que sonha chegar a 23 integrantes, até para dispor de força capaz de lhe assegurar espaço no Guia Eleitoral e acesso ao Fundo Partidário com vistas aos embates futuros, mais precisamente no próximo ano.

Interagi com Wilson Filho, ontem, após a filiação do pai, pelo Twitter e, depois, por telefone. Ele queria ouvir opinião sobre o rumo a seguir. Evitei tecer prognósticos. Debatemos alternativas que possam garantir seu futuro, e o idealismo que todo jovem possui. Disse ter confiado em mim por acreditar que eu tenha alguma vivência no acompanhamento da atividade política que pudesse lhe fornecer alguma indicação. Atalhei esse caminho, polidamente, devedor de atenções que lhe sou, desde quando ele compareceu ao lançamento do meu livro “A Fala do Poder”, na Livraria do Luiz, e, depois, mostrou-me, no Aeroclube, trechos marcados do exemplar, que ele estava lendo durante incursões aéreas por cidades do interior na campanha eleitoral de 2012. É um jovem que se preocupa com a voz rouca das ruas. Disse-me ter notado que a opção do seu pai por deixar o PMDB foi entendida na Paraíba, o que é verdade. Admite que tende a seguir o mesmo caminho, mas quer se cercar de garantias mínimas de que não será sacrificado no projeto que idealizou e ao qual busca corresponder. Despedimo-nos de forma cordial. O destino é seu. É Wilson Filho e suas circunstâncias. Mas foi marcante a manifestação de idealismo que ele passou, não fosse jovem como é, na idade, nas ideias, na vontade de acertar e no desejo de continuar na política. Encontrará a luz, com certeza!