Rubens Nóbrega

Se me fosse permitido dar um conselho aos deputados de oposição na Assembléia, diria a eles que é melhor deixar para instalar ou não a CPI do Jampa Digital após a conclusão das investigações sobre o caso pela Controladoria-Geral da União (CGU), Ministério Público da Paraíba e Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Evidente que uma CPI, para além de sua utilidade meramente política, é sempre válida na apuração de supostas irregularidades cometidas na administração pública. Mas é inegável que uma comissão com tal propósito terá muito mais força e respaldo se órgãos de controle e fiscalização como os citados realmente constatarem ilícitos no contrato entre Prefeitura de João Pessoa e a Idéia Digital.

Já pensou o peso do relatório de uma CGU confirmando que o negócio lesou o erário e ofendeu a moralidade pública? Já imaginou a dificuldade do imperador e do círculo íntimo da Corte para rebater um achado de auditoria do TCE? Alguém admite que o MP não venha a propor uma ação por improbidade administrativa contra quem for encontrado em culpa nesse caso?

Não vejo grandes dificuldades para tanto, pelo menos no que diz respeito à suspeita de superfaturamento na aquisição de equipamentos para o Jampa Digital. Como já mostrado nesta coluna, tem peça que na planilha de preços do contrato alcança uma diferença de mais de 1.600 por cento acima do preço de mercado. E isso é fato super determinado e determinante de uma CPI.

Sendo assim, uma vez comprovado que houve sobrepreço na aquisição e inadimplência na prestação dos serviços contratados e pagos, aí, sim, uma CPI sobre o Jampa Digital seria irrecusável e irresistível até mesmo pela base aliada do governador Ricardo Coutinho. Tanto na Assembléia como na Câmara de Vereadores da Capital.

Mas ainda assim é preciso ter muito cuidado com CPI. Primeiro para não desmoralizar o instrumento nem desgastar de vez a ferramenta; segundo, porque não é todo impossível que mais pra frente venha a público algo bem mais sério e bem mais grave, se é que isso é possível. E aí, já tendo feito uma CPI sem consistência nem consequência, a oposição teria moral para emplacar outra?


Conferindo a voz das ruas

Reza a lenda que ponderado assessor palaciano insistiu tanto que finalmente conseguiu fazer Ricardo Coutinho admitir, pela primeira vez, a possibilidade de nem todo o povo da Paraíba estar gostando do seu governo. “Deve ser uma coisa muito residual, muito localizada, de uns poucos que não compreendem ou não querem compreender o quanto o nosso governo está melhorando o Estado”, teria reagido Sua Majestade às observações do auxiliar.

Foi aí que o interlocutor do governante propôs inusitado tira-teima. Consistiria em Ricardo usar disfarce de pessoa do comum dos mortais para ouvir pessoalmente a voz rouca das ruas. Super confiante no seu taco, ele topou no ato e deu ordens ao costureiro real para providenciar-lhe fantasia de funcionário humilde do Estado.

Uma vez pronto e aprovado disfarce, não demoraria a ir ao encontro do povo para conferir o que andam falando alto pelos botecos e cafezinhos da cidade sobre a administração estadual. E foi.
Um discreto e atento ouvinte

Por onde passou, o monarca disfarçado de súdito ouviu poucas e boas e muitas, de todo tipo. Do arrocho no funcionalismo estadual às sucessivas denúncias sobre escândalos envolvendo compras e contratos fechados pelo governo, nada escapou à atenção daquele sujeito alto e magro que se aproximava das rodas de papo e nada falava. Só ouvia.

Três ou quatro horas depois, Ricardo concluiu sua missão no senadinho de um shopping do centro da cidade. Depois, despiu-se das vestes simplórias e se dirigiu à Granja Santana, onde o aguardava um mais do que ansioso assessor, doido pra ouvir as impressões reais sobre o contato com os populares.

– Camarada, como esse povo é mal informado, equivocado! – foi tudo o que disse o absoluto, para frustração do cara que esperava ver o governador reconhecer minimamente a procedência de críticas e reclamações da população.

 

‘DEBATE’ DOS SENADORES

Tentei, mas não consegui me manter acordado durante o programa ‘Assuntos de Estado’ transmitido anteontem à noite, ao vivo, pela TV Senado, tendo como entrevistados os nossos três senadores. Não que tenha sido tão enfadonho assim. É porque televisão é o meu sonífero. Se não for jogo do Vasco ou show de Roberto Carlos, durmo em meia hora.

De qualquer sorte, ainda aguentei uns quinze minutos. O suficiente para constatar que a TV Senado acertou na ideia, mas ainda precisa melhorar o formato, inclusive colocando apresentadores ou entrevistadores mais provocativos, no bom sentido. Quanto ao desempenho dos nossos representantes, nenhuma surpresa: Cássio e Cícero jactando-se do que fizeram ou dizem ter feito em seus respectivos governos no Estado e na Prefeitura da Capital e Vital Filho a todo tempo tentando roubar a cena e monopolizar a palavra. Mas… Valeu!