Desrespeito a Gonzaga

Rubens Nóbrega
Para minha tristeza e perplexidade, soube ontem, somente ontem, que no último dia 2 o escritor e jornalista Gonzaga Rodrigues, presidente da Academia Paraibana de Letras (APL), foi impedido de participar de reunião do Conselho Estadual de Cultura para a qual fora convidado por um membro do órgão.

O convite decorreu do fato de ele, além de presidente da APL, ser ardoroso defensor e proponente de belíssimas iniciativas culturais que a Paraíba deveria promover para reverenciar – até por que transcorre este ano – o centenário do ‘Eu e outros poemas’. Foi justamente para discutir o que fazer pelos cem anos da obra de Augusto dos Anjos que convidaram Gonzaga.

Quem convidou o Neguin (assim a intimidade e o carinho chamam Gonzaga) não foi à reunião. Motivo justo, pelo que soube. Se estivesse presente, contudo, dificilmente escaparia do constrangimento de ver um representante do governo usar argumento ridículo para barrar a entrada do nosso cronista maior na sala onde se reuniria o CEC (na Fundação Casa de José Américo, Cabo Branco, em João Pessoa).

A pessoa que atalhou Gonzaga no corredor disse-lhe que o assento reservado à Academia já estava ocupado. Não pelo representante designado pela própria Academia (o poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho), mas por um suplente “que entra na vaga de qualquer um que faltar”, explicou o inusitado porteiro barrador.

“Eu queria pelo menos a oportunidade de abrir a porta e botar a cabeça pra ver quem estava lá dentro, mesmo correndo o risco de levar um grito, como uma figura levou certa vez de João Agripino ao abrir inadvertidamente a porta do gabinete do governador. Pois é, Rubão, não tive direito nem a um grito”, comentou Gonzaga, bem humorado, pedindo-me para não nominar quem o convidou e quem o barrou.

Motivação política?

Não quero acreditar, mas não quero mesmo acreditar que o incidente aqui narrado tenha a ver com o fato de Gonzaga ser amigo de eventuais adversários do governador ou de ter sido destacado membro do Conselho Estadual de Cultura em governos passados. Seria muito pequeno, mesquinho, tosco, rude, grosseiro.

De todo jeito, considero inadmissível um tratamento como o descrito a alguém da importância de um Gonzaga Rodrigues, ícone e patrimônio da melhor literatura paraibana, além do paradigma que é como jornalista. Não quero acreditar que a história de perseguições, preterições e discriminações por injunções políticas tenha se repetido feito tragédia, nesse caso, em plena Casa de Zé Américo.

Não quero acreditar, juro, mas não posso descartar. Afinal, de um governo como esse que o equívoco das urnas nos impôs não duvido de absolutamente nada, mas de nada mesmo do que possa fazer. Muito menos de sua capacidade de impor ou induzir alguém a cometer por ele, em seu nome, tamanho desrespeito.

Acreditar e esperar

De qualquer sorte, não se tem notícia se o Conselho discutiu, resolveu ou encaminhou alguma coisa a respeito do centenário do ‘Eu’ naquele dia. Espero que sim. Espero que o Conselho não enterre a minha última quimera de ver o Governo do Estado homenageando Augusto dos Anjos com a qualidade e a dignidade que o poeta e sua obra merecem.

Do mesmo modo, acredito que ao saber o que fizeram com o presidente da Academia Paraibana de Letras o Conselho realizará também – ou pelo menos – uma sessão pública, aberta e muito especial com a presença de Gonzaga Rodrigues. Na condição de homenageado, para desagravá-lo.

MAIS UM NO ÍNDEX

O juiz Edivan Rodrigues, da 1ª Vara Criminal de Campina Grande, deve figurar na próxima atualização do Index Hòmo Prohibitorum girassolaico. Ele frequentou ontem o Twitter criticando aberta e acerbamente a falta de estrutura e viaturas no transporte de presos para audiências, serviço que cabe ao Estado fazer ou prover.
Depois dessa, vale também uma rezinha dos jurisdicionados do meritíssimo para que ele não venha a ser representado pela Procuradoria Geral do Estado nem afastado de suas funções por ter ousado reclamar da incompetência ou desídia do Ricardus I.

Tardio e insuficiente

Além de providenciado mais de um mês depois de instalada e configurada a seca no interior do Estado, o Plano Estadual de Gestão de Riscos e Respostas à Estiagem “não corresponde às reais necessidades do agricultor familiar paraibano”.

A avaliação é de ninguém menos que o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Paraíba (Fetag-PB), Liberalino Lucena, que desde o começo de março, se não me trai a memória fraca, vinha alertando para a ameaça de uma seca que já supera todas aquelas ocorridas nos últimos 30 anos.

Só lembrando: o Plano de título pomposo foi anunciado no dia 26 de abril último por Sua Majestade o governador Ricardo Coutinho, que esta semana decretou estado de emergência em 170 municípios paraibanos.