Descobrir que nem tudo está perdido, que resiste nesse meio alguém que ainda se importa em preservar valores como dignidade partidária e coerência política. Refiro-me ao ex-senador José Maranhão.

POR RUBENS NÓBREGA

Nem tudo está perdido

Rodo a lupa pela memória e não encontro um cisco de lembrança que me remeta a qualquer momento parecido com esse a que assistimos agora na Paraíba, onde alguns de seus principais agentes políticos transformam partidos e candidaturas em mercadorias sujeitas às mais explícitas e degradantes barganhas, além de movidas ao fisiologismo mais desavergonhado.
Diante de quadro assim tão deprimente, foi um alento descobrir ontem que nem tudo está perdido, que resiste nesse meio alguém que ainda se importa em preservar valores como dignidade partidária e coerência política. Refiro-me ao ex-senador José Maranhão, presidente estadual do PMDB, com quem mantive produtiva conversa sobre os últimos acontecimentos envolvendo a sua legenda.

Conversamos por telefone, a partir de uma ligação que me fez no começo da tarde para esclarecer algo que este colunista aventou na rádio CBN João Pessoa. Durante minha participação no programa do mesmo nome, entre onze e meia e meio dia dessa sexta, abordei as indefinições, articulações e fogo amigo que ameaçam o destino do PMDB nas eleições deste ano. Sobre um suposto posicionamento dele nesse processo, disse literalmente o seguinte: “Segundo informações que me passaram, o ex-senador Maranhão gostaria de compor com Ricardo Coutinho”.
Não fui terminante, peremptório, como podem ver. É para isso que serve o futuro do pretérito do indicativo. Usei o verbo ‘gostar’ naquele tempo por não ter uma informação consolidada sobre as reais intenções de José Maranhão, mas indicações de que ele estaria aberto a uma composição com o governador, permitindo ao PMDB participar da chapa do PSB com candidato a vice ou a senador ou ocupando as duas vagas em tese oferecidas por Ricardo aos peemedebistas antes de fechar com o PT.
“Todo o meu esforço é no sentido de preservar a candidatura própria”, garantiu-me Maranhão, apresentando argumentos que me convenceram de que ele realmente trabalha para o PMDB ter um candidato a governador para chamar de seu. Caso contrário, o sucedâneo do velho MDB de guerra não apenas se anula como opção perante o eleitorado paraibano, como não terá força alguma num eventual segundo turno para o qual a sua chapa majoritária não se classifique.

 

De volta pro aconchego

O vice-governador Rômulo Gouveia surpreendeu meio mundo ao anunciar ontem em João Pessoa o seu rompimento com Ricardo Coutinho, por ter sido preterido na formação da chapa majoritária do PSB. A vaga de candidato a senador, que o governador reiteradamente lhe prometera, foi entregue pelo mesmo Ricardo a Lucélio Cartaxo, do PT. Com essa, o escanteado volta de mala e cuia para o grupo Cunha Lima, do qual se projetou para a vida pública.


Quem está mentindo?

Surpreendente mesmo foi descobrir que a decisão de Rômulo desmente categoricamente aquilo que o governador afirmava 24 horas antes com tanta serenidade e convicção. Sua Majestade rasgou elogios ao pretenso desprendimento do seu vice-governador, que estaria abrindo mão da pré-candidatura ao Senado para ajudar o monarca a ampliar a aliança com que pretende reinar por mais quatro anos.
O anúncio da saída de Rômulo do esquema ricardista funcionou, portanto, como desmentido cabal e contundente da palavra do governador. O que coloca na cabeça dos governados uma inquietação muito séria, traduzida numa dedução bastante simples, mas inevitável: alguém está mentindo nessa história. Por essas e outras, trago mais uma vez a este espaço a máxima de um poeta amigo que costuma dizer: “Alguns mentirosos mentem tão convincentemente que acreditam naquilo que metem”.

 

Justiça seja feita!

Digno de nota e reconhecimento o trabalho do grupo especial de juízes e assessores que vem atuando no Judiciário Estadual para bater a Meta 4 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que é dar resolutividade aos processos contra agentes públicos que cometeram improbidade administrativa e/ou crimes contra a administração pública. Prova disso é que esta semana foi liberada a informação segundo a qual foram prolatadas mais 69 sentenças contra acusados de má gestão do patrimônio coletivo, entre eles 28 ex-prefeitos. Como se trata de decisão de primeira instância, imagino que poderão exercer direito à defesa.
Mas, independentemente de alguma das sentenças vir a ser reformada por algum tribunal, aqui ou em Brasília, é bom ver uma Justiça positiva e operante, “se bulindo”, como dizem lá em Bananeiras. Se não servir para justiça de verdade e definitiva, pelo menos nos dá a sensação de que se estreitam cada vez mais as margens de impunidade dos bacanas que ocupam cargos públicos e passam a se locupletar das disponibilidades e benesses patrocinadas pelo erário.
No caso das ações por improbidade movidas no âmbito da Justiça Paraibana, devemos a reconfortante impressão ao desempenho dos seguintes magistrados: João Batista de Vasconcelos, Jailson Shizue Suassuna, Fábio José de Oliveira Araújo, Diego Fernandes Guimarães, Claudio Pinto Lopes, Algacyr Rodrigues Negromonte, Manuel Maria Antunes de Melo, Keops de Vasconcelos Amaral Vieira Pires, Hugo Gomes Zaher, Aluizio Bezerra Filho (coordenador do grupo) e o desembargador Leandro dos Santos (gestor da meta).