Desastres em série

Rubens Nóbrega

O pedido de demissão coletiva dos procuradores que exerciam cargos de confiança na Procuradoria Geral do Estado colocou novos personagens de muito destaque no palco onde há quase dois anos é exibida aquela que tem tudo para ser a maior tragédia político-administrativa da história da Paraíba.

A peça em cartaz, estrelada por Ricardo Coutinho e grande elenco, conta a história de um governo que com frequência quase diária submete os seus governados a crises profundas em praticamente todos os setores vitais de atuação do Estado.

Na cena aberta da espetaculosa produção, o governo protagoniza desastres cotidianos, continuados, mostrando ser grande detentor de certo talento esférico de que tempos atrás me falava o filósofo Francisco Barreto. “Quem tem um talento desses, Rubens, onde bater rola”, dizia ele.

Assim, pode rolar na educação das escolas fechadas, das licitações escandalosas ou da repressão aos movimentos de alunos e professores por melhorias efetivas no ensino público.

Pode ser na saúde da milionária terceirização do Hospital de Traumas da Capital, onde o caos se instalou feito posseiro, como dizem a canção, o CRM, o Conselho Regional de Saúde, o Ministério Público, pacientes…

Pode ser na segurança pública, onde a boa vontade da cúpula não encontra receptividade na tropa crescentemente insatisfeita, insatisfação essa que responde em boa parte por nos mantermos entre os Estados mais violentos do país.

Graças a tamanho desassossego, surge espaço até mesmo para supostas ações de retaliação contra os superiores, como parece ter sido a recente apreensão do filho adolescente do secretário Cláudio Lima, sob a acusação até hoje não comprovada de que o rapaz estava fumando maconha em via pública.

O talento governamental manifesta-se também no tensionamento constante na relação com quase todos os servidores estaduais, em especial os quadros mais estratégicos e de carreira. E aí não importa que estiver no caminho. Os ‘zome’ patrolam funcionários e seus direitos e anseios, da Saúde ao Fisco, da Polícia ao Magistério.

Como se fosse pouco, a ‘qualidade’ da gestão pode ser sentida ainda na supressão de condições de trabalho e de fiscalização que levaram ao desmantelamento do Programa do Leite, da Defesa Agropecuária ou de projetos de como o Canal da Redenção.

A usina de problemas não para, contudo. Seus motores foram acionados até mesmo nas ações pontuais, a exemplo da pífia, tardia, incompetente e inconsistente assistência aos agricultores mais afetados pela seca.

Pra vocês verem uma coisa, os produtos gerados nessa usina são tão diversificados que incluem a falta de iniciativas e ações para recepcionar e distribuir as águas que reforçarão nossos rios e mananciais a partir da transposição do São Francisco.

Enfim, pra qualquer lado que se olhe, mantém-se atual e oportuna a sábia constatação em tom de advertência proferida por Doutor Barreto. Onde bater, rola.

Mas, como nada é tão ruim que não possa piorar, já dizia o velho Apparício Torelly, a propensão desse governo para causar angústias e aflições de toda ordem não poupa sequer a representação judicial do próprio Estado, onde agora acontece essa inusitada e surpreendente rebelião, embora de todo compreensível.

Afinal, a exoneração coletiva é resultado direto de uma administração calamitosa e, pelo visto, extremamente desrespeitosa no tratamento dispensado a alguns dos profissionais mais qualificados da Procuradoria Geral.
Todos em prol do Porto

Entidades, empresas e representantes políticos interessados no futuro do Porto de Cabedelo tomaram as ruas da cidade na manhã de ontem para protestar contra a falta de investimentos do Governo Federal naquela estrutura.

Café da manhã, discursos na Praça Getúlio Vargas, no centro, seguidos de uma carreata com buzinaço mandaram pra Brasília o recado de que a Paraíba não aceita mais o papel de eterna e resignada vítima de tanta discriminação.

Como revelado por organizadores do movimento, o nosso Estado foi contemplado recentemente com menos de 2% (R$ 107 milhões) dos recursos destinados aos portos do Nordeste através do Programa Nacional de Logística.
Nem tão TQQs assim…

Depois de dar o maior apoio à investida da Corregedoria Nacional de Justiça contra juízes paraibanos que supostamente resumem a jornada semanal aos dias de terça, quarta e quinta-feira, a Ordem dos Advogados do Brasil na Paraíba (OAB-PB) pediu ao Tribunal de Justiça do Estado que amplie o recesso de 19 deste mês para 18 de janeiro de 2013 (até aqui, o término está previsto para 6 do próximo mês).

A Associação dos Magistrados da Paraíba flagrou a ‘incoerência’ da Ordem e pediu ao presidente do TJ que mantenha o período já fixado. “Qualquer alteração ou remarcação de audiências (…) acarretará prejuízos, sobretudo, para os jurisdicionados”, observou ontem – e bem – o presidente da AMPB, juiz Horácio Melo.