Desafio do governador é reorganizar o seu partido

Nonato Guedes 


Embora haja um sentimento de otimismo da própria cúpula nacional quanto às chances de crescimento do Partido Socialista Brasileiro nas eleições este ano na Paraíba, inclusive em centros influentes, como a capital, o desafio que se coloca, desde agora, para o governador Ricardo Coutinho, líder maior da legenda no Estado, é o de reorganizar a legenda depois do embate eleitoral. O PSB enfrentou problemas, especialmente, em João Pessoa, reduto onde o governador sempre foi votado de forma expressiva. O impasse mais crítico envolveu o prefeito Luciano Agra, que em 2008 foi escolhido diretamente por Ricardo para seu vice quando concorreu à reeleição.

Agra sentiu-se ‘rifado’ na pretensão de disputar a reeleição, o que o levou, em janeiro, a emitir carta aberta ao eleitorado externando sua desilusão com o processo político e praticamente oficializando a saída do páreo. Na sequência, o prefeito estimulou movimentos de auxiliares e de aliados para provocar o seu retorno ao quadro de postulantes. A articulação, ao invés de sensibilizar, irritou o governador, uma vez que ele já havia conduzido a operação que resultou no lançamento de Estelizabel Bezerra, ex-secretária de Planejamento da prefeitura municipal. Estelizabel foi apresentada no figurino de candidata, inclusive, durante evento a que compareceu o presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mesmo assim, Agra não demonstrou qualquer intenção em sufragar Estela ou se envolver na sua campanha. Ele estimulou a candidatura do jornalista Nonato Bandeira (PPS), que, no entanto, não decolou em pesquisas de opinião pública.

Diante das fissuras criadas no âmbito socialista e da derrota sofrida para Estelizabel em prévia interna, Luciano Agra resolveu protocolar o pedido de desfiliação da legenda e, ato contínuo, anunciou o seu apoio ao deputado estadual Luciano Cartaxo (PT) que adotou Nonato Bandeira como candidato a vice. O atual prefeito tem planos de militar na política, no futuro, e sinaliza com a perspectiva de concorrer em 2014. Suas relações com Ricardo estão definitivamente rompidas. Eles sequer se cumprimentam, como foi constatado durante cerimônias póstumas em homenagem ao poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima.

Além do “complicador” Agra, o governador viu-se às voltas com o desalinhamento do vereador Ubiratan Pereira, que entrou em rota de colisão com o Palácio da Redenção por solidariedade a Luciano Agra. Ubiratan Pereira teve negado o registro de sua candidatura à reeleição, mas, desafiando a decisão da cúpula, recorreu à Justiça Eleitoral e se inscreveu para concorrer a um novo mandato. Na Assembleia Legislativa, o governador enfrenta dificuldades na base aliada, envolvendo inúmeros outros partidos, para aprovar matérias que considera imprescindíveis. Ainda agora, vem se empenhando para aprovação da contratação de um empréstimo cuja finalidade seria a de promover o saneamento da Cagepa, evitando que a estatal de água e esgotos seja privatizada. Ele fez apelo nas últimas horas para que o interesse público dos deputados, inclusive de oposição, prevalecesse acima de picuinhas políticas ou partidárias. Mas é no fortalecimento do PSB que Ricardo precisará investir todas as energias, acatando a orientação nacional para a expansão da legenda com vistas à disputa presidencial de 2014, quando os socialistas tentarão exibir cacife ou musculatura para colocar na mesa de negociação com outras legendas, inclusive o PT.