A democracia derrotou o autoritarismo na sessão da Câmara que sepultou a proposta de restabelecer o voto impresso nas próximas eleições. Seriam necessários para sua aprovação 308 votos de um total possível de 512, uma vez que o presidente da Câmara só vota em caso de empate. O placar foi de 229 a favor e 218 contra.
64 deputados faltaram à sessão ou preferiram não votar. Um, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), absteve-se. Pouco importa, assim, que o presidente Jair Bolsonaro, o pai do voto impresso, tenha obtido mais votos no cômputo geral – ele perdeu. Colheu até aqui sua mais fragorosa derrota no Congresso.
Mas o resultado, se lido ao pé dos números, mostra também que ele tem o que comemorar, e não só porque as pitonisas diziam que o voto impresso seria derrotado por larga margem de votos e erraram. A aprovação da abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro foi para as calendas gregas.
É o Senado quem cassa ou não o mandato de um presidente da República. Mas isso só acontece se a Câmara, por um mínimo de 342 votos, autorizar. Há pedidos de mais para a abertura de um processo de impeachment contra ele, e votos de menos para aprovar um deles. De resto, a oposição finge querer, mas só finge.
A oposição disposta a votar em Lula torce para que Bolsonaro dispute com ele o segundo turno. Seria, nos seus cálculos, o candidato mais fácil de derrotar. Bolsonaro torce para enfrentar Lula porque pensa a mesma coisa. O que ele mais teme é que um candidato do centro lhe roube o lugar.
O candidato nem Bolsonaro nem Lula ainda não deu as caras, mas há tempo para isso. A de Bolsonaro é uma sucessão aberta. De mais a mais, no Brasil, tudo pode acontecer, inclusive nada, como disse um dia Marco Maciel, ex-governador de Pernambuco e vice-presidente da República durante o governo Fernando Henrique.