Pastor Everaldo (PSC), abriu nesta terça-feira a série de sabatinas promovida pelo Jornal O Globo com os quatro principais candidatos à Presidência da República, no museu de arte do Rio (MAR), com perguntas feitas por colunistas do jornal e contribuições enviadas pelos leitores no Twitter. O candidato, mesmo defendendo “um Estado laico”, afirmou ser contra a educação sexual em escolas e contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Ele defendeu ainda que “toda a civilização está baseada nas relações heterossexuais”. Mesmo diante de uma eleição improvável, o pastor afirma que “acredita em milagres”.
Sobre um possível apoio no segundo turno à candidata Marina Silva (PSB), evangélica como Everaldo, o pastor disse que “é candidato até 5 de outubro” e disse que seu partido defende o Estado laico.
– Defendemos a liberdade, defendemos que o país seja um país laico – disse Everaldo – Sou contra partido evangélico.
Everaldo, que é a favor da desburocratização da adoção em seu programa de governo, se disse contra a realização dessa prática por casais homossexuais, mas declarou que “não discrimina ninguém”
– Eu acredito que, para uma criança, a adoção é por uma família do conceito que eu a tenho, homem e mulher. Eu estou, graças a Deus, num país democrático, num país laico, que eu tenho a liberdade de defender aquilo que eu acredito. Não discrimino não tenho intolerância com ninguém. Mas tenho os meus princípios e os defendo com liberdade.
FAMÍLIA E RELIGIÃO
Em outro momento, respondendo a uma pergunta sobre a diferença entre suas visões pessoais e a visão necessária a um estadista, ele afirmou que “toda a civilização está baseada nas relações heterossexuais”.
– Isso não é religião, isso é uma questão da civilização – justifica.
O pastor se disse ainda contrário à educação sexual nas escolas, defendendo que esse tema é reservado “para o pai e para a mãe”.
– Educação sexual é dentro de casa, da família – afirmou, contando que é favorável, por outro lado, à educação ambiental para as crianças.
Já sobre as religiões com raízes africanas, Everaldo afirmou que “não é intolerante” e que “respeita todas as pessoas” e citou o exemplo de um dos seus principais assessores, que segundo o candidato, é agnóstico.
– Respeito a todas as religiões. Cada um tem a sua fé e tem que ser respeitado.
Contrário ao aborto, o candidato diz que nunca concordará com a prática, mas que os hospitais públicos vão prestar atendimento a possíveis complicações causadas pelo procedimento, que é ilegal no Brasil.
– Eu defendo a vida desde sua concepção. Uma vida intrauterina e extrautrerina tem, para mim, o mesmo valor. A questão do aborto que aconteceu é um caso de saúde pública.
Everaldo, questionado se proibiria o álcool e o cigarro, afirmou que “não tem por que mexer” no assunto, mas ressaltou que “não vai ter mais legalização de droga nenhuma”.
– Eu, dependendo de mim, não vai ter legalização de mais droga nenhuma. Já chega dessas aí. Hoje, não tenho por que mexer. Eu não bebo cerveja, mas não tenho por que mexer. Qualquer legalização mais de droga não vai ter o meu acordo.
RELAÇÃO COM O GOVERNO
Everaldo defendeu, na sabatina, a renúncia imediata da presidente Dilma Rousseff (PT) por causa das denúncias de corrupção na Petrobras. Ele também lembrou o episódio do Mensalão.
– Nosso entendimento é que a atual presidente foi responsável por todo esse caos que está acontecendo na Petrobras. Não dá para admitir que a cúpula de um partido está na cadeia e são tratados como heróis pela atual presidente, pelo partido e até pelo ex-presidente. Lamentavelmente, ela [Dilma] deveria sair e agora, é minha opinião.
Perguntado sobre R$ 4.750 milhões recebidos para apoiar a candidatura de Dilma em 2010, se poderia ser comparado a um mensalão, Everaldo afirmou que a quantia é pequena.
– Essa quantia não dá para pagar o salário de alguns de vocês que estão aqui de tão pequena que é. A quantia foi dispensada, foi legalmente transferida para pagamento de despesa da campanha majoritária. Com transparência, legal, recebida. Bem diferente do mensalão, que foi caixa 2.
Prometendo acabar comparte dos ministérios, Everaldo foi questionado sobre o fato de seu partido ter se queixado de não estar à frente de nenhuma pasta do governo Dilma.
– Eu nuca fui governo. Nós fomos da base parlamentar. Nunca tivemos cargo e nunca reclamamos sobre isso. Nós fomos da base parlamentar e todas as matérias que eram de interesse da população brasileira nós votamos a favor.
Logo depois, ele recuou, alegando que o PSC foi convidado a integrar um ministério e isso acabou não acontecendo.
– Nós queríamos participar para implementar as políticas que nós acreditamos.
Everaldo, que já foi ligado à esquerda, foi perguntado por um leitor se sua mudança radical de posicionamento não significaria “oportunismo”.
– Como eu, a maioria da população brasileira acreditava nele [no governo]. Mas, da maneira como as coisas foram colocadas, nós mudamos de opinião. A nossa coerência é que nós sempre trabalhamos para a inserção social dos menos favorecidos neste país.
PETROBRAS
Perguntado sobre como iria privatizar a Petrobras, mesmo contando com pouco apoio no Congresso, Everaldo afirmou que “hoje o petroleo é nosso, mas a Petrobras não é nossa” e que “qualquer proposta que queira se fazer neste país tem que passar para o parlamento”.
Já os possíveis riscos de a maior empresa do país ficar sob o controle de um único grupo privado, o pastor minimizou, argumentando que a “questão tem que ser estudada”.
– É uma questão pensada. Venho falando isso há algum tempo e esta semana estorou e a única pessoa que respondeu fui eu. Monopólio, qualquer que seja, não presta. Temos que estudar sem quebras de contratos. Nós temos os funcionários, o parlamento brasileiro para estudar. Tudo tem que ser conversado. Hoje, a atual presidente só veio ouvir os jornalistas porque é época de eleição. Nós vimos que dez, quinze anos atrás a gente comprava um telefone e ficava cinco anos para ter a instalação. Hoje, qualquer um consegue.
FUTURO ELEITORAL
Com 1% das intenções de voto nas pesquisas, o pastor afirma que “acredita em milagres” ao ser perguntado sobre como encarava seu futuro nas eleições.
– Eu sou uma pessoa que acredito e creio em milagres, então trabalho nessa situação – afirmou Everaldo, citando uma passagem bíblica, sobre a morte de Lázaro.
– Eu estou trabalhando, estou fazendo a minha parte. Há 15 dias a eleição era uma. A comoção nacional mudou a eleição – analisa.
O candidato do PSC afirma que seu legado nas eleições é levar à sociedade uma discussão sobre o que ele acredita ser uma necessidade: o enxugamento da máquina pública.
– O que me preocupa é trazer uma discussão para a sociedade brasileira. Hoje nós temos um estado inchado, aparelhado.Estamos colocando em discussão coisas que eram tabu para a sociedade.
Everaldo atribuiu a esse “Estado inchado” as práticas de corrupção.
– A causa para a corrupção é esse estado inchado. O poder fica na mão de certas pessoas. Então temos que reduzir.
Em outro momento, ele afirmou que “se eu fosse olhar as pesquisas, cruzava os braços e ia para casa”.
VIOLÊNCIA
Everaldo prometeu a criação de um ministério da Segurança Pública e pretende integrar as forças policiais, se eleito.
– Não existe condição de trabalho isolado do Estado e do governo federal. Quando colocarmos em prática uma parceria de verdade. Vamos diminuir a entrada das drogas e essa prática que é a violência.
ESPORTE
Everaldo falou de investimentos para o esporte, principalmente o olímpico. Ele afirmou que é preciso “investir na base” e levar o esporte aos jovens. Ele prometeu uma programação esportiva no ensino fundamental básico e afirmou que, hoje, a construção de quadras poliesportivas é moeda de ” barganha políticas”
– Temos um evento daqui a 2 anos e a perspectiva de medalhas para nós são as mínimas possíveis – disse.
O candidato se comprometeu a cumprir o cronograma olímpico.
– Para as Olimpíadas, vamos fazer o que for possível fazer. Já está tudo elaborado e vamos cumprir o elaborado.
O Globo