Decretado o fim do regime de pão e circo

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Gilvan Freire

VIDENTECEGO – A revolução branca dos cravos começou. São os jovens impondo uma nova ordem ao país, fincando no território de todas as violências sanguinárias dos últimos tempos uma bandeira de paz, na maior de todas as desmoralizações impingidas aos poderes públicos do Brasil em todos os tempos. É o império da cultura da não violência, que empareda e rende os malfeitores de todas as áreas sociais, especialmente do setor público.

VIDENTECEGO – Ontem foi um dos raros dias da História do Brasil em que, em período de não guerra, o país foi defendido e amado como se estivesse sendo violentado pelas mais terríveis das guerras de dominação e cobiça. Ao final do dia, já se sabia que a bandeira e o hino triunfavam sobre os usurpadores, sem morte violenta e sem sangue humano escorrendo pelas avenidas ocupadas.

VIDENTECEGO – Noutros tempos, era preciso consciência política para mover uma revolução, coisa de militantes formados dentro dos partidos, obedientes a comando de seus líderes, ou, pelo menos, engajados nas organizações sindicais ou nos movimentos estudantis. Agora a consciência política é formada longe da política, até contrária a política, inspirada num patriotismo sem patriotada e num civismo não escolar chamado brasileirismo – amor e devoção brasileira ao Brasil.

VIDENTECEGO – O país virou outro durante uma noite, e o que sobrou do velho Brasil são escombros de uma democracia conservadora que governava o povo de forma secular, trocando apenas os postos de comando e mantendo os mesmos métodos de dominação e abusos. Quem estiver ainda se mexendo entre as vítimas dessa mudança drástica e pacifica, apenas cumprirá tabelas, porque a obra revolucionaria não está terminada – uma revolução não termina sem ruptura da ordem dominante. De qualquer forma, o convencional já está deposto da administração pública e da democracia brasileira.

VIDENTECEGO – Governantes e líderes políticos de todos os gêneros de poder já sabem que estão vencidos pelo mau uso e pelas práticas que não levavam em consideração a opinião do povo. Tudo está dito agora pela voz dos jovens do país, com aval absoluto do resto da população. Ninguém precisou da opinião de um líder notável para ir às ruas, recuar ou caminhar e voltar pra casa. Só os famosos ‘líderes da nação’ estiveram proibidos de sair as ruas e falar. Foram submetidos ao toque de recolhimento e de silêncio. Eita punição! Logo eles, acostumados a subestimar o poder do povo!

VIDENTECEGO – Desmantelou-se o sistema de poder tradicional que podia tudo com dinheiro público. Que esqueceu de distribuir entre os contribuintes os benefícios gerados com as contribuições, e fez da economia uma arte de prosperidade dos grandes negócios fomentados pelos bancos e empresas estatais, em detrimento da educação, saúde, transportes e segurança da população. Não sobra cacos dessa gente que afrontava a resignação do povo e desprezava seu grito de indignação.

VIDENTECEGO – O fracasso administrativo, moral e ético de partidos como o PT, é grandemente responsável pelo que se viu nas ruas, porque os jovens repulsaram a participação das bandeiras partidárias de melhor militância nos movimentos de outros tempos. Todas as cores desbotaram para que realçasse o branco, o símbolo de dureza branda que rompeu com o sistema de representação do povo que era feito através de delegados e entidades políticas. A nova democracia é direta mesmo, sem intermediários. Como na Ágora antiga, a discussão e o debate são feitos na rua. As instituições terão que cumprir.

VIDENTECEGO – Todo o aparate de poder dominante no Brasil foi reduzido à menor expressão. O projeto de reeleição para os cargos executivos, um dos maiores corruptores da democracia brasileira, possivelmente está moribundo. O culto à personalidade dos dirigentes, incensado com bilhões das verbas públicas direcionadas à mídia de sustentação dos governos, e os programas de escravismo eleitoral montados em cima do assistencialismo aos pobres e indigentes das regiões atrasadas, chegaram a exaustão. A presidentA, com o ‘A’ de apática, elevada à categoria de deusa pelos incensadores do poder, está se derretendo como objeto de barro. A era pão-e-circo faliu.

VIDENTECEGO – De pouco vale hoje a opinião dos meios tradicionais de mídia, esses que pensavam que podiam influenciar na formação de uma opinião pública nacional. Todos agora estão secundarizados, nem sustentam nem derrubam governos e nem vendem produtos de má qualidade. Essa por si só já é uma revolução extraordinária, sem precedentes. Foi instalada a Rede Povo, de propriedade coletiva da sociedade, conhecida de seus usuários livres como Internet. Essa domina a revolução dos jovens. Mas, para onde vamos? Depois eu penso.