A publicação original que acusou a repórter do Estado de tentar “arruinar” o governo de Jair Bolsonaro foi feita em um blog produzido por leitores do Mediapart. O texto, intitulado “Para onde vai a imprensa?”, foi publicado em uma seção do site chamada “Le Club”, uma espécie de fórum online no qual internautas podem manter blogs próprios.
A publicação do site francês foi citada pelo portal bolsonarista Terça Livre para dar tom de veracidade à informação falsa de que a repórter do Estado Constança Rezende teria declarado, em uma conversa gravada, ter a intenção de arruinar Bolsonaro. Os áudios divulgados no blog mostram que a repórter não falou isso.
No texto “Para onde vai a imprensa?”, Rhalib escreve que pediu a uma fonte, um estudante de uma “famosa universidade britânica focada neste tema” para entrevistar Constança. O blogueiro escreve que, na gravação, a repórter teria revelado que “a verdadeira motivação por trás da cobertura negativa da mídia é a de ‘arruinar’ o presidente Jair Bolsonaro e causar sua demissão”. A transcrição da “entrevista”, no entanto, não corrobora essa versão.
Rhalib também erra ao dizer que a divulgação dos documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) por jornalistas seria ilegal. O artigo 5º da Constituição Federal assegura o acesso à informação e resguarda o sigilo de fontes, quando necessário ao exercício profissional.
Outro site que espalhou a história foi o jornal americano Washington Times. Assim como a publicação no site francês, trata-se de um artigo de opinião, assinado por L. Todd Wood. No texto, o articulista repercute a “entrevista” como se a repórter estivesse falando algo conspiratório contra Bolsonaro. Wood também já escreveu artigos sobre uma suposta “agenda globalista” e sobre mudanças climáticas, que descreve como um “golpe” perpetrado por comunistas.
O jornal, que existe desde 1982, coleciona uma série de polêmicas em suas coberturas, com viés sensacionalista e acusações de ser um espaço aberto para ideias racistas, por exemplo.
Fonte: Estadão
Créditos: Alessandra Monnerat, Caio Sartori e Daniel Bramatti