De onde vem o voto nulo

Rubens Nóbrega

Esse negócio de pregar voto nulo teria começado no tempo do rei Luiz XV, que ao proferir a famosa frase “Aprés moi le déluge” (Depois de mim, o dilúvio), deixou bem claro que se não fosse reconduzido ao trono o mundo se acabaria, porque ninguém mais, além dele, prestaria ou serviria para governar a França.
Soube ontem, contudo, que a profecia de Luiz XV lhe foi soprada por Madame de Pompadour, a mais ilustre e ilustrada das amantes do imperador. Fontes da Corte garantem que o ‘sopro’ aconteceu durante comício na campanha eleitoral de 1712, ano em que Sua Majestade resolveu mudar radicalmente de práticas, convicções e de partido. Até de nome: decretou que, doravante, deveria ser chamado de Luiz LX.
Claro que a nova identidade pegou rapidinho, tanto quanto a frase real que se pretendia profética e no final revelou-se ameaça. Sobretudo entre as crias políticas do rei, seus bajuladores e bobos oficiais e oficiosos.
Os designados reais, em especial os que se candidatavam a algum cargo, passaram a disseminar a ideia segundo a qual tanto os nobres como plebeus deveriam votar nulo caso os candidatos do monarca não fossem eleitos, pois somente esses seriam os bons, os competentes ou avançados, quando na verdade e no máximo conseguiam avançar era no combalido erário do reino.
Ainda assim, não se pode dizer que Luiz XV, quer dizer Luiz LX, não tenha tentado mudar práticas e costumes do povo de sua vez, embora tenha fracassado nas reformas que intentou implantar. Fracasso atribuído, dizem, à arrogância com que governava e à truculência com que perseguia os recalcitrantes.
Como prova, reproduzo a seguir dois parágrafos da história de Luiz XV ou LX contada pela Wikipédia, a Enciclopédia Livre da Internet. Atentem bem para o que diz o texto.
• Luiz XV levou a cabo dura campanha de perseguição aos protestantes quando iniciou o seu governo. A política religiosa do rei provocou a oposição do Parlement de Paris, que obteve a dissolução da Companhia de Jesus (1764), mas, por outro lado, fracassou em realizar reformas.
• Em termos sociais, no campo os agricultores tinham baixíssimos rendimentos e os privilégios ainda eram pertença de uma minoria de nobres e do alto clero. O monarca propôs reformas fiscais relativamente a estes privilégios, mas de uma forma autoritária, o que veio a refletir-se negativamente, porque se voltaram contra si quer os privilegiados quer as facções contrárias ao absolutismo.
Por essas e outras, o reinado de Luiz XV, quer dizer, LX, teve vida curta. Não durou ao que corresponderia hoje a um mandato de quatro anos. Foi destituído pela força da vontade popular, num processo de mobilização de massas irreversível e irresistível que começou pela capital, Paris.
“Um grito perdido no ar”

O escritor Heron Moura, recifense da gema, morou e estudou Letras em Jampa (na UFPB), nos anos 70. Hoje é professor pós-doutor da Universidade Federal de Santa Catarina. A ele o e-farsas.com atribui uma frase que acho fantástica. Diz assim:
– O voto nulo não é eficaz como protesto. Na prática, seus efeitos são, como o próprio voto, nulos. Trata-se de um grito perdido no ar.
Outra boa, que peguei também no e-farsas.com: “Se o voto nulo resolvesse alguma coisa, seria ilegal!”.

De oncinhas, micos e futebol

Já o texto a seguir, bacana e criativo como o autor, é uma colaboração de um grande amigo.
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Prezado colunista, tive conhecimento que no primeiro turno o Ibama deu uma incerta num determinado comitê eleitoral da Capital, lá encontrando grande quantidade de oncinhas e micos-leões-dourados. Não sei se a informação procede, mas, se confirmada, será fácil saber a procedência dos animais.
Basta mandar que o mico ou a onça digam: “dois; Sport”. Provavelmente dirão: “doishh”; “Ishhport”, com a boca bem molhada. Daí…
Rubens, o guia eleitoral comprovou a velha máxima: todo político calça 40!
Como eu predisse no começo do ano, no nosso campeonato o Botafogo passou uma prise, atropelou o Flamengo, o Vasco e o Guará, e está na Grande Final contra o Flamengo, com jeitão de Campeão. Porém, não dá para comemorar, pois ainda não se ganhou nada. Só vale quando der a volta olímpica, com o “caneco” da cidade na mão. Aí, sim, “tanto tempo esperando, meu Deus, deixa eu festejar que eu mereço”, como nos versos da botafoguense Clara Nunes.
Minhas previsões foram mais acertadas que as da Mãe Diná. Previ, também, que o bloco Picolé de Manga, da dupla de frevistas Lucélio & Luciano, contando com os melhores passistas do bloco Girassol Não é Flor Que se Cheire, chegaria à praça da apoteose, no sambódromo de João Pessoa, em 28 de outubro. É ver para crer…
Só para encerrar: o Velho Buranha foi visto no consulado de Pernambuco, pedindo asilo. Dizem que ele estava telefonando para o deputado Luiz Couto…
Um forte abraço, Giordano Bruno.