De João Pessoa a Sucupira

Paulo Santos

Por causa da cegueira político-administrativa que vem dominando João Pessoa nas últimas décadas e o protecionismo federal á indústria automobilística o tema “mobilidade urbana” ganha um espaço considerável nas preocupações do eleitor/contribuinte para estas eleições municipais no ano santo de 2012. Tem uma dimensão extraordinária.

Em qualquer ambiente – onde se respire política ou não – o tema está sempre presente. Às vezes é onipresente. Importantes temas políticos que há séculos perambulam por corações e mentes – como saúde e educação – agora estão intrinsicamente ligados à causa da mobilidade porque muitos já temem apenas a ideia da morte, mas – e principalmente – a ideia de morrer sem qualquer tipo de socorro em face dos engarrafamentos no trânsito.

Há ações fortes e corajosas na atual administração municipal, é inegável. Exemplo: há poucos dias o prefeito Luciano Agra abandonou o conforto do seu gabinete que conquistou sem um voto sequer para comparecer a uma importante solenidade realizada nas imediações da Empasa, o antigo Ceasa, localizado no Cristo Redentor, quando ali ocorreu a inauguração de um…
…Sinal de trânsito.

Isso mesmo, caro leitor: o Prefeito enfrentou uma das áreas mais engarrafadas do trânsito na Capital paraibana – os arredores do chamado Viaduto Sonrisal – para fazer brilhar um instrumento que, em outras localidades, também é conhecido como “sinal luminoso” ou ainda e simplesmente “semáforo”. Nem a mente genial de Dias Gomes poderia imaginar uma cena ridícula destas para sua Sucupira.

Como uma capital pode se desenvolver se seus administradores são incapazes de vislumbrar perspectivas que, respeitando as peculiaridades, adote soluções para seus problemas urbanísticos com simplicidade, mas com praticidade? É impossível não lembrar que as maiores obras viárias recentes assentadas nesta Capital foram duas pequenas “alças” na Beira Rio, um alargamento da pista em frente à principal entrada do Campus da UFPB e uma passarela na Pedro 2º.

Não é à toa que se diz que os melhores prefeitos de João Pessoa têm sido os governadores. O finado Tarcísio Burity deixou um legado de obras e, entre elas, o chamado “Acesso Oeste” que ligou a BR 230 à Rodoviária, passando pelo Alto do Mateus. José Maranhão – que agora postula a cadeira de alcaide – ergueu o “Viaduto de Oitizeiro”. Ia esquecendo duas obras de um prefeito: o “catombo” (como o denominou Gonzaga Rodrigues) no Retão de Manaíra e o já aqui citado “Viaduto Sonrisal”, ambos da lavra de Cícero Lucena (que já tinha sido governador).

Dizer que João Pessoa tem um trânsito caótico é patinar na mesmice. Quase todas as capitais brasileiras têm trânsito caótico. O problema aqui é mais grave porque os administradores quando não olham para seus umbigos vivem de olho grudado no retrovisor, só olham para trás, competindo ninguém sabe em que ranking.

É bom olhar para trás
Para seguir bons exemplos. Como Hermano Almeida que, mesmo biônico e nomeado nos anos de chumbo por influência de seu tio (José Américo de Almeida) deixou obras que ninguém, como o sistema de drenagem na Epitácio Pessoa (nas imediações do supermercado Bompreço, Banco Real e Receita Federal).

Exemplos como Cabral Batista que, num tempo em que ninguém sabia o que era preservação do meio ambiente nem se imaginava criar o Partido Ecológico Nacional, aproveitou uma interinidade no cargo de prefeito para mandar plantar cerca de 500 coqueiros à beira mar, entre o Cabo Branco e o Bessa. Ou Damásio Franca que propugnava: “Se não levar o dinheiro para casa, ele sobra”. Ou Oswaldo Trigueiro, mesmo carregando o peso das acusações no remoto “escândalo das caçambas” (como o Correio da Paraíba carimbou para a história), ainda se orgulha dos “corredores” implantados no Cristo, na Pedro 2º, a Beira Rio ou a Tancredo Neves.

Os administradores de agora sequer querem correr riscos. Não passam pela Epitácio Pessoa nem na Ruy Carneiro nos horários de pico, não se arriscam a atravessar o Sonrisal ás 18 horas, muito menos querem se deslocar aos Bancários, a Mangabeira, ao Geisel ou ao Valentina à tardinha. Gostam, mesmo, de serem chamados de “prefeito”. E abarrotar os cofres das TVs com propaganda enganosa. E nenhum foi, até agora, processado por infringir o Código do Consunidor.