Cúpula nacional tentou segurar Wilson no PMDB

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Nonato Guedes

O relato é de um condestável do PMDB paraibano que participou de articulações desenvolvidas em Brasília, no final do ano passado: a cúpula nacional peemedebista fez de tudo para convencer o ex-senador Wilson Santiago a permanecer no partido e desistir da aventura de uma carreira-solo em outra agremiação. O empenho maior foi do vice-presidente da República, Michel Temer, que deverá compor a chapa da presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2014, e do presidente nacional do partido, Valdir Raupp (RO). Temer, que é presidente nacional licenciado, por exercer a vice-presidência da República no Palácio Jaburu, chegou a ponderar a Santiago que, em tese, nada tinha a ver com os problemas políticos específicos do PMDB da Paraíba.

Mas logo se recompôs e enfatizou: “Na verdade, eu tenho muito a ver com os problemas do PMDB paraibano, porque conheço os seus líderes, dirigentes, e desejo o fortalecimento da legenda”. Na seqüência, ele apelou a Wilson Santiago para que refletisse sobre as conseqüências de deixar uma agremiação na qual sempre fora bem tratado e onde teria espaços para disputar mandatos eletivos importantes, juntamente com o deputado federal Wilson Filho, que está na primeira legislatura na Câmara e tem sido recepcionado corretamente por companheiros de partido. A exortação foi endossada pelo senador Valdir Raupp. E ambos – Temer e Raupp – destacaram o tratamento condigno conferido pelo ex-governador José Maranhão a Santiago, tanto dentro do PMDB como à frente do governo do Estado, que exerceu por três vezes. Maranhão foi referenciado pelos dois líderes nacionais como um político sério, de extrema fidelidade à legenda, sem registro de qualquer nódoa na sua trajetória, tal como aconteceu com outros políticos, inclusive, da Paraíba.

Ao rememorar esses fatos, o interlocutor peemedebista que acompanhou os entendimentos travados em Brasília ressaltou que a preocupação não era apenas com a permanência de Wilson, mas com as dificuldades que ele poderia enfrentar em sua trajetória ao optar por outra agremiação. O ex-senador foi lembrado dos espaços que obteve no PMDB como deputado estadual, deputado federal e até senador, no período em que ocupou o mandato quando o tucano Cássio Cunha Lima estava sub-judice devido a interpretações decorrentes da Lei Ficha Limpa. Santiago pai, entretanto, aparentava estar irredutível, arreliado com o pré-lançamento da candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, ao governo do Estado, no próximo ano, e, mais ainda, com declarações do senador Vital do Rego admitindo que o apoio do senador Cícero Lucena (PSDB) seria bem recebido pelo PMDB.

Na época dos entendimentos, em mão inversa, circulavam insinuações de que Wilson Santiago estaria sendo cortejado pelo governador Ricardo Coutinho (PSB) para supostamente compor chapa por ele encabeçada nas eleições de 2014. O ex-senador foi advertido de que poderia ser vítima de uma armadilha, uma vez que Coutinho não formalizara nenhum aceno nesse sentido e, por outro lado, estava tendo dificuldades para acomodar pretendentes na sua chapa, como o vice-governador Rômulo Gouveia (PSD), que cogita concorrer a senador, além de contemplar o grupo do senador Cássio Cunha Lima, onde despontam nomes como Ronaldo Cunha Lima Filho para vice-governador e o próprio Cícero Lucena ao Senado. Wilson Santiago estava confuso, também, depois de uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo. O ex-presidente prometeu encontrar uma “alternativa” partidária para que ele preservasse seu futuro político. Em meio ao vai e vem de rumores e comentários, e a falta de um entendimento mais concreto do ex-governador José Maranhão com ele, Wilson Santiago alegou desprestígio e falta de reconhecimento ao esforço desenvolvido dentro do PMDB, sinalizando que poderia deixar a agremiação. Insinuou, então, ter recebido convites de partidos distintos. O PT paraibano, até onde se sabe, não chegou a garantir vaga para a disputa de cargo majoritário, até porque a legenda estava pendente de definições nacionais, e possui critérios rigorosos para a admissão de candidatos oriundos de outras agremiações. Santiago encontrou espaço no PTB, que está praticamente esvaziado e que é presidido pelo suplente de deputado federal Armando Abílio, o qual acenou-lhe, de imediato, com a incumbência de dirigir o partido no Estado. A compensação, ainda a ser confirmada, viria na requisição de licença do deputado federal Wilson Filho para que Abílio fosse alçado ao mandato titular na Câmara. De todo modo, o martelo está batido, e Wilson Santiago segue para a convivência em nova agremiação, em meio ao choque de interesses de grupos políticos que se confrontam na Paraíba.