DECISÃO ESDRUXULA DO DESEMBARGADOR

CONTRA: A morte de Diogo e a temível sensação de impunidade - Por Marcos Wéric

Infelizmente, o assunto que domina a cidade de João Pessoa desde a manhã do último sábado, é o atropelamento de forma criminal, seguida de uma decisão esdruxula de um desembargador que deixou toda cidade com uma sensação de impunidade inquietante e o desfecho da pior forma possível que foi a morte do jovem Diogo Nascimento, 34 anos, agente de trânsito do Detran-PB.

juiza-arcoverde

Infelizmente, o assunto que domina a cidade de João Pessoa desde a manhã do último sábado, é o atropelamento de forma criminal, seguida de uma decisão esdruxula de um desembargador que deixou toda cidade com uma sensação de impunidade inquietante e o desfecho da pior forma possível que foi a morte do jovem Diogo Nascimento, 34 anos, agente de trânsito do Detran-PB.

O caso ganhou repercussão imediata nas redes sociais, embora grande parte da mídia e dos formadores de opinião, tentassem colocar panos quentes e relativizar a culpa do acusado. Isso porque o motorista foi identificado graças a intervenção divina e a violência do impacto que deixou a placa do carro, um potente Porsche de R$ 500 mil e com isso, foi possível identificar o proprietário do veículo e consequentemente quem estava no volante. Como todos sabem, o carro pertence ao empresário Ricardo Carlos da Silva, do Grupo São Braz, e ao volante estava seu filho Rodolfo Carlos da Silva.

O fato de o motorista pertencer a uma das famílias mais tradicionais do Estado, inclusive seu avô, José Carlos da Silva Júnior, já foi vice-governador do Estado, e seu tio, Eduardo Carlos, é o proprietário do Sistema Paraíba de comunicação, que compreende a Globo local, rádio CBN e Jornal da Paraíba online, fez com que a mídia demorasse a se pronunciar sobre o caso e houve até formadores de opinião que tentaram relativizar o fato de o motorista ter acelerado o carro em cima do agente, por que foi isso que aconteceu, o motorista, agora acusado de homicídio doloso, atentou contra a vida uma pessoa, por tanto não há que se falar de acidente.

O que aconteceu todo mundo já sabe. Além da morte de Diogo, o que vem chocando a sociedade, é a temível sensação de impunidade que o caso transparece. Pelo simples fato, do acusado ser de família rica e tradicional, e a vítima ser um trabalhador, essa sensação já saltou desde os primeiros momentos. Foi amenizada pela rápida e ostensiva ação das Forças de Segurança do Estado que identificaram o autor do homicídio, apreenderam o veículo (que já estava cobertinho na garagem de seu dono) e pediram a prisão temporária com lógica intenção de garantir provas que incriminem e garantam uma pena justa ao acusado.

Porém, essa temível sensação de impunidade veio a tona ainda com mais força depois que o desembargador Joás de Brito, futuro presidente do Tribunal de Justiça, interrompeu seu tranquilo sono, deixando seus lençóis de seda e trocando seu pijama de algodão egípcio por um terno e gravata, para se dirigir ao Tribunal de Justiça e conceder um Habeas Corpus para manter em liberdade o motorista que assassinou o agente. O desembargador garante que seguiu o que manda a lei, mas segundo ele próprio, foi concedido, em sua decisão, que o acusado se apresente em 72h na delegacia para dar sua versão dos fatos.

Ora, 72 horas é tempo suficiente para que o nosso organismo elimine quaisquer resquícios de ingestão de álcool e/ou outras drogas, o que no caso interfere diretamente na investigação. Caso ficasse comprovado que o acusado fez uso de álcool ou outras drogas, certamente a pena seria agravada. Graças a Joás de Brito, essa hipótese está totalmente descartada. Neste ano, ele agiu mais como advogado de defesa, do que como juiz.

O que ele não esperava era a reação das redes sociais, inclusive resgatando decisão sua em caso muito semelhante, em que ele negou o habeas corpus e manteve preso motorista que se envolveu num acidente e matou um senhor, lhe atribuindo dois pesos e duas medidas.  Porém, se sua decisão visou mesmo ajudar ao seu constituinte, ops, ao acusado, esse objetivo foi alcançado. Agora vai ter que arcar com o ônus de sua decisão, que enfrente protestos virtuais e reais, como os que estão acontecendo nas redes e o que vai acontecer hoje em frente ao TJPB.

Acompanhei nos últimos dias e pude comprovar logo após o meio-dia desta segunda-feira, que a imprensa está mesmo com seus dias contados. Falo dessa imprensa, mídia que noticia os fatos do cotidiano através dos meios ainda existentes sejam off ou até mesmo do “novo” online. O que embasa minha tese é o tratamento dado por toda a imprensa da Paraíba ao assassinato do agente de trânsito Diogo Nascimento, morto por um estudante, filho de um megaempresário e com pedigree de uma das famílias mais tradicionais do Estado, durante uma blitz da Lei Seca.

Como todos sabem, Diogo foi assassinado ao aborda um veículo de R$ 500 mil durante a blitz. O condutor, o estudante Rodolfo Carlos da Silva, reduziu a velocidade de seu esportivo atendendo a solicitação de Diogo, que em seguida caminhou em direção ao acostamento acreditando que verificaria a documentação do veículo e as condições do motorista. Não sabia ele que estes seriam seus últimos passos. Rodolfo simplesmente acelerou seu Porsche conversível que vai de 0km/h a 100km/h em 4,4 segundos e feriu de morte o agente, que estava no seu mister justamente para evitar que Rodolfo’s da vida saiam por aí tirando vidas com suas armas de quatro rodas.

A justiça divina fez sua parte e a placa do carro ficou no local do crime possibilitando assim a identificação do proprietário do veículo e logo em seguida, quem o dirigia e de onde vinha.

Identificado o dono do veículo e o motorista se inicia então uma ardilosa, covarde e vergonhosa trama, ora articulada, ora espontânea mesmo e atendendo aos mais diversos interesses, uns por medo, outros por vantagens e outros só para agradar mesmo, para minimizar a ação criminosa do motorista.

Os argumentos são os mais variados e frágeis possíveis, mas a intenção é muito clara, proteger o acusado, diminuir o impacto na imagem da sua família e tentar amenizar a gravidade do crime que cometeu.

Durante as primeiras horas, a mídia simplesmente tentou ignorar o fato ou deu de forma superficial, tentando esconder o condutor.  Mas aí entrou em cena o poder das redes sociais e uma verdadeira avalanche de informações, fotos, vídeos e desabafos empurraram a mídia e os formadores de opinião para o canto da parede e aos poucos algumas matérias, notas e comentários começaram a surgir. Porém, começaram também algumas tentativas de relativizar o caso, comparar com outros, politizar e até defender o acusado de seu ato indefensável. Mas aí, mas uma vez as redes sociais entraram em cena e a reprimenda dos internautas, ouvintes e telespectadores foi tão forte, que muitos tiveram que passar o restante dos seus programas se justificando.

O fato demonstra que as pessoas estão atentas e as mais variadas formas de obter a informação lhes deram um senso crítico capaz de inverter a lógica centenária. Agora não é mais o meio que forma a opinião da massa, é a massa é quem pauta o meio.

Nem mesmo a antes intocável justiça é mais poupada. O desembargador Joás de Brito, teve que vir a público tentar explicar sua decisão tomada de madrugada para dar salvo conduto ao acusado, contribuindo assim, para que ele e sua defesa ficassem a vontades para dificultar o trabalho da polícia escondendo provas. E não foi nenhum veículo de comunicação que questionou a decisão da excelência. Foram elas mais uma vez, as redes sociais que foram tomadas de protestos e manifestações contrárias dos mais variados segmentos e do cidadão comum, contra a decisão, e por isso, os meios foram pautados a ouvir o desembargador.

É bom ficar atento ao novo tempo.

Fonte: Marcos Weric