Contra Cássio, falta moderação a Ricardo

Sérgio Botêlho

Na política, a gente deve evitar a produção de feridas que não possam ser cicatrizadas. Isto tem força de verdadeiro axioma a orientar os mais sábios, e mais resilientes, políticos do Brasil e do mundo.
Traduzindo: se a briga for inevitável numa disputa política, é preciso conduzi-la com sabedoria, e muita calma, para não transformar o eventual adversário, num inimigo, avançando do efêmero para o eterno enquanto dure a vida.
O governador Ricardo Coutinho, do PSB paraibano, parece não ser bem aconselhado, nesse sentido. E nem demonstra ter queda para conduzir de maneira a mais civilizada possível contendas políticas tão comuns nesse contexto.
Não tem sequer quatro anos que o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, possibilitou ao atual governador socialista alcançar um sonho que parecia impossível de ter um bom desfecho: a conquista do poder que Ricardo detém atualmente.
É bom que essa seja uma verdade a ser sempre lembrada a Ricardo todas as vezes em que ele apresentar algum tipo de esquecimento: sem Cássio, em 2010, o atual governador não teria, de jeito nenhum, vencido o pleito daquele ano contra o PMDB de José Maranhão.
As circunstâncias, neste ano de 2014, contudo, obrigam a que Cássio, representante maior do PSDB do presidenciável Aécio Neves, tenha que partir para uma candidatura solo na Paraíba, e, nessa posição, passe de aliado a adversário de Ricardo.
Pronto. Acabou. De repente, Ricardo decidiu avançar para cima do até pouco tempo aliado decisivo, com unhas e dentes, como se diz. E, também de repente, nem o governo de Cássio, e nem o de seu pai, Ronaldo Cunha Lima, passaram a valer qualquer vintém.
Não é boa a política de Ricardo. Antes, ao se unir com Cássio, investiu com o mesmo furor contra os seus, até então, aliados do PMDB. Espinafrou o ex-governador José Maranhão, e seu governo, deixando mágoas profundas entre os peemedebistas.
O mais curioso é que Ricardo começa a enfrentar um pleito – este mesmo, que vai ter Cássio em campo adversário, juntamente com o ex-prefeito campinense, Veneziano Vital do Rego, cujo quadro no segundo turno evidentemente resta indefinido.
E se Ricardo precisar de Cássio, no segundo turno? Com que cara ele vai pedir apoio, se isto for necessário numa possível disputa com Veneziano? Não já basta a enorme dificuldade que Ricardo vai ter no caso de precisar de Veneziano contra Cássio?
Com tanta raiva assim não se faz política duradoura. Casos semelhantes costumam interferir na carreira política de qualquer pessoa. Melhor seguir o que dizia o velho, bom, e duradouro Ulysses: a política é como a Natureza onde passarinho de muda, não canta.