Confronto azeda relação de Ricardo e Cartaxo

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Nonato Guedes

Para os aliados do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PT, o governador Ricardo Coutinho (PSB) está com ciúmes do alcaide por iniciativas de impacto que tem tomado, a exemplo da concessão do passe-livre para estudantes no transporte público. Para o próprio governador Ricardo Coutinho, o prefeito recorre a medidas demagógicas que não surtirão efeito. O governador chegou a duvidar que alunos da rede municipal se habilitassem ao bônus concedido pela prefeitura. Anísio Maia, deputado estadual do PT, rebate, com seu estilo demolidor: “O que incomoda o governador é a comparação dos cem primeiros dias da administração municipal com a própria gestão dele, que não tem projetos nem obras relevantes a exibir”.

Na prática, o confronto apenas contribui para azedar cada vez mais as relações entre os dois administradores. A secretária de Comunicação Institucional do governo do Estado, Estelizabel Bezerra, duvidou que o prefeito tenha interesse em fazer parceria com a gestão de Ricardo para beneficiar a comunidade pessoense, citando como exemplo que até agora não foi protocolado qualquer pedido de audiência para a discussão de intervenções comuns em problemas que afetam os habitantes da capital. O secretário de Comunicação da prefeitura, Marcus Alves, lembra que Cartaxo participou da reunião no hotel Tambaú convocada a pretexto de lançamento da nova versão do Pacto Social do Estado e saiu decepcionado porque não constatou resultados concretos para favorecer os municípios.

Na Câmara Municipal, o líder do prefeito, vereador Ubiratan Pereira, que ainda está filiado ao PSB mas que sofre processo de expulsão interna por alegada infidelidade e descompromisso com a candidatura de Estelizabel Bezerra no pleito de 2012, lembrou que quando fazia parte do “Coletivo Ricardo Coutinho” chegou a propor ao então prefeito a outorga do passe-livre para os estudantes e a reivindicação não foi concretizada. O então prefeito teria argumentado, numa conversa mantida com o vereador em 2005, que a municipalidade não teria como arcar o benefício para estudantes da rede estadual de ensino, e, depois disso, “esqueceu” o assunto. O confronto já era esperado por alguns analistas políticos, que invocam os temperamentos distintos de Luciano e de Ricardo e as divergências que cultivaram mesmo quando os dois eram companheiros de partido, no PT.

A queda de braço se torna mais aguda, na opinião de um interlocutor do prefeito, em virtude do tratamento que ele vem recebendo do Palácio do Planalto. O gestor da capital paraibana manteve audiências proveitosas com a presidente Dilma Rousseff, que disponibilizou programas do governo federal para execução em João Pessoa. Além disso, a própria presidente, na visita recente à Paraíba, entregou um conjunto habitacional cuja construção havia sido iniciada na administração de Luciano Agra, e na oportunidade enalteceu o interesse do prefeito Luciano Cartaxo em conseguir viabilizar apoios para projetos de importância. Correndo por fora, situa-se o prestígio que Cartaxo detém junto à cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, pela circunstância de ter sido o único prefeito petista eleito no Nordeste em 2012, mesmo enfrentando desigualdade por parte do governo do Estado e de outras candidaturas.

Na opinião do presidente estadual do PT, Rodrigo Soares, o fato de João Pessoa ser a vitrine petista no Nordeste incomoda o governador Ricardo Coutinho, “que se julgava dono dos votos do eleitorado da capital e chegou à conclusão de que há outras opções na cabeça do pessoense”. Essa avaliação é endossada, também, por Jackson Macedo, presidente do diretório municipal petista, que vai mais além. Acha que Coutinho está preocupado com a hipótese de lançamento de candidatura própria do Partido dos Trabalhadores ao governo, concorrendo diretamente com ele no reduto mais estratégico do Estado. O prefeito Luciano Cartaxo, de forma pragmática, evita alimentar a polêmica detonada pelo Palácio da Redenção. Ele afirmou a assessores próximos que a sua missão é administrar João Pessoa e que tem muitos desafios ainda a cumprir, antes de se envolver em discussões políticas ou eleitorais. Quanto à data para a audiência entre o prefeito e o governador, vai se tornando cada vez mais distante, devido à dificuldade de conciliação entre ambos na relação institucional. “A verdade é que Ricardo Coutinho queria qualquer um na prefeitura da capital, menos Luciano Cartaxo, inclusive porque foi apoiado por Luciano Agra, que detonou a administração estadual”, arrematou uma fonte petista, explicando a complicação que envolve as relações entre os dois gestores.