Costumo usar versos de certas canções de que gosto muito para apresentar a minha clicheria de frases feitas ou, se preferirem, o meu relicário de compromissos com o leitor.
São versos que definem atitudes e posturas de quem não almeja além do crédito a um trabalho jornalístico pautado unicamente pela liberdade que sempre tive de escrever e dizer o que penso a respeito das pessoas, das coisas e do mundo.
Tanto é assim que invariavelmente recorro a alguns versos da fantástica ‘Disparada’ para avisar a quem me cede espaço: a cláusula substantiva da prestação deste serviço deve garantir autonomia e independência ao colunista. Do contrário…
Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto pra enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar
Confesso e revelo que dessa vez, para minha surpresa e satisfação, nem precisei declamar – muito menos cantar – as estrofes mais expressivas da genial criação de Theo de Barros e Geraldo Vandré.
A condição para me ter entre os fazedores de opinião deste Jornal me foi oferecida antes mesmo que eu pudesse externá-la. Na minuta de contrato que recebi para avaliar e emendar, se fosse o caso, a minha exigência maior já estava atendida e exemplarmente redigida.
Daí por que volto a escrever diariamente na imprensa paraibana com o mesmo entusiasmo e disposição de fazer desta coluna um espaço digno da confiança dos meus concidadãos, em especial aqueles maltratados pela soberba, prepotência ou intolerância dos maus governantes.
A propósito, a quem não estiver correspondendo no cargo que o povo lhe delegou adianto que vou aplicar mais um clichê do meu agrado: serei duro, mas sem perder a ternura.
Quando me refiro a ser duro quero significar o que sempre fiz no trato com autoridades em geral e agentes políticos em particular: não recuso, não engaveto nem negocio as denúncias que recebo, porque só admito recebê-las quando bem fundamentadas e preferencialmente comprovadas. Documentadamente, claro.
Já quando digo que não dispenso a ‘ternura’ é porque tenho o maior apreço e não abro mão de forma alguma de ouvir e colher a versão do outro lado, sempre que esse outro lado se vir acusado ou denunciado por algum malfeito, aparente ou verdadeiro.
Se já não fosse uma obrigação agir desse jeito, faço-o em respeito ao contraditório e ao direito à ampla defesa. São valores sagrados para este escriba, além de consagrados universalmente pelo jornalismo sério, ético e responsável que busco praticar e oferecer.
Preciso deixar bem claro também que não vim aqui para ser porta-voz oficioso de qualquer expoente, grupo ou partido político. Nem de expoente, grupo ou organização empresarial.
Jamais me prestei a esse papel e posso assegurar que nem de longe algo assim me foi sequer insinuado na ‘minha nova Casa’. Nem percebi que alguém deste Sistema estivesse cultivando a vã e remotíssima esperança de me ter ou me instrumentalizar como tal.
Afinal, tenho a certeza de que eles sabem como sou e que nunca vou deixar de ser e fazer como me ensinaram meus pais e o poeta Walter Franco: para escrever com liberdade e independência não precisa muita coisa, não.
“É (só) uma questão de manter a mente esperta/a espinha ereta/e o coração tranqüilo”.
Enquanto estive fora…
A Paraíba foi refundada mais uma vez por mais um governo que se elegeu prometendo ser o novo, mas que depois de empossado vem se mostrando tão velho quanto os seus mais conservadores ou retrógrados antecessores.
Digo assim porque enquanto estive fora da imprensa milhares de pais e mães de família que sobreviviam da merreca que lhes pagava o Estado foram parar no olho da rua da amargura.
E tamanho sofrimento serviu apenas para o governo manejar um legalismo que importou do Ministério Público Estadual e o manipulou como peça de propaganda política a serviço de um falso moralismo que só consegue penalizar humildes e vulneráveis.
Por conta da demissão em massa desses pequenos prestadores de serviço e outras medidas do gênero, o ‘novo’ conseguiu paralisar, descontinuar ou desmantelar o que o ‘velho’ vinha mantendo funcionando regularmente, sobretudo escolas e serviços públicos de saúde.
Mesmo assim, logrou convencer a si mesmo e a uns poucos incautos ou bajuladores que herdou o caos, o Estado falido, quebrado, de cofres vazios e dívidas nas alturas.
No meu entender, ao escolher esse caminho, o ‘novo’ não fez mais do que se valer da velha, surrada e (literalmente) maquiavélica estratégia de usar a imagem do inferno para fazer o mal todo de uma vez, à vista, e depois, em futuro próximo, ofertar o paraíso, cometendo e faturando o bem à prestação.
Enquanto isso, nos mesmos cem dias, não vi qualquer empenho dos pretensos defensores da legalidade e da moralidade para desengavetar e apurar pra valer escândalos como o do Cuiá, aquele que custou R$ 11 milhões aos cofres públicos por uma área de proteção permanente que por natureza é jurídica e legalmente inindenizável.
Enquanto estive fora permaneceram igualmente intocados, jornalística ou judicialmente, outros escândalos tão escabrosos quanto o Cuiá, a exemplo do contrato da Merenda Escolar da Prefeitura da Capital com uma empresa paulista que fornece menos de 30% das necessidades nutricionais dos alunos assistidos, segundo descobriu a Promotoria da Educação de João Pessoa.
Enquanto estive fora da mídia, assisti com imensa tristeza a uma escalada da violência sem precedentes na minha Paraíba que aumentou em mais de 24% a taxa de homicídios em relação ao mesmo período do ano passado. Nesse ‘embalo’, pelo menos quatro pessoas fossem assassinadas em cada um desses cem dias da Nova Paraíba.
Mas, como diria o filósofo Belchior, “o novo sempre vem”. Então, resta torcer. E rezar, rezar muito, feito o Brasil rezando pelas vítimas do massacre de Realengo.
Até porque, também durante o tempo em que estive fora, policiais do Rio invadiram uma escola para deter um monstro assassino, enquanto aqui, na Nova Paraíba, policiais invadiam uma escola para jogar pimenta em olho de menino.
Rubens Nóbrega