‘Competição’ entre Coutinho e Cartaxo favorece JP

Nonato Guedes

A constatação é dos aliados políticos dos dois esquemas: a espécie de competição travada entre o governador Ricardo Coutinho (PSB) e o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT) desde janeiro deste ano, quando Cartaxo investiu-se no Paço Municipal, tem favorecido a capital. A ‘competição’ se dá no campo da ação administrativa. Por razões óbvias, inerentes ao cargo que exerce, o governador Ricardo Coutinho tem um raio mais abrangente na execução de programas ou projetos em diferentes aspectos da paisagem urbanística pessoense. Mas a gestão de Cartaxo não fica muito distante, porque se vale do caráter inovador de algumas propostas e da rapidez com que são implementados certos projetos, o que é atribuído à influência que ele detém nos escalões administrativos federais, pelo alinhamento incondicional com o governo da presidente Dilma Rousseff.

Da parte do governador, há uma outra característica: a necessidade de mostrar que faz por João Pessoa, como forma de se credenciar à disputa à reeleição ao Palácio da Redenção em 2014 no principal colégio eleitoral do Estado, reduto onde Coutinho sempre alcançou vitórias pessoais expressivas que o conduziram por duas vezes à prefeitura municipal e mais recentemente ao governo da Paraíba. Nos casos em que se faz imperiosa a prática da parceria, ela é exercitada independente de encontros formais entre o governador e o prefeito. Entram em cena, então, os respectivos interlocutores dos dois gestores, que já foram companheiros de sigla no Partido dos Trabalhadores, do qual Ricardo se desligou para fazer avançar com mais facilidade um projeto político próprio que abarcava a eleição ao governo, afinal concretizada na primeira tentativa que empreendeu. O ponto vulnerável do governador vinha ocorrendo em segmentos do funcionalismo público, cujos porta-vozes reclamavam da falta de diálogo mais efetivo. “Esses problemas estão praticamente superados”, garante um interlocutor com acesso a Coutinho, referindo-se a demandas que foram equacionadas e a reajustes pontuais que foram concedidos, além de concessões como, ainda agora, traduzidas na antecipação do pagamento da folha de maio e no pagamento da primeira parcela do décimo terceirosalário, bem como resgate de compromissos assumidos com a área do Fisco.

O governador tem dito, em conversas informais com auxiliares de confiança, e, às vezes, em entrevistas a repórteres, que a conquista fundamental para a ofensiva administrativa resultou da sua determinação em manter a todo custo o equilíbrio financeiro do Estado. Não tivessem sido tomadas medidas de austeridade que, num primeiro momento, provocaram desgaste em algumas parcelas da sociedade, a situação teria escapado ao seu controle e a Paraíba estaria mergulhada num pré-caos em termos administrativos. O apoio do governo federal a projetos encaminhados pelo chefe do Executivo complementa o saldo próprio de caixa que foi feito durante esse período de travessia, como é definido por auxiliares da área técnica governamental. O resultado é que Ricardo prepara-se para disputar a reeleição dispondo de um mostruário de feitos em favor não somente da capital mas de diversas regiões do Estado, contempladas com obras, algumas de pequeno porte mas que surtem efeito pela carência das comunidades e pela inação de outros administradores no atendimento das referidas demandas.

Cartaxo leva uma vantagem em relação ao governador: não precisará se submeter em 2014 a um novo teste eleitoral, com dimensões por todo o Estado. Mas nem por isso o prefeito deixa de se preocupar em consignar sua marca em obras de alcance e em projetos que considera vitais para o desenvolvimento de João Pessoa. Ele sabe que, na dependência do desempenho administrativo satisfatório, será um cabo eleitoral de peso ou relevância, em condições de desequilibrar a balança sucessória estadual contra quem vier a enfrentar nas urnas. Não por acaso, o gestor petista tem insistido com titulares de pastas estratégicas no sentido de que apresentem resultados concretos em termos de investimentos e obras. Ele quer se cacifar para influir no desempenho eleitoral que emergirá das urnas em 2014 no Estado da Paraíba.