Como Rc traiu o socialismo, o povo e a si mesmo

Gilvan freire

Quando o capitalismo destroçou o comunismo na queda de braço histórica que pôs a pique a União Soviética e enterrou em vala profunda os legados de Lênin e os despojos intelectuais de Marx, ao mesmo tempo os americanos já se reuniam em Washington e criavam um fórum de estudos políticos e econômicos para decifrar os novos rumos da humanidade e o destino dos trilhões de dólares que os investidores detinham em estoque migrando de bolsa em bolsa, dia e noite, alimentando a especulação e nutrindo a ciranda financeira nos quatro cantos do planeta. Especialmente nos países emergentes do Terceiro Mundo, de modo particular no Brasil, onde os grandes interesses, ao longo de décadas, estiveram sendo fatiados e garfados por eles como um peru gordo em mesa de pobre.

Os especuladores americanos financiaram o fórum, que batizaram de Consenso de Washington, onde foram inicialmente ouvidos os melhores cérebros humanos egressos da Universidade de Harvard, por onde passaram os mais festejados luminares da economia da America Latina nos últimos tempos e os mais influentes economistas de governos do Brasil. Eram e ainda são, muitos, poderosos ministros de fazenda, presidentes do Banco Central e executivos das maiores empresas estatais nas áreas de petróleo, eletricidade, telefonia, telecomunicações, portos, minério, fundos de pensão e outras ricas corporações estatais.

Segundo os primeiros diagnósticos do Consenso de Washington, o esfacelamento da URSS e a morte do comunismo derrubaram, além do muro de Berlim, quaisquer outras barreiras vivas, armadas contra o capitalismo no mundo. Nascia em terreno imune ao ataque de pragas a Globalização, que redesenhou o Mapa Mundi sem as legendas vermelhas das fronteiras que dividiam antes os povos por ideologias e assinalavam onde a força do capital deveria recuar diante da força do trabalho ou ajoelhar-se aos pés do império proletário. Solto, livre e sem contraponto, o capitalismo, que é um demônio perverso e insaciável que alimenta a pobreza do mundo a conta-gotas, e os ricos por meio de dutos, estava imponente e desafiador como as Torres Gêmeas do World Trade Center, antes de Bin Laden.

MAS ONDE ENTRA A PARAÍBA NISSO?

As multinacionais e os banqueiros americanos, que a partir dos anos 60 financiaram os golpes militares na América Latina e Central, para evitar que Cuba exportasse a revolução de Fidel e o charme de Che Guevara pelos continentes pegados, transformaram o hemisfério em mercado consumidos de seu parque industrial e de seus capitais especulativos e voláteis. Venderam tecnologias às chamadas ‘gigantes estatais’, empresas como a Eletrobrás, Petrobrás, Embratel, Vale do Rio Doce, Telebrás e dezenas de outras, e endividaram o país de tal sorte que ainda hoje pelo menos trinta milhões de pobres passam fome para que essa divida possa ser honrada. Antes de Lula foram mais de 50 milhões de indigentes, vivendo abaixo da linha de pobreza. É uma moeda social tirana demais.

Pois bem. Terminada a fase de montagem tecnológica das estatais e dos empréstimos bancários em escala bilionária ao Brasil, à Argentina e a outros países do continente, e uma vez aniquilada a União Soviética, e não tendo mais a quem vender seus produtos de tecnologia de ponta e nem a quem emprestar seus excedentes financeiros de não menos que 15 trilhões de dólares, os americanos passaram a financiar o Neoliberalismo, uma teoria segundo a qual o Estado não deve cuidar de negócios e sim do bem-estar dos povos, porque os negócios devem pertencer ao setor privado, e não ao setor público. Nessa época, segundo apontava o Consenso de Washington, os lideres mais indicados para arreganhar as portas das nações do Cone Sul das Américas, seriam Carlos Menem(¹) na Argentina e Fernando Collor de Mello no Brasil, porque ambos fariam com segurança governos populares e receberiam influências e orientação diretas do governo e das multinacionais americanas. E isso foi feito com rigor métrico, primeiramente com a privatização daquelas grandes empresas estatais que se transformaram em gigantes à custa do endividamento do país e da eternização da miséria do povo. Elas foram vendidas a preço de banana para contemplar interesses dos capitais ociosos estocados pelos americanos, que não tinham mais grandes guerras para comprar de seu parque fabril bélico e nem havia mais empresas estatais nas Américas para comprar suas tecnologias de ponta.

Na Paraíba, nesse período, foram privatizadas, por menos de 30% de seu valor patrimonial, a Celb e a Saelpa, e até hoje não foi dado ao povo sequer o direito de saber o que foi feito do dinheiro da venda, embora se saiba que a população paga hoje mais caro, sem compensação social, pelo mesmo serviço com igual ou pior qualidade. E com exploração bem maior da parte dos que tomaram por assalto a única empresa rica do Estado pobre e do município de Campina Grande também.

Mas isso foi apenas o começo. Saiba, no próximo artigo, segunda-feira à tarde, como um governante socialista de formação (ou de enganação), pregador revoltoso e exaltado do ‘caráter público da administração’, entregou sua alma ao diabo, celebrou pacto com o Consenso de Washington e quer vender os serviços públicos essenciais do Estado, entregando a grupos empresariais inidôneos de fora, prédios, equipamentos, recursos humanos e fabulosas quantias de dinheiro público. Conheça em detalhes como é feita essa operação nebulosa. Será que não estaríamos diante de um novo filho das Alagoas, apenas com o nome mesclado e um pouco diferente que deseja chamar-se Ricardo Collor de Mello Coutinho?

(1) Carlos Saúl Menem Akil, nasceu em 1930. Foi presidente da Argentina entre os anos de 1989-1999.

*Este artigo integrará o futuro livro:

‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’

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