COMO MUDAR A SINA DAS RAINHAS METROPOLITANAS, POR GILVAN FREIRE

xô manipulação

                        Diante de seu fim abreviado, o prefeito de Santa Rita está anunciando mudanças nos rumos da administração, sob pena de ter de governar por mais pouco tempo sob intervenção do Ministério Público e do Poder Judiciário. Isso ainda não é tudo porque o prefeito nada mudará na gestão se não modificar seu estilo pessoal, que é o que atravanca a máquina e impede um mínimo de progresso. Mas, como mudar o entendimento de um homem de mais de 60 anos que sempre teve dificuldade de compreender a velocidade do tempo e as transformações do mundo? Há, contudo, algo que move os homens e as animais: o instinto de sobrevivência, pelo que, nos dois reinos, nem precisa se compreender, basta sentir os riscos e o cheiro do desastre.

Mesmo assim, não é provável mas apenas possível que ocorra uma transformação no homem e em seus modos de pensar e fazer quando em desacordo com os novos tempos. Se a mente humana fica emperrada para criar e adaptar-se à realidade atual, só lhe resta preservar a memória dos tempos velhos e dos hábitos antigos – o que já é uma grande tragédia para mais gente, e não apenas para o gestor, que depende de ações inovadoras e contemporâneas das novas civilizações. Santa Rita tem um pé dentro da sina e menos que outro pé de fora. O atraso tem de tudo para continuar.

  Bayeux, que como Santa Rita tem um povo politicamente generoso mas negligente, leva hoje a vantagem de não agravar o prontuário calamitoso das últimas administrações. Inconformado com as más gestões, o povo já fez várias tentativas de superação – a última com um ícone da época, Jota Júnior, o astro da televisão que parecia uma figura messiânica prometida para redimir o povo do calvário. Foi pior para ambos – o povo e o prefeito – e a cidade entrou em colapso. E Jota Júnior, em parafuso.

 

Não há nada de novo em Bayeux, a não ser essa nova transição que o atual prefeito faz entre o sentimento de mudança do povo e a frustração coletiva, saindo dele e voltando a ele próprio. Mas desse impasse intrigante pode surgir uma aurora política. E ai o maior mérito do gestor pode ser a compreensão de que há tempo para tudo, segundo o Eclesiastes, inclusive tempo para não agravar a sina de um povo (isso o Eclesiastes claramente não disse mas simbolizou).

 

                        Cabedelo é o cabo das tormentas, com muitos naufrágios em solo. Se os antigos corsários ainda singrassem os mares à busca de tesouros em terra, sabendo que Cabedelo tem o terceiro cofre público mais rico do Estado e uma fortaleza desativada com seus canhões enferrujados, sem pólvora e sem balas, certamente tomariam de assalto a cidade mais meiga e charmosa da Paraíba. Mas, como a Fortaleza de Santa Catarina foi construída para combater às ameaças vindas do mar, a população local, faz tempo, ficou a mercê dos corsários internos, que nunca encontraram resistência dos canhões apontados para os invasores ultramarinos.

 

Agora, em virtude da renúncia de Luceninha, que praticou o mais grave estelionato político do Estado da Paraíba, no dizer do deputado Anísio Maia (a maior revelação do PT nos últimos anos, depois de Chico Lopes, Anastácio e Pe. Adelino), há apenas um corsário a menos. Ele era tão bonzinho e agradável ao eleitor local que parecia está dispensado de ter outras virtudes e defeitos, a ponto de ninguém perceber (sob esse olhar complacente do povo) que ele não teria apetência para gerir um governo, que não é a mesma coisa que uma confraria de amigos.

 

A ascensão de Leto ao poder tem, pelo menos, em principio, a vantagem de tirar a administração do vazio caótico em que se achava e punir pouco o povo pela fraude eleitoral de que foi cúmplice e vitima ao mesmo tempo. A sua posse, sob o ostensivo e preocupante prestigiamento do empresário Roberto Santiago, que sempre esteve por trás dos planos de ordenamento locais, a fim de limitar o uso do solo urbano e evitar a instalação de Shoppings concorrentes, cria pontos nebulosos de interrogação. Mas, não custa trocar agora a confiança pela esperança. De qualquer forma, não faz mal também inverter as bocas dos canhões da fortaleza para que, em vez do mar, eles possam vigiar o continente. E que não faltem pólvora nem balas. Inclusive, de maior alcance. Para além dos mangues.