COMEÇOU A CAMPANHA

CARLOS CHAGAS

Mais do que comemorar os vinte anos do Plano Real, em sessão solene do Congresso, terça-feira, Aécio Neves deu início real à sua campanha pela presidência da República. Fez um discurso de candidato. Começou, como não podia deixar de ser, enaltecendo o programa que deu certo no combate à inflação, depois de seis tentativas frustradas nos governos José Sarney e Fernando Collor. Elogiou Itamar Franco, de passagem, mas logo vibrou tacape e borduna no PT, lembrando que os companheiros, naqueles idos, trabalharam contra o Plano Real, buscando desacreditá-lo. Como mais tarde, também, dedicaram “raivosa e violenta” oposição ao projeto de lei da Responsabilidade Fiscal.

A partir dali, não parou mais, nas críticas que visaram, acima de tudo, a presidente Dilma. Lembrou que apenas a Venezuela cresceu menos do que o Brasil, ano passado. Ficamos atrás do Paraguai e de El Salvador.

Para o senador mineiro, depois de 12 anos de governo do PT, consolidou-se a descrença no futuro, entre nós. Há hostilidade entre o governo e o setor privado, registrando-se a desindustrialização. É esse o resultado da diplomacia ideológica petista, porque lá fora nos olham com desconfiança, dada nossa fragilidade econômica.

“É preciso voltar a crescer” parece o mote da campanha tucana, com base na livre iniciativa e na economia de mercado. Aécio criticou com veemência o BNDES, que precisa voltar a atender a todos, deixando de funcionar como um partido político. Referiu-se, também, aos recentes surtos de violência verificados no país, em suas palavras reflexo da frustração popular diante da visão contemplativa do governo federal. Falou da necessidade de um choque de esperança e da importância de se recuperar o entusiasmo, bem como de ser derrotada a mentira dos donos do poder.

O candidato foi aplaudido de pé, obviamente por um auditório essencialmente tucano, encerrando seu pronunciamento com a exortação de “estamos prontos”.

O PT SENTIU O GOLPE

Evidência de que o governo e o PT sentiram o golpe foi a reação de parlamentares petistas horas depois da cerimônia do Plano Real. Diversos líderes do partido sucederam-se nas tribunas da Câmara e do Senado, tanto rebatendo as acusações de Aécio Neves quanto exaltando as realizações da presidente Dilma.

Coincidência ou não, a semana começou explosiva a partir da divulgação de pesquisa realizada junto à população de Brasília, quando Aécio Neves, pela primeira vez, suplantou a presidente Dilma nas preferências populares. Nem de longe esses números ofuscam a sólida vantagem da candidata sobre os concorrentes, em consultas nacionais, mas uma pequena luz amarela acendeu num semáforo distante.

Aguarda-se o desdobramento da campanha, parecendo óbvio que o PSDB trabalha para que Dilma não vença no primeiro turno das eleições, ensejando às oposições unirem-se em torno do ex-governador de Minas.