Rubens Nóbrega

Se a seca na Paraíba se prolongar por mais um ano e não tivermos um inverno digno desse nome em 2014, o Açude de Boqueirão esgotará sua capacidade de abastecer Campina Grande e demais cidades atendidas por aquele imenso manancial. Com isso, o abastecimento d’água da segunda maior cidade da Paraíba entrará em colapso e seus moradores terão que aguardar pelo menos até 2018 para voltar a beber água boa e tratada.

Porque só daqui a cinco anos, no mínimo, Campina e região serão servidas pela água que virá do Eixo Leste da transposição do São Francisco. Quem assim prevê é ninguém menos que o Professor Francisco Jácome Sarmento, uma das maiores autoridades do Brasil em recursos hídricos, com quem conversei esta semana através de i-meio sobre diversos assuntos de interesse da Paraíba.

Em uma de suas mensagens, ele mostrou-se particularmente preocupado com o que chama de ‘a novela de Boqueirão’, referindo-se ao que ocorre atualmente e desde algum tempo com a principal fonte abastecedora de água dos campinenses. Que poderiam estar livres de problema dessa magnitude se em 2003 o governo que sucedeu o Maranhão II, o Cássio I, não tivesse alterado o projeto da adutora de Acauã, originalmente destinada a suprir, também, a Vila Nova da Rainha.

Secretário de Recursos Hídricos do Estado de 1998 até o final de 2002, Sarmento comandou a construção da barragem de Acauã e outras grandes obras públicas na Paraíba, além de ter participado da elaboração do projeto de transposição das águas do rio São Francisco para o Nordeste Setentrional.
Do alto da sua experiência de gestor e dos seus vastos e aprofundados conhecimentos na matéria, no texto que me enviou, reproduzo a seguir em dois tópicos, Sarmento adverte para os efeitos catastróficos que poderão se abater ano que vem sobre 400 mil pessoas por conta de uma decisão política equivocada tomada há dez anos.
Sarmento: situação gravíssima
Em reunião ocorrida na semana passada aqui na Paraíba, ficou decido conjuntamente com a ANA – Agência Nacional de Águas – que o açude de Boqueirão deixará de atender a qualquer tipo de irrigação no entorno do seu lago ou rio abaixo (trecho que os engenheiros chamam de jusante da barragem). O objetivo é reservar toda a água que ainda resta para abastecer Campina Grande e mais de uma dezena de outras cidades servidas pelo Sistema Adutor do Cariri.
O Sistema Adutor de Acauã tem como fonte hídrica a barragem homônima. Foi licitado em 2001 e teve suas obras iniciadas em 2002. Com a assunção do novo governo em 2003, ao sabor daquele velho discurso de que aquela barragem jamais encheria, os então responsáveis pela Secretaria de Recursos Hídricos modificaram por completo o projeto da adutora retirando o tronco que, partindo de Acauã, levaria a água até Campina Grande. Mais: a supressão da segunda maior cidade da Paraíba do rol das cidades beneficiadas, ao invés de diminuir o custo da adutora, segundo o TCE (Tribunal de Contas do Estado), aumentou.
Hoje, Boqueirão está com cerca de 50% de sua capacidade preenchida e pelas razões mencionadas não há outra alternativa para o abastecimento de Campina. A situação é gravíssima e afirmo: se o inverno do próximo ano não resultar em aporte hídrico à barragem, haverá colapso absoluto no sistema de abastecimento da Rainha da Borborema e demais cidades atendidas pelo Sistema Cariri.
Sem a água da Transposição…

Espero, claro, que eu esteja enganado e que isso não ocorra. Mas, diante da impossibilidade de contar com o Eixo Leste da transposição do São Francisco, a situação poderá se tornar caótica. Afinal, como abastecer cerca de 400 mil habitantes e mais distrito industrial sem fonte de água?
Ainda que se recrutasse a frota de carros-pipa do Brasil inteiro isso seria impossível. Estimo que poderemos contar com o Eixo Leste, a julgar pelo andamento atual da obra, em 2018 ou 2020.
Por fim, lembro que desde 2004 a barragem de Acauã tem sangrado praticamente todos os anos. Hoje terceira maior represa do Estado, o aproveitamento de suas reservas faz falta a qualquer cidade que esteja enfrentando desabastecimento.
No mais, é dizer que tudo isso só vem reforçar o quanto é líquido e certo o ensinamento de uma velha e sábia lição: água não pode ser tratada como substância política.


Ataque aéreo na guerra política

Talvez por conta da idade e neurônios poucos, demorou cair a ficha diante do bombardeio ricardista sobre o prefeito Luciano Cartaxo, por conta de o alcaide ter ido de carona em jatinho particular assistir a uma corrida de Stock Car em Salvador. O dono da aeronave seria também ‘dono de cartório’, recém beneficiado por um refis da Prefeitura de João Pessoa.
Mas a bomba despejada sobre Cartaxo não foi acionada por qualquer – e súbito – furor ou pudor republicano. Foi, na verdade, canhestra tentativa de empatar o jogo com a oposição, que semana passada divulgou ter o Ricardus I utilizado o avião do Estado, mantido com dinheiro público, para levar a primeira-dama Pâmela Bório a uma festa em Minas Gerais.