fotoNonato Guedes

Há uma curiosidade natural das pessoas em relação aos bastidores do poder, ao conhecimento de alguns episódios que marcam o exercício da autoridade. Essas informações permitem conhecer traços da personalidade de alguns estadistas e o conteúdo de decisões que tomaram. Não há como esquecer a passagem de Getúlio Vargas pelos subterrâneos do Catete, sede do poder central, fincada no Rio. Chamado de Pai dos Pobres, Getúlio também foi o todo poderoso do Estado Novo, um regime com inspiração fascista, o que envolvia o culto à personalidade como adereço essencial. Nesses tempos do ditador Getúlio havia o DIP, um Departamento de Imprensa e Propaganda, treinado na arte de censurar o que fosse desagradável para a imagem do dono do poder.

Estado Novo determinou que as repartições públicas pendurassem na parede um retrato oficial do presidente. Em 1945, Vargas foi deposto e os retratos providencialmente retirados. Quando ele foi eleito em 1950, os retratos voltaram, inspirando uma música que fez muito sucesso, composta por Haroldo Lobo e Marino Pinto e interpretada pelo cantor Francisco Alves. O apelo era no sentido de botar o retrato do velho outra vez. Getúlio, é interessante, se considerava pouco supersticioso. Dizia apenas ter simpatia pelo número treze. Nada estranho se lembrarmos que Mário Jorge Zagallo, treinador da seleção brasileira tricampeã do mundo em 1970, cultivava o 13 como número da sorte. Getúlio suicidou-se no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração. Deixou uma Carta Testamento, acusando forças influentes de conspirarem para atrapalhar as reformas que pretendia executar em benefício do povo.

Detalhe: em seu diário, escrito em três de outubro de 1930, ele já insinuava que se mataria caso fosse derrotado na revolução que eclodiu naquele ano, tendo como pano de fundo o assassinato de João Pessoa, então presidente da Paraíba, conforme o jargão vigente na época. “Sinto que só o sacrifício da vida resgata o erro de um fracasso”, afirmava peremptório e num tom que acabou se revelando profético ou premonitório. Parecia que ele estava adivinhando que seria levado a um gesto extremo, que cometeu, colocando a nação em estado de choque. “Quando terminar o meu mandato, serei um vivo-morto, como tantos outros que circulam por aí”, prognosticava, fatídico. Getúlio tinha 1,60 metro e detestava sua altura. Em razão disso, os fotógrafos oficiais eram obrigados a usar um truque para tentar mostrá-lo maior do que era.

Em 1936, o governo de Vargas entregou a alemã Olga Benário, mulher do líder comunista Luís Carlos Prestes, ao governo de Hitler. Judia e comunista, Olga morreu na câmara de gás de um campo de concentração em 1942. O cearense José Linhares, que assumiu em substituição a Getúlio em 45, gostava de empregar parentes no governo. Em três meses de mandato, nomeou tantos parentes que o povo dizia: “Os Linhares são milhares”. E tivemos Jânio Quadros, o mentor de factóides. Quando era governador de São Paulo em 1957, Jânio proibiu a execução de músicas de rock and roll em todos os bailes realizados no Estado. Ao assumir a presidência da República, quatro anos depois, Jânio foi mais longe: proibiu o uso de maiôs em concursos de beleza, biquíni nas praias, lança-perfumes, corridas de cavalo em dias úteis, brigas de galo e espetáculos de hipnose em lugares públicos. Antes de embarcar para São Paulo num avião oficial, Jânio fez questão de limpar os sapatos. “Não quero levar sequer a poeira de Brasília”, justificava.

Costa e Silva gostava de jogar pôquer, apostar nas corridas de cavalo e resolver palavras cruzadas. Garrastazu Médici era portador do mal de Parkinson e foi atormentado por crises de labirintite várias vezes durante seu mandato. E apesar do porte atlético que gostava de exibir, João Figueiredo foi o que mais sofreu. Teve dores na coluna, problemas de visão e precisou implantar duas pontes de safena. Sarney, durante sua permanência no Planalto, faltou várias vezes no trabalho por causa de enxaqueca e dores nas costas. Em momentos de grande ansiedade, ele sofria uma espécie de urticária, que lhe avermelhava os cantos da boca. E há Collor. Ganhou popularidade quando presidiu o CSA, time mais popular de Alagoas, em 1976. Em junho de 89, durante a campanha, ele foi entrevistado no programa de Jô Soares. Em dado momento, Jô interrompeu o entrevistado: “Fernando, eu não suporto gente que conversa olhando de lado. Fala mais comigo e menos com a câmera, homem”. Bobagem perguntar se o Brasil merecia todos eles. Definitivamente, eles entraram para a História.