Paulo Santos

A decisão de fechar os postos de gasolina a partir das 18 horas, o terror dos passageiros de ônibus, o receio de ir a bares e restaurantes na orla marítima no horário noturno, pânico de pais e mães quando os filhos saem à noite, a proibição de crianças brincarem na rua em qualquer dia ou horário.

Esses são alguns exemplos de que o morador de João Pessoa, capital da Paraíba, vive hoje numa cidade sitiada. As ruas não têm mais as tradicionais “peladas” da meninada, as cadeiras desapareceram das calçadas e viraram fumaça os bons “papos” de vizinhos. Nem pensar em ir de um bairro a outro a pé.

Essas observações não são resquícios de romantismo ingênuo nem crise de saudosismo. São apenas alguns ingredientes do quadro caótico da segurança pública desta cidade, cujos moradores praticamente vivem – o que não é “privilégio” ou “exclusividade” – em regime de prisão domiciliar.

Semanas atrás, numa sexta-feira pela manhã, o bem intencionado secretário de segurança dizia em entrevistas, no Palácio da Redenção, que os índices de criminalidade caíram em níveis parcimoniosos, mas haviam despencado. E despejou índices e mais índices de estatísticas levantadas pelos seus auxiliares.

Parece que a bandidagem o ouviu e, naquele mesmo dia, começou um festival de matança – sobretudo de jovens – na Grande João Pessoa, se arrastando por todo o final de semana, até parar em 11 homicídios. Pouco mais de uma dezena de pessoas sacrificadas por armas de fogo, faca foi e outros instrumentos usados pelos malfeitores.

A expressão “acerto de contas” tem mais prestígio no vocabulário policial, nos dias de hoje, do que qualquer outra. É uma forma simplória de avisar aos pobres que não se manifestem porque ninguém irá investigar quem atirou e matou um menino de 13, 14, 15 ou 16 anos em Cruz das Armas, no Porto João Tota, na linha do trem de Mandacaru ou no Alto do Mateus.

Não se deve execrar a Polícia por esse quadro de insegurança. Os bons policiais prestam seus serviços da melhor forma possível, apesar dos baixos salários, do pouco armamento, da vaidade exacerbada de quem comanda policiais civis ou militares. É difícil a missão, mas a maioria a cumpre.

Quem usa transporte coletivo em João Pessoa frequentemente sujeito a longas esperas nos pontos de ônibus e quando não é assaltado num deles pode ser no interior do veículo. Pessoas circulam livremente portando armas, constrangendo senhoras e mocinhas, intimidando garotos ou tentando atraí-los para o tráfico.

E assim, pedaço a pedaço, como num filme macabro, essa população abandonada e à mercê dos bandidos, segue a triste sina de não ser alvo o predileto dos que são responsáveis pelo bem comum, mas sim os condenados por um sistema político atrasado, corrompido, caindo de podre e sem perspectivas de melhorar.