Cícero busca saídas para manter candidatura

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Nonato Guedes

O senador Cícero Lucena (PSDB) não abre mão da candidatura à reeleição em 2014. Está fora dos seus planos, por exemplo, candidatar-se a deputado federal. A dificuldade de Cícero está em acomodar sua aspiração na lógica de uma aliança em apoio à reeleição do governador Ricardo Coutinho (PSB). Ele tem “Senas” acumuladas com Ricardo e não o apoiou em 2010 quando Cássio Cunha Lima, seu parceiro de batalhas políticas, concebeu a estratégia para apoiar Coutinho como forma de derrotar José Maranhão, que assumira a cadeira de Cássio em 2009 quando este foi cassado pela Justiça. Cícero tem consciência de que sua situação não é confortável para 2014. Ele já deixou claro que seu sonho seria repetir a chapa de 2006, em que ganhou a vaga e Cássio foi eleito governador. Mas Cássio tem dito que não cogita disputar o governo no próximo ano e que seu propósito é o de apoiar Ricardo desde que ele contemple o PSDB com duas vagas: a de vice-governador e a de senador.

Tido como o líder político mais cortejado na conjuntura atual na Paraíba, até por ex-adversários de outras legendas, Cunha Lima tem consciência do papel de destaque no cenário estadual e move-se no sentido de tirar proveito dessa circunstância. Algumas lideranças tucanas já se pronunciaram na linha de raciocínio de que o PSDB não pode deixar de ter candidato próprio ao governo, até como tática para ceder palanque ao senador mineiro Aécio Neves, presumível candidato tucano a presidente da República e amigo pessoal de Cunha Lima. Os dois foram governadores num mesmo período e Cássio chegou a transplantar experiências de modernização administrativa adotadas em Minas por Aécio para a máquina do governo da Paraíba. Convivendo no Senado, eles aprofundaram o relacionamento. “Tocam de ouvido na abordagem das questões mais polêmicas, sobretudo nas críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff”, confirma um deputado federal paraibano que monitora os passos dos seus colegas em Brasília.

Cícero tem mais ligações com José Serra. Quando Serra foi ministro do Planejamento no governo de Fernando Henrique Cardoso, Lucena ocupou uma secretaria de Políticas Regionais, que teoricamente tinha status de ministério mas que, na prática, era vinculada à Pasta que Serra exercia. Nas campanhas presidenciais que Serra disputou, Cícero estreitou a relação com ele. Essa proximidade faz com que surjam insinuações de que Lucena poderia acompanhar Serra se este assinasse ficha de filiação no novo partido que está sendo criado, denominado de Mobilização Democrática, resultante da fusão do PPS com o PMN. A migração poderia ser boa para os dois. Serra ganharia passaporte para concorrer ao governo de São Paulo e Cícero ficaria livre para concorrer à reeleição ao Senado na Paraíba sem precisar figurar no palanque do governador Ricardo Coutinho. Mas a vantagem de Cícero, com a migração, seria apenas aparente, já que, como contrapartida, ele poderia perder o apoio de Cássio, que considera decisivo para vitoriar em 2014, sobretudo amealhando votos em Campina Grande, que é o segundo colégio eleitoral do Estado.

 

Cássio, na hipótese de desfiliação de Cícero do PSDB, estaria à vontade para apoiar plenamente a candidatura de Ricardo Coutinho à reeleição e adotaria como alternativa ao Senado o atual vice-governador Rômulo Gouveia, que é presidente estadual do PSD. Para Cássio, seria mais cômodo fechar com Ricardo e Rômulo do que tentar emplacar a “opção Cícero” na composição com o governador atual. Oficialmente, os protagonistas do enredo evitam se manifestar sobre essas hipóteses, mas elas estão sendo trabalhadas nos bastidores, e há uma expectativa quanto ao rumo que pode vir a tomar a nova agremiação resultante da fusão que será sacramentada amanhã em congresso extraordinário em Brasília. Em último caso, havendo a desfilação de Cícero do PSDB, Cássio pode apostar fichas em outro nome do partido para o Senado: o deputado federal Ruy Carneiro, que atualmente preside o diretório estadual. Embora procure agir como algodão entre cristais, conciliando divergências no ninho tucano, Ruy tem suas próprias ambições em jogo e ultimamente tem sido bafejado por Cássio com elogios, pela sua atuação parlamentar e partidária. Em meio a toda essa arrumação, quem tem mais pressa é o senador Cícero Lucena, que precisa definir o quanto antes qual a melhor opção para encaixá-lo na disputa majoritária de 2014.