Cícero ainda crê no rompimento Cássio-Ricardo

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Nonato Guedes

Enquanto o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) valeu-se do Twitter para postar imagens da missão parlamentar empreendida à Antártica, em nome do Congresso, o senador Cícero Lucena veiculou declarações à imprensa paraibana reafirmando a convicção pessoal de que Cássio possa romper com o governador Ricardo Coutinho (PSB) em 2014 e assumir o projeto de candidatura própria ao Palácio da Redenção. Há muita polêmica a respeito do assunto. Alguns juristas especulam que Cássio pode ser alvo de impedimento resultante do desdobramento da Lei Complementar 135 no que diz respeito a uma nova postulação ao governo. Outros, como Johnson Abrantes, insistem no ponto de vista de que não há qualquer impedimento legal contra uma eventual candidatura de Cássio e que ele já teria cumprido sanções decorrentes da chamada Lei da Ficha Limpa, que chegou a contestar na sua essência, no ponto que lhe atingiu.

Há o impasse político, também. Sobre isto, o comentário de alguns ricardistas é de que Cássio não tem razões para romper com o governador, em primeiro lugar porque este passou a prestigiar aliados do senador e tem contemplado, na medida do possível, os pleitos apresentados pelo prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que tem como vice o empresário e advogado Ronaldo Cunha Lima Filho (Ronaldinho), além de estabelecer parcerias com outros administradores que seguem a orientação do ex-governador tucano. Cícero, particularmente, parece convencido de que a cúpula nacional do PSDB terá influência para que Cássio concorra ao governo, dentro da estratégia do partido de fazer o maior número possível de gestores estaduais, alavancando a virtual candidatura do senador Aécio Neves a presidente da República.

A última manifestação enfática de Cássio sobre o tema, quando provocado por jornalistas, foi no sentido de que vai aguardar um posicionamento do governador Ricardo Coutinho sobre as composições que pretende estabelecer para a campanha à reeleição em 2014. A partir daí, pretende monitorar as articulações do governador e mapear as composições que porventura ele possa estabelecer no quadro pré-eleitoral. Fontes ligadíssimas ao senador asseguram que não há, da parte dele, patrulhamento a eventuais adesões, oriundas até do PMDB, que o governador Ricardo Coutinho possa vir a aceitar, desde que isto não sacrifique os espaços dos aliados de Cássio, que são definidos como aliados de primeira hora de Coutinho desde quando ele resolveu se lançar candidato em 2010 e alguns políticos chegaram a insinuar que sua candidatura não passaria da ponte do rio Sanhauá.

A vantagem, para Cássio, é a de que uma aliança de Ricardo com o PT é inviável no Estado, já que o partido do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff ataca diretamente o governo paraibano e questiona métodos de ação do próprio Coutinho, um ex-petista. A boa relação entre o governador e a presidente Dilma é colocada no quesito normal da relação institucional, tal como se deu entre Cássio e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujos partidos (PSDB e PT) tornaram-se adversários viscerais no cenário político nacional. Os petistas cortejam o PP, que tem como expressão maior na Paraíba o ministro das Cidades, Aguinaldo Cidades, e partidos-satélites como o PSC do ex-senador Marcondes Gadelha, podendo avançar em composições com o PTB e com alguns políticos que estão insatisfeitos dentro do PMDB. A grande incógnita continua sendo: quem encabeçará uma chapa com esse arco de forças?

Em termos de recomposição política, alguns analistas acreditam que é mais fácil levar o senador Cícero Lucena a se compor, finalmente, com o governador Ricardo Coutinho, do que atrair Ricardo para uma aventura com o PT, em que corre o risco de ser cristianizado em plena campanha e abandonado à própria sorte. O governador investe preferencialmente na manutenção da aliança com o PSDB e o DEM, presidido pelo ex-senador Efraim Morais, atual secretário de Infraestrutura do governo estadual. Fora daí, poderá atrair outras legendas alternativas que estiverem disponíveis no horizonte. Mas, em termos de nomes, que é o fato que interessa à maioria dos observadores políticos, a aliança entre Ricardo e Cássio, para todos os efeitos, continua vigorando e tem chances de ser preservada. É um dado que terá que ser conferido de perto pelos que só acreditam vendo. Ou seja, os São Tomé da política paraibana.