Por Gonzaga Rodrigues
O Capim Açu é um engenho de fogo morto onde nasceu Pedro Gondim. Fica entre seios de serras, no regaço por onde passa o caminho que desce de Alagoa Nova para Alagoa Grande. Sua parte com Pedro Gondim dista longe, muito longe. Quando eu era menino o engenho já pertencia a Otavio Leite e dava-se graças a Deus ficar distante pela fama braba do seu dono. Lá em casa não se falava nisso, mas na casa de farinha, pegada com o terreiro, as conversas eram assombrosas.
Hoje tudo isso é ruína, o engenho, a casa de morada, a imponência de Seu Otávio, que vestia lorde e cavalgava melhor tantas vezes quantas o visse passar dominando a estrada ao lado.
Vindo de Alagoa Grande, outro dia, deitei o olhar sobre o Capim Açu. Encostei no aceiro e fui vendo o que o sol daquele dia não iluminava. E me vi rapaz, já homem, hóspede do coronel mal encarado, graças a amizade de escola com seu filho, Roosevelt, que terminou em afeição à família inteira. Ali parado, sozinho, desejei chorar, mas não mereci essa alegria.
Um minuto, dois minutos… Quanto tempo! Ouço bem vivas as referências da minha mãe a Dona Eulina, mulher do major Inácio Gondim, pai de Pedro e prestimoso conselheiro de meu pai. Depois, lá vem Pedro cortando o vento numa motocicleta gigante, voando sob a cebeleira, advogado já feito na região, mas ainda saudado como o filho de Inácio Gondim. Bandeara-se para Serraria, onde terminou eleito como filho, esposo e deputado.
Corre célere o carretel do filme, e o deputado já é governador. Aí chamam um repórter ao Palácio, que Sua Excelência precisava ditar uma nota. Sete da manhã, o café servido ainda sob os lustres da copa do 1º andar, o cortinado aberto para as caravelas de azulejo azul do pátio interno. O governador, a jovem esposa, o repórter e Manuel Costeira, sub-gerente do jornal, portador da convocação. Era uma nota sobre a Codebro, entidade criada pelo governo anterior, a que Pedro fazia oposição, agora com a garantia expressa de continuidade com a expansão da Chesf. “Quero ver isto em Alagoa Nova!”.
Tudo anotado, o rapaz pede licença e ao levantar-se é convidado para o café, o governador já sugando as últimas gotas amargas da xícara. Seu café era sem doce, desde que uma das tias reclamara o estrago ao sobrinho que haviam acolhido.
“ Você é de onde?” Respondi sem supor que valesse alguma coisa. Havia tanta distância, tanta…
Mas veio ficar mais perto, bem perto, desde uma visita que S. Excelência fez ao Clementino Fraga e, sem dar ouvido às advertências, abraçou comovido o repórter ali internado.
No governo, criou órgãos dinâmicos, fundou distritos industriais, construiu escolas, estradas, calçou metade da capital. E ali parado, associando o engenho ao centenário de Pedro, ano que vem, o que me oprimia com mais insistência era aquele abraço sem cal nem placa difícil de aparecer entre as suas obras.