Cassistas arrependidos

Rubens Nóbrega

A coluna de hoje é dos leitores. Literalmente. Começando por aqueles que se transformaram em eleitores arrependidos por terem votado em Ricardo Coutinho para governador nas eleições de 2010.

Os desalentados, decepcionados e desiludidos estão exemplarmente representados neste espaço por Zé da Silva, que descobriu – até por que não sabia – ser hoje adversário do candidato no qual votou ano passado.

“Aliás, não só eu, mas praticamente todos os seguidores de Cássio. Pelo menos é o que os integrantes do Coletivo RC dizem e tratam aqueles que votaram em Ricardo a pedido de Cássio”, observa.

Zé da Silva constata ainda que os ricardistas origem “acham que o Mago ganhou a eleição apenas com os votos dele e do Coletivo, quando toda a Paraíba sabe que sem o apoio do grupo Cunha Lima a candidatura do PSB não ultrapassaria a ponte Sanhauá”.

O nosso desencantado (e)leitor confessa que sofre, particularmente, quando encontra cassistas vagando feito zumbis pela cidade, órfãos de empregos e gratificações, tendo ainda que agüentar calados a gozação de ‘girassóis’ que a todo instante perguntam “quando o senador de vocês vai tomar posse?”.

“Além de tudo, enxergamos hoje a loucura que foi não ter brigado pela candidatura Cícero, pois aí sim chegaríamos ao poder, com a vantagem de não ter que ver um escândalo atrás do outro na mídia nacional como estamos vendo hoje”, lamenta.

Zé da Silva promete “trabalhar e lutar por Cícero para prefeito da Capital, pois aí saberei que não sou adversário e ao menos terei um governante que tem a consciência de que só se elege com ajuda dos amigos e do povo”.

E arremata: “Finalizando, espero nunca mais em outras eleições ter que dizer a mim mesmo que sou adversário (do governo que ajudei a eleger) e não sabia”.

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Conheço e me relaciono bem com muitos cassistas. Alguns deles, mais próximos do líder, não escondem nem do colunista o tamanho da insatisfação com o tratamento que recebem do Ricardo I e, principalmente, com os rumos do atual governo.
Evidente que o ex-governador Cássio Cunha Lima não endossa, pelo menos publicamente, as decepções e reclamações de seus seguidores, mas queixas como a de Zé da Silva devem chegar diariamente ao seu ouvido e juízo.

Desde a entronização de Sua Majestade muitos tentaram, mas não conseguiram que o Doutor Cássio lhes auscultasse o coração para sentir as aflições, angústias e mágoas de quem foi preterido e de forma alguma aproveitados pela nova ordem.

Mas o chororô chega de uma maneira ou de outra ao ex-governador, por sua própria percepção ou por saber que os descontentes costumam visitar – assiduamente, em romaria – a casa, a paciência e as ponderações do pai de Cássio.

A visitação parou, por enquanto, porque o ex-governador Ronaldo Cunha Lima está sem condições de jogo, entregue ao departamento médico, forçando os cassistas mais sofridos e menos reprimidos a elegerem outros muros das lamentações.

Pelo visto, sou um deles. Agradeço e garanto que bem-aventurados são os desprezados e esquecidos, porque um dia retornarão ao paraíso. Zé da Silva, por exemplo, acredita que o retorno já tem data certa para acontecer: 1º de janeiro de 2013.

E aí, tem ou não shopping?

O deputado André Gadelha (PMDB) levantou ontem no Polêmica Paraíba (Paraíba FM 101.7) uma lebre surpreendente: por enquanto, esse negócio de Mangabeira Shopping é só conversa pra boi dormir ou  inglês ver.

Isso porque não existe qualquer menção sequer à palavra shopping no projeto encaminhado pelo governador à Assembléia, pedindo autorização para fazer a permuta do terreno da Acadepol por um bem menor e bem mais barato no Geisel.
Chateado porque não percebi antes esse detalhe, tratei de conferir na cópia que tenho da Mensagem nº 033, de 14 de junho de 2011, e do Projeto de Lei nº 277/2011, ambos assinados por Ricardo Vieira Coutinho, o governador.

Realmente. Li do começo ao fim e do fim pro começo e, sinceramente, não vi uma linha, uma palavra sequer que condicione a permuta à construção, no terreno de Mangabeira, de um shopping center.

É por demais preocupante ver como esse governo encaminha as coisas. Primeiro, tenta aprovar a matéria na pressa, sem discussão ou avaliação prévia dos terrenos. Aí, a oposição reage, faz barulho e apresenta emendas para melhorar o projeto.

Diante disso, o que faz o governador? Vai à luta, à imprensa e a plenárias claqueadas para dizer que o negócio é prego batido, ponta virada, que vai gerar mais de 2,5 mil empregos, R$ 200 milhões em receitas etc. e tal.

Sua Majestade defende com ardor e fervor o seu projeto. Desde que, evidentemente, atenda ao interesse de Roberto Santiago, “dono do Manaíra Shopping e do coração republicado de Ricardo Coutinho” no dizer de um amigo analista político.

Depois disso tudo, a gente lê o projeto, a mensagem do governador e… Nada de shopping! O que deixa muita pulga atrás da orelha: será, como dizem, que no final o show do Ricardão vai acabar mesmo é numa casa de shows em Mangabeira?

Torço para que não. Seria tremenda frustrante para o povo de Mangabeira, que deseja e sonha com o dia em que lá será inaugurado um shopping center, que na vera só está sendo defendido mesmo é pela oposição.

Prova é a emenda Gervásio Filho, que submete o negócio à concorrência pública e assegura que o adquirente do terreno da Acadepol construa lá um shopping, num prazo máximo de três anos, sob pena de o imóvel retornar ao patrimônio público.
Tentei passar a limpo essa história com o próprio governador Ricardo Coutinho, enviando-lhe ontem à tarde a mensagem a seguir. Lamentavelmente, a exemplo de tantas outras anteriormente encaminhadas, essa também não teve retorno:

– Senhor Governador, por que, ao contrário do que foi amplamente propalado por Vossa Excelência, o Projeto de Lei de vossa autoria que autoriza o Poder Executivo a permutar o terreno da Acadepol não vincula, não amarra, não condiciona a troca à construção de um shopping em Mangabeira? Vossa Excelência vai liberar sua bancada na Assembléia para aprovar as emendas da oposição que submetem o negócio à licitação pública e obrigam o vencedor da concorrência a construir um shopping center no local num prazo de três anos, sob pena de o imóvel ser reincorporado ao patrimônio público estadual?

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Como sempre, coloco-me à disposição. Se algum dia chegar alguma resposta, quando chegar será publicada.