...Cássio tem sorte porque criou um monstrengo que causa assombro mais a si mesmo do que a ele, Cássio...

AS ASSOMBRAÇÕES DE 2014

Gilvan Freire

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Há algum tempo, especialmente depois que o PMDB se dividiu em duas bandas – uma liderada por Zé Maranhão no governo e a outra por Ronaldo e Cássio na oposição -, a política no Estado vinha mesmo girando em torno dos dois segmentos, até que Cássio assumiu o papel principal de seu lado e criou o cassismo, uma instituição popular movida a pernas, emoção, carisma, povo e ruas.

Do outro lado, Maranhão comandava o maranhismo, sua grife política baseada no governo, na força eleitoral e histórica do PMDB – que ele herdou como sigla na disputa com os Cunha Lima – e no conceito de bom gerente da máquina pública, que distribuiu obras por toda a Paraíba. Data desses tempos a maior rivalidade política já acontecida no Estado nos últimos quarenta anos. Estava previsto: um dia a coisa deveria mudar, porque outros personagens estavam aparecendo no cenário, a partir dos grande centros urbanos – Veneziano em Campina e Ricardo Coutinho na Capital -, o primeiro contestando diretamente Cássio, e o outro se encostando em Maranhão, de quem pensava herdar o legado estadual.

 A briga chegou ao inusitado de Maranhão e Cássio dividirem o mesmo governo em dois, salomanicamente cabendo dois anos de governo para cada um. Mas isso não contentava, pois cada qual queria um governo inteiro. E foi a partir daí que as coisa caminharam para um desempate, o que levou Cássio a atrair RC e desequilibrar as disputas, botando Ricardo debaixo do sovaco e o elegendo governador com o objetivo único de derrotar Zé, enfraquecendo-o em João Pessoa, território de domínio de RC.

 

A engenharia seria perfeita não fosse o risco de Cássio destronar Zé e botar no lugar dele um lobisomem, para depois se assustar com ele. Cássio preferiu esse risco do que o maranhismo, já encastelado num governo de grande poder de fogo. Maranhão sucumbiu e Cássio triunfou e se fez poderoso absoluto, com o risco de ter de suportar a maldição do criador, quase sempre vítima preferencial de suas criaturas políticas. Política sem traição parece uma sopa de batata sem sal, ou um caldo de peixe insosso. Enquanto Cássio arquitetava suas invenções táticas arriscadas, Maranhão nutria Veneziano, a fim de pegar Cássio na próxima esquina, vez que, em Campina, já o tinha enfrentado na arena municipal.

 

Posta a situação hoje, este é o quadro real, em que Maranhão disputa com Cássio e RC, através de Veneziano, e Cássio se defronta com o lobisomem que ele próprio criou.

O que está evidente é que Cássio agigantou-se perante os eleitores porque destronou Maranhão e entronizou um liderado, para quem transferiu votos e nem precisou transferir ambições e soberbas.

 

Mas, o que mais fez Cássio crescer? Não há dúvidas: o fracasso político administrativo de Ricardo Coutinho, a sua imensa capacidade de desagregar e desagradar, e um governo fantasioso que só o governante acha (ele sozinho) que faz a maior administração de todos os tempos, invisível, porém, aos olhos da população. Tivesse RC feito um bom governo e isso parecesse real aos olhos do povo, e não fosse tão mau quanto tem sido, nem tão presunçoso como faz questão de ser, o tamanho de Cássio seria outro, provavelmente menor, porque o povo agora quer que ele mate o lobisomem que criou, que assusta menos a ele do que ao resto da população. E esse apelo faz Cássio crescer ainda mais.

 

Nisso Cássio tem sorte porque criou um monstrengo que causa assombro mais a si mesmo do que a ele, Cássio. Mas o X da questão hoje é bem outro, que complica o meio de campo do território mal assombrado da política: qual será o papel de Veneziano, que faz oposição ao lobisomem e a seu criador ao mesmo tempo? Qual o discurso e suas razões que pode convencer mais o eleitor nessas eleições? RC morrerá mas deixará baleado seu inventor? Veneziano morrerá imprensado entro os  rochedos?