CÁSSIO PRECISA FALAR MAIS, POR PAULO SANTOS

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) foi eleito com mais de um milhão de votos obtidos em todos os municípios paraibanos. Eleitores dos mais inóspitos rincões, de Cabedelo a Cachoeira dos Índios, saíram de casa em 2010 para dar-lhe um lugar no Senado Federal confiando que seriam bem representados. E o são, se diga hoje, três anos depois.

Mais do que isso: mais gente, além dos que o sufragaram nas urnas, saiu de casa para endossar o casamento político com o então ex-prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, no qual o líder do clã Cunha Lima foi juiz, padre e dono do cartório que referendou a aliança vitoriosa.
No intervalo entre o pleito de 2010 e a véspera do Natal de 2013 muitos fatos da política da “pequenina e heroica” – vários originados nos labirintos do Palácio da Redenção – fizeram com que declarações do senador Cássio Cunha Lima saíssem dos tons de comentários corriqueiros para ganhar contornos de cunho bombástico.
Foi assim quando se manifestou a respeito do conflito entre o Governo do Estado e a UEPB por conta das reduções das verbas destinadas à instituição. Ele, inclusive, foi a uma audiência pública que discutiu a questão no Congresso Nacional. Idêntico frisson tirou a Paraíba da rotina quando falou a respeito dos célebres PCCRs aprovados em seu Governo, pagos religiosamente por Maranhão e intempestivamente subtraídos na atual gestão.
Sempre que Cássio usa tom critico em relação a algo que envolve o Governo Ricardo Coutinho surgem vozes, autorizadas ou não, para culpar a imprensa de superdimensionar as declarações do senador. Micro-estafetas governamentais até ousaram revidar algumas dessas observações e terminaram na guilhotina do Diário Oficial.
Cássio sempre conseguiu amortizar a efervescência surgida em torno das suas palavras em esporádicas observações a respeito do Governo e não se pode – nem deve – esperar atitude diferente de quem sabe que, no plano estadual, é o principal protagonista da cena política. Suas responsabilidades com o projeto instalado no Palácio da Redenção vão além do que possa imaginar nossa vã filosofia.
O senador campinense, entretanto, não é infalível. Sua mais recente “aparição” nos veículos de comunicação da Paraíba ocorreu, salvo engano, no final de semana passado em entrevista ao competente radialista Juarez Amaral, numa emissora da pacata e brejeira Esperança.
De acordo com o que circulou nas redes sociais, Cássio teria proferido um “basta” nos cada vez mais alarmantes índices de bandidagem que ocorrem na Grande Campina, apesar do hercúleo esforço do comandante da PM na região, Sousa Neto, trabalhando com efetivo raquítico e equipamento inferior aos dos marginais.
Não deixa de ser alvissareiro saber que o senador está “antenado” com os problemas da população paraibana e não poderia ser diferente, pois o Senado põe á sua disposição um arsenal de meios com os quais não apenas se informa, como informa suas atividades aos eleitores. E olhe que não são poucas atividades.
Alguns aspectos desse episódio, porém, merecem ser avaliados. Em primeiro lugar, se diga também, a intervenção de Cássio tem caráter positivo, mas ele precisa expandir seu arguto olhar para as demais regiões do Estado e informar-se, também, sobre alarmantes índices de bandidagem que acometem o Litoral, o Sertão, o Curimataú, o Agreste, etc.
Ao se reportar especificamente aos problemas de Campina Grande, sem a pretensão de fazê-lo, Cássio reduz a dimensão do seu mandato senatorial à de mero vereador, além de fomentar ilações sobre um possível bairrismo nas suas atitudes, o que é inaceitável em face de suas ligações com a Capital e todos os outros municípios.
Todos deveriam compreender que Cássio não fez aliança em 2010 para impor um modelo de Governo tampouco ficar teleguiando quem está á frente da “máquina” oficial, mas seria razoável que o senador compreendesse também os anseios da população que, mesmo pagando uma exorbitância de impostos, vive acuada de Cabedelo a Cachoeira dos Índios em verdadeiras prisões domiciliares e sofrendo desde os pequenos furtos até as invasões de escritórios e residências que, quase sempre, resultam em homicídios.
O que diz Cássio, por exemplo, sobre o também crescente extermínio de jovens na Grande João Pessoa vítimas do tráfico de drogas? O que sabe o senador a respeito da falta de Unidades de Medicina Legal em importantes municípios do Estado que resulta na exposição de cadáveres em via pública por quase 24 horas à espera de remoção? O que pensa o líder do clã Cunha Lima a respeito de centenas de soldados da PM que, nas horas de folga, trabalham para empresas de segurança privada para completar a feira mensal? Há muitos outros pontos que merecem atenção, não apenas de Cássio, mas de toda a classe política. O senador tornou-se “bola da vez” por conta de sua credibilidade, do respeito que é merecedor e por ser um dos poucos, nesse vácuo de lideranças, acreditado pelo eleitor. Que ele fale outras vezes e sem receios de colocar suas alianças políticas em risco.