Cássio já é o maior adversário de RC

Gilvan Freire

Bafejado pelas ruas por onde passa e festejado por líderes e eleitores em todo lugar, Cássio Cunha Lima vive hoje o seu apogeu político. Nem mesmo precisa ter uma atuação muito destacada no Senado, onde brilha menos do que pode, porque sua maior projeção política está mesmo na Paraíba, a terra prometida desses últimos tempos.

Cássio continua crescendo, depois de ter sido governador por duas vezes, e está chegando ao ponto em que decide eleições estaduais em faixa própria e ainda pode decidir as eleições dos outros, se não puder disputar.

A situação de Cássio está beirando a de um fenômeno, porque não precisa fazer nada para continuar se expandindo e cresce com a mesma facilidade com que os outros líderes parecem decrescer. Por que isso?

É verdade que Cássio colhe ainda os frutos da boa administração que fez no governo e da competente gestão política com que atuou nos últimos anos, costurando alianças e conquistando partidos, deputados, prefeitos e vereadores em todo o Estado, chamando quase a totalidade deles pelos nomes próprios e até apelidos de família. Ainda é novo e esbanja o charme de outros tempos, e aprendeu no sofrimento que as feras só devoram suas vítimas se elas se desgarram dos rebanhos.

Mas tudo isso é apenas um lado do sucesso que Cássio faz por onde merecer. O outro vem de fora para dentro, e diz respeito a forma como se comportam seus adversários mais duros e seus presumíveis concorrentes, todos buscando os espaços de escapatória que Cássio cada vez mais vem estreitando. De que se trata?

A VITÓRIA DE CÁSSIO PRO SENADO, já fora do governo e acossado de perto pela máquina maranhista, liderada pelo histórico rival Zé e seu governo tonto de estratégias políticas, deu-se sob a comoção social que não aceitou sua exposição ao martírio da cassação polêmica e de seu sofrimento pessoal explorado na campanha. Foi ai que virou santo e rei. Santo do povo e rei dos reis, diante da derrocada de outros soberanos. A partir daí, quem perdeu a coroa ficou menor e quem foi coroado reinou absoluto, mesmo fora do trono.

Contudo, a ascensão desembestada de Cássio está também baseada no esmorecimento de seus principais adversários (Veneziano e Maranhão), ambos avariados pelas ultimas derrotas no Estado e em Campina, cidade que Cássio retomou em homenagem ao pai morto.

Mas, de tudo o que mais conta, talvez, descontados seus merecimentos políticos pessoais, seja a sua cobertura decisiva à eleição de Ricardo Coutinho que, se tivesse dado certo no governo, Cássio já estaria mais diluído.

Na medida em que o governo de RC descambou para a repulsa popular de mais de 30% da população, e decepcionou uma classe política inteira, especialmente os aliados do cassismo, Cássio foi ficando ainda maior, porque todas as esperanças depositadas no magro foram na mesma proporção emagrecendo, enquanto engordam sob a liderança do Senador.

Enfim, Cássio recebe todos os benefícios de seu próprio jeito de liderar, e ainda dos que não têm jeito de líder.

Por hora, tudo vai dando certo, mas Cássio poderá sofrer grandes problemas decorrentes de seu crescimento, precisamente porque cresce por cima dos que não se conformam em ficar por baixo. Ricardo Coutinho nunca perdoará Cássio por ter lhe colocado numa posição tão inferior. É Cássio, certamente, terá de pagar por isso. Afinal, rei fora do posto não pode querer ser maior do que rei no trono.