Cássio fecha com Cícero

Rubens Nóbrega

Não acredito, sinceramente, que o círculo íntimo da Corte ricardista tenha gostado um tico da entrevista que o senador Cássio Cunha Lima concedeu ontem ao programa Correio Debate, da 98 FM de João Pessoa.

Começando pelo próprio Ricardus I, que imagino tenha ouvido de cenho franzido a gravação da entrevista, já que no mesmo horário o monarca estava ouvindo a si próprio ou concedendo ‘entrevista’ à emissora real, quer dizer, oficial.

Digo isso porque é na segunda-feira ao meio dia que a Tabajara transmite para todo o reino, quer dizer, para todo o Estado, aquele programa que ronaldistas, maranhistas e cassistas chamavam de ‘Palavra de Honra’ ou ‘Palavra do Governador’.

O mesmo programa deve se chamar agora ‘Palavra de Rei’ e deve dar um trabalho danado editar quando é gravado. Dizem que o gravador da rádio ‘dá a mulesta’ e não consegue fazer a ‘fita’ voltar atrás. Igualzinho à palavra do ‘entrevistado’.

Bem, mas vamos ao que interessa, ou seja, à entrevista de Cássio e suas repercussões entre os ricardistas mais ortodoxos.

Primeiro, vou logo avisando que esse apanhado eu fiz com base no que publicou o Portal Correio sobre a entrevista. Isso porque na hora em que o senador estava na 98 eu estava sintonizado, como sempre, no Polêmica Paraíba, da Paraíba FM.

Bem, segundo o portal do Sistema Correio (‘Cássio revela bastidores de sua relação com Ricardo Coutinho’, título da matéria postada às 13h22 de ontem), o senador disse que já não fala há algum tempo com o soberano, quer dizer, com o governador.

Mas isso não significa estranhamento ou rompimento, tratou logo de esclarecer Sua Excelência. “Nada sinaliza isso: nossa relação é ótima, civilizada, respeitosa e procuro colaborar sempre com Ricardo”, garantiu.

A partir daí, começa a complicar. Primeiro, o senador observa que “ao contrário do que muitos pensam”, não tem “tanta interferência no governo”. Quer dizer: ele interfere, sim, mas nem tanto.

Na sequência, o senador repete que vai contribuir “para que Ricardo Coutinho faça um bom governo”. Digo repete porque essa é uma fala do ano passado. A de agora deveria ser, no mínimo, “Ricardo Coutinho está fazendo um bom governo”.

Mas, pelo visto, se nem mesmo o absoluto conseguir dizer isso do próprio governo, não dá pra exigir tamanho sacrifício de um aliado, mesmo que esse aliado tenha sido o maior avalista do candidato que se fez governador.

Não quero com isso dizer que o Doutor Cássio não tem bom sentimento ou que cometeu um ato falho. Nada disso. Pelo que acompanho desse expoente, nada do que ele diz é ‘de graça’.

Principalmente quando é peremptório, terminativo mesmo, em suas declarações.

E foi assim que percebi nessa entrevista. Sem indicar ou sinalizar segundas ou terceiras intenções, Cássio declarou com todas as letras que apóia a candidatura do seu correligionário e colega de Senado Cícero Lucena à Prefeitura da Capital.

“Cícero tem o meu apoio. Vamos conversar para formar a melhor campanha para ele se tornar prefeito da Capital”, disse o senador, segundo a matéria publicada no Portal Correio.

Afirmação como essa não poderia ser mais incisiva, cristalina. Especialmente quando comparada a outras, anteriores, sobre o mesmo tema. Dessa vez, o homem não foi naturalmente titubeante ou propositadamente hesitante.

Dá a impressão que ele bateu o martelo. Ou jogou a toalha, caso tenha compreendido que o senador Cícero, além do prestígio e garantias do alto clero tucano, tem domínio completo do Diretório Municipal do PSDB.

Diretório que deve convocar convenção para escolher o próximo candidato do partido a prefeito da Capital. Diretório que na configuração mais atualizada está tomado, cacheado mesmo, de diretorianos que ostentam o Lucena no batistério.

Nesse caso, além do Ricardus I, Cássio só tem agora que se preocupar com o desapontamento do prefeito Luciano Agra, candidato à reeleição que parece esperar mais de um possível e sonhado apoio de Cássio. Bem mais do que a criatura aparenta esperar de seu criador.

Por essa e outras, é bem capaz de o Doutor Agra vir a público novamente, como fez há duas semanas, para cobrar explicitamente o apoio do senador, passando em rosto que foi praticamente o responsável pela votação de Cássio em João Pessoa, em 2010.

Só esqueceram de dizer ou lembrar ao alcaide que Cássio teve uma votação medíocre na Capital, pra não dizer pífia, se comparada ao conjunto da obra. Afinal, aqui deve ter sido a única cidade onde ele perdeu até pra Wilson Santiago.

 

REUNIÃO DE CONDOMÍNIO

Deverão se reunir hoje em João Pessoa, em lugar e horário ainda incertos e não sabidos, os poderosos condôminos do Projeto Costa do Sol.

Refiro-me àquele condomínio criado pelo Burity I nas praias e matas do litoral sul da Capital para abrigar um complexo hoteleiro digno desse nome, mas que até hoje não gerou um leito pra chamar de seu.

Empresários beneficiados com terrenos na área querem discutir o que fazer diante da ameaça de construção de uma nova Assembléia Legislativa por lá. A obra, entendem alguns, vai desfigurar de vez e por completo o projeto do pólo turístico.