Cássio e Vené afinados

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Rubens Nóbrega

Parece até que Cássio e Veneziano combinaram dizer a Ricardo que não se anime muito não com essa história de adesões em massa de prefeitos do interior. Afinal, se apoio de prefeito fosse tão decisivo assim, nem Ronaldo Cunha Lima nem seu filho teriam chegado ao Governo do Estado.

Confesso que passei batido nessa afinação do raciocínio do senador com a lógica do ex-prefeito campinense, mas, graças a dois brilhantes analistas políticos, somente ontem me dei conta de como justamente os potenciais adversários mais competitivos do governador falaram a mesma linguagem mirando o mesmo alvo.

O primeiro a me chamar a atenção para a súbita convergência dos ainda contrários foi Jônatas Frazão, professor aposentado da UFPB; depois, Gilvan Freire, professor de todos nós. Tanto quanto Vené e Cássio, os dois mestres dizem praticamente a mesma coisa sobre o mesmo assunto.

Em artigo intitulado ‘Cássio e Veneziano: dois líderes e um mesmo discurso’, Frazão conta que o Cabeludo esteve esta semana no Sertão e lá comentou o adesismo de alcaides e alcaidessas ao projeto de reeleição do governador.

“Segundo ele, a história mostra que vários candidatos, num passado recente da Paraíba, foram às urnas com apoio maciço da esmagadora maioria dos prefeitos e não lograram êxito”, escreveu o Professor.
Frazão entende que Veneziano “não apenas marcou posição firme em relação a um assunto que poderia estar lhe tirando o sono, como desqualificou o discurso e a estratégia de seu concorrente direto, Ricardo Coutinho”.

No parágrafo seguinte, faz referência a uma entrevista que Cássio concedeu anteontem ao programa Correio Debate, da 98 FM, quando o senador também foi inquirido sobre a famosa corrida de caciques paroquiais à Granja Santana.

“O prefeito é importante no processo eleitoral, mas não garante a eleição. Quem decide eleição é o povo. Tanto faz ser senador, governador ou presidente da República. Não tem matemática, não tem regra”, disse o senador aos seus entrevistadores.

Na mesma entrevista, complementa Frazão, Cássio lembrou que em 1991, ao disputar o governo estadual, Ronaldo contava com o apoio de apenas seis dos então 151 prefeitos da Paraíba. “Eu também, em 2002, tinha o apoio de poucos prefeitos”, complementaria o senador.

Com tais informações e avaliações, o Professor Frazão conclui que “se continuar com essa estratégia de tentar criar cenário positivo com o anúncio de adesão de prefeitos, muitos deles, inclusive, da sua própria base aliada, como é o caso de prefeitos do PDT, PSD, DEM e outros partidos, Ricardo Coutinho poderá cair na armadilha da qual ele próprio se beneficiou em 2010”.

Já o Doutor Gilvan Freire vai além e garante que bastou a notícia da possível elegibilidade de Cássio sair no blog do jornalista Heron Cid para estancar a marcha de adesões ao governador. E não só de prefeitos. Alguns deputados também teriam “dado um ré pra trás”, como dizem lá no Calçadão de Campina.

Ricardistas estão ‘animados’

De uns tempos pra cá, como diria o poeta Chico César, o aparelho midiático a serviço do endeusamento do governador Ricardo Coutinho começou a espalhar a ideia de que o homem é imbatível desde já, que em 2014 não tem pra ninguém e quem for fraco que se quebre.

O boato, com pretensões de verdade sabida, lastreia-se na tese segundo a qual os mais temidos entre os prováveis competidores de Sua Majestade estão fora do páreo. Cássio estaria descartado por força da Lei da Ficha Limpa; Vené, por ser réu numa avalanche de ações ajuizadas para torná-lo igualmente inelegível.

Secundariamente, mas não menos importante, o ricardismo reforça a quimera da invencibilidade com a certeza de que o desempenho do governo tende a melhorar substancialmente neste ano pré-eleitoral.

A aposta governista inclui também a abertura do saco de bondades miúdas para contemplar os pequenos (funcionários e pobres em geral) e de generosidades graúdas para saciar o apetite dos grandes (empresários bons de doação e aliados de maior peso eleitoral).

De bolso cheio é bem melhor

A Assembleia Legislativa da Paraíba também deve acabar com os 14º e 15º salários, anunciou ontem o presidente Ricardo Marcelo, antecipando que na próxima terça-feira apresentará projeto de resolução com aquele objetivo.

O anúncio acontece um dia após o privilégio ser extinto pela Câmara Federal e 27 dias depois de os deputados estaduais embolsarem o 14º salário, também conhecido como ‘verba de entrada’ ou ‘auxílio paletó’.

Dos 36 deputados, 35 receberam R$ 20 mil dia 1º de fevereiro. O presidente teria recebido R$ 10 mil a mais, segundo consultor da coluna especializado em pesquisas no Siafi (sistema que registra pagamentos do poder público na Paraíba).

Com os bolsos prévia e providencialmente forrados, agora os nossos parlamentares devem se sentir bem mais à vontade para aprovar o fim da regalia absurda.