Cássio e Ricardo faltam com respeito ao eleitor

POR JOSIVAL PEREIRA

Análise: Cássio e Ricardo faltam com respeito ao eleitor

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e o governador Ricardo Coutinho (PSB) vestiram o antigo gibão da política paraibana, cruzaram a velha cartucheira nos peitos e partiram para o cangaço eleitoral antes mesmo de a campanha ter início. Briga e pistola foram os vocábulos disparados à queima roupa nos últimos dias, trazendo à tona episódios lastimáveis da história recente do Estado.
De certa forma, os dois vinham prometendo uma campanha de melhor nível, debates sobre os problemas do Estado e a comparação de obras e programas do governo. Mas, como sempre ocorre na Paraíba, deixaram o script ensaiado de lado e voltaram à tradicional arena do vale tudo da política estadual.

Lógico que não se espera uma campanha de “mocinhos” na Paraíba. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não é autor que se cite, mas tem lá certa razão quando diz que, geralmente, quem pede campanha eleitoral de alto nível tem o rabo preso. Assim, os ataques em campanha seriam naturais, mas o que se deseja é que tudo gire em torno da gestão pública e dos projetos de governo. Não é o caso da Paraíba.
O problema de Cássio e Ricardo no momento é que parece que os dois não percebem que talvez os tempos sejam outro, que a cabeça do eleitor já não é mais a mesma, e que há mais lugar para a política dos coronéis, que, nos confrontos paroquiais, acabavam dividindo a população em dois cordões (encarnado e azul) para reinarem sem muitos esforços.
Não é mais assim. Talvez os políticos da Paraíba devam prestar a atenção nas pesquisas sobre a visão dos brasileiros em relação à Copa do Mundo. O último Ibope saiu nesta segunda-feira e traz números inimagináveis.
Apenas 51% dos brasileiros apoiam a realização da Copa do Mundo e 42% são contra. Difícil se imaginar essa realidade há 10 anos. Nem há dois, talvez.
O Ibope também mediu, em um termômetro, o grau de envolvimento dos brasileiros com a Copa do Mundo. Veja-se: 39% disseram ser “frios” em relação ao evento, 18% se manifestaram “gelados”, 30% estão “quentes”, 5% “muito quente” e 7%, “fervendo”. No geral, o brasileiro revela baixa temperatura em relação à Copa.
E o que isso tem a ver com a política?
Esses números revelam que a cabeça do brasileiro é hoje bem diferente do que era há alguns anos. Não existe mais aquela paixão pelo futebol. Não se deixa mais levar pelo ufanismo. Não é mais uma “maria-vai-com-as-outras”.
Pois se aplique o mesmo raciocínio para a política, com rigor duplicado e triplicado. Na verdade, em relação à Copa do Mundo, o brasileiro demonstra apenas consciência crítica. Já em relação à política parece haver sentimento de repúdio, de certa ojeriza.
Ao se deparar com o deprimente espetáculo protagonizado pelo senador Cássio Cunha Lima e o governador Ricardo Coutinho, que até ontem se elogiavam e hoje se esculhabam sem cerimônia, a impressão que se tem é que eles ainda não perceberam que existe um novo cidadão. Ou, se percebem, querem fazer o eleitor de besta. Faltam com respeito aos paraibanos.
O eleitor pode até votar nos dois, mas por falta de opção.