Cássio Cunha Lima chega aos 50 anos com apelos para voltar ao governo estadual

Nonato Guedes

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) completa, hoje, 50 anos de idade, figurando entre as mais destacadas lideranças políticas emergentes da Paraíba e recebendo apelos para voltar a disputar o governo do Estado, para o qual foi eleito duas vezes, em 2002, derrotando Roberto Paulino, e em 2006, vencendo José Maranhão, ambos do PMDB. Cássio, que se tornou líder do grupo com a morte do pai, Ronaldo Cunha Lima, por quem foi preparado para dar continuidade à atividade política do “clã”, tem recusado apelos para voltar a disputar o Palácio da Redenção em 2014, alegando que se mantém firme no compromisso de apoio à reeleição do governador Ricardo Coutinho, do PSB. Na sua edição de hoje, o “Jornal da Paraíba” publica caderno especial destacando a vocação política de Cássio e mencionando discursos de posse. O seu segundo mandato como governador foi interrompido em fevereiro de 2009 por uma decisão do TSE, acatando denúncias de que ele teria cometido abuso de poder e conduta vedada à frente do cargo ao pleitear a reeleição.

Eleito senador em 2010 com mais de um milhão de votos, Cássio teve que esperar onze meses para se investir no Congresso, devido a uma polêmica interpretação sobre os efeitos da Lei Ficha Limpa, que teriam alcançado seu mandato. O Supremo Tribunal Federal acabou liberando a posse, determinando à Mesa do Senado que tomasse as providências necessárias. O mandato vinha sendo exercido por Wilson Santiago, ex-PMDB, hoje PTB, que ficara na terceira posição no páreo. Na época, Cunha Lima se disse vítima de perseguição e de equívocos de análise sobre a legalidade do seu mandato, que, na sua opinião, tinha sido usurpado indevidamente. Ele conseguiu posição de destaque na conjuntura nacional. É uma das vozes respeitadas dentro do PSDB e no âmbito do Congresso. Ainda agora, voltou a lamentar a falta de ação efetiva do governo federal em relação à estiagem no Nordeste. Num discurso pronunciado ontem, ele observou que se as obras de transposição das águas do rio São Francisco tivessem sido concluídas, os problemas referentes à falta de água que assola a região, incluindo o Estado da Paraíba, onde há colapso no sistema de abastecimento, estariam solucionados. Cobrou a desburocratização de medidas e de obras essenciais para a população do semiárido.

Cássio Rodrigues da Cunha Lima teve uma ascensão meteórica no universo político paraibano. Aos 23 anos de idade, assumiu o primeiro mandato, como deputado federal constituinte. Era o mais jovem, dentro do Congresso Nacional, e angariou o respeito de lideranças políticas veteranas como Ulysses Guimarães e Mário Covas. Foi candidato a prefeito de Campina Grande, ganhando com 52,38% dos votos válidos e derrotando Enivaldo Ribeiro. Deixou o cargo para assumir a superintendência da Sudene, no governo de Itamar Franco, em 92, que sucedeu a Fernando Collor de Melo por ocasião do seu impeachment na presidência da República. Em 1996, Cássio retornou à prefeitura de Campina Grande, sempre com votação expressiva, e ocupou o posto pela terceira vez. Deixou os quadros do PMDB, acompanhando a opção feita pelo pai e por outras lideranças políticas e aos 39 anos foi eleito governador. No discurso de posse, enfatizou: “Ontem, foi o último dia de perseguição política na Paraíba. A partir de agora, a Paraíba terá de novo 223 municípios”.

Considerado um líder carismático e um orador vibrante, Cássio encarou as dificuldades no exercício de mandatos políticos como momentos de dor e sofrimento, referindo-se, especialmente, à cassação como governador. Mas deixou claro que recolheu um aprendizado fértil para os embates seguintes. Em 2010, ele foi o principal mentor da composição em torno da candidatura de Ricardo Coutinho, avaliando que era o nome mais competitivo para derrotar José Maranhão, o que se concretizou. Para levar adiante a estratégia, teve que apelar ao senador Cícero Lucena no sentido de desistir da tentativa de se forjar como candidato próprio pelo PSDB. Quando assumiu o Senado, foi enfático: “Posso dizer que mais do que uma ficha limpa, tenho uma vida limpa. Talvez eu seja um dos homens públicos com mais tempo de exercício em cargos executivos e ao longo desse período não sofri uma única condenação por improbidade administrativa. Todas as minhas contas foram aprovadas”.

Hoje, ele evita falar sobre o passado, lembrando que foi eleito governador de forma legítima e soberana. Tem participado de Comissões relevantes no Congresso e pronunciado discursos críticos sobre medidas do governo federal. De Ronaldo Cunha Lima, o poeta, lembra como um dos grandes exemplos a honradez, a honestidade. “Ele foi acima de tudo um humanista, que dignificou a política, enalteceu a poesia, fez brilhar a advocacia. É difícil imaginar que alguém tenha a capacidade de repetir a trajetória sequer parecida com a que Ronaldo construiu, de vereador a governador e senador”, pontuou. Sobre a passagem pela Sudene, diz que articulou todas as ações do governo federal para a proteção social de famílias atingidas pela seca. Cássio chegou a ser tomado como refém no seu gabinete, no Recife, por agricultores que queriam uma audiência com o presidente Itamar Franco. Teve habilidade suficiente para negociar as reivindicações e atender aos pleitos. Entende que o principal desafio de um político hoje é fazer com que o país seja moderno e competitivo e que evolua nos indicadores referentes a mais emprego, mais geração de renda, além de investimentos no setor educacional.