Quando vazaram notícias de que Dilma poderia ser cassada por irregularidades em sua campanha de 2014 em razão de pagamentos a uma gráfica por serviços não prestados e ao marqueteiro João Santana, no exterior, via caixa 2, os advogados de Temer se apressaram em esclarecer que as contas das campanhas eram separadas, a sua campanha a vice não tinha nada a ver com a dela.
O argumento, que serviu para Temer, agora serve para Dilma. Depois que o episódio do jantar no Palácio do Jaburu entrou no processo de cassação da chapa que tramita no Tribunal Superior Eleitoral, com o depoimento de Marcelo Odebrecht, baseado na sua delação premiada, é melhor mesmo para Dilma que as contas sejam desvinculadas.
O único argumento que Temer usou, até agora, em sua defesa, foi dizer que o dinheiro que ele pediu a Odebrecht foi contribuição legal de campanha, mas confirmou o jantar e o pedido.
Cabe, então, formular algumas perguntas:
1) Se naquele jantar, em 2014, ele pediu dinheiro legal por que o episódio entrou e foi aceito numa delação premiada? Só se delata algum segredo que comprometa o próprio delator e seu interlocutor. Não faz sentido “delatar” uma doação legal.
2) A crer na versão de Temer, Marcelo Odebrecht estaria tentando transformar um evento corriqueiro e dentro da lei num episódio suspeito e, portanto, induzir o Ministério Público Federal a uma tremenda barriga e ainda correr o risco de perder os benefícios do acordo de delação por mentir?
3) Se o assunto do jantar era republicano por que foi escolhido um local à prova de testemunhas? Por que não numa cantina de Brasília? Por que fora do expediente?
4) Se foi para tratar de assuntos legais por que Temer não colocou o encontro na agenda sob a rubrica “jantar com Marcelo Odebrecht para pedir 10 milhões para a campanha do PMDB”?
5) Se foi para tratar de contribuição dentro da lei por que Temer não convocou a imprensa para dizer “olha, acabei de jantar com Marcelo Odebrecht e acertamos que ele vai doar 10 milhões às campanhas do PMDB, inclusive a minha, tudo dentro da lei”?
6) A propósito, por que Temer pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht?
7) Não terá sido porque sabia que o partido que presidia tinha uma “quota” relativa a contratos da empreiteira com a Petrobrás, como já delataram os ex-diretores da petroleira Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco?
8) Não terá sido porque, desde muito antes do governo Lula operadores tais como Jorge e Bruno Luz, pai e filho, presos na semana passada, atuavam na Petrobrás em nome do PMDB?
9) Se era para pedir dinheiro legal por que, além do presidente da Odebrecht um dos convivas do jantar foi o diretor Claudio Melo Filho que só cuidava de operações por baixo do pano da empreiteira?
10) Se Temer não teve nada a ver com a operação de Eliseu Padilha, de quem Yunes se declarou ter sido “mula” por que o pacote com “documentos” foi entregue e retirado no escritório de Yunes, um amigo de Temer, e não de Padilha, sendo que na época Yunes nem estava no governo?
Todas as pistas levam à conclusão de que a campanha de Temer – tal como as de outros candidatos do PMDB e inclusive a de Eduardo Cunha à presidência da Câmara – foram irrigadas com dinheiro da Odebrecht originado de porcentagem dos contratos da empreiteira com a Petrobrás. Dinheiro de propina, portanto, que foi lavado.
Ou seja, a cassação deveria atingir não só a sua campanha, mas todas as campanhas financiadas com essa verba, inclusive a de Cunha à presidência da Câmara.
De acordo com o exposto, a cassação de Temer é inevitável. Claro que ele irá recorrer caso isso aconteça e os recursos são intermináveis, mas não sei até que ponto a população irá se sentir confortável em ser governada por um presidente cassado.
P.S. Dilma não é acusada de pedir dinheiro pessoalmente a Marcelo Odebrecht, em jantar no Palácio da Alvorada, seja por dentro ou por fora.
Fonte: Brasil 247