A Carta Capital anunciou o apoio da revista à reeleição da Presidente Dilma Rousseff. Que ninguém se espante.

Gosto de ver assim

No caso do semanário paulistano, editorial assinado pelo jornalista Mino Carta, Diretor de Redação, anunciou o apoio da revista à reeleição da Presidente Dilma Rousseff. Que ninguém se espante. Não é novidade ou atrevimento. Dizer quem desejam ver eleito ou reeleito é o que costumam fazer serena e regularmente alguns diários e periódicos mais lidos do mundo, começando pelos grandes dos Estados Unidos, que alguns têm como modelo de democracia.
Já na Europa Ocidental, modelo de civilização para muitos, tabloides mais escandalizantes podem até não manifestar suas preferências eleitorais, mas não escondem de ninguém as correntes ideológicas ou siglas partidárias às quais se vinculam. Não significa dizer, como já disse, que esses veículos se transformam em panfletos de oposição ou boletim de governo. Pelo contrário, é possível fazer – como fazem – um jornalismo acreditado e respeitado, justamente porque ancoram na sinceridade política e na lealdade editorial a relação com seus leitores.
Por essas e outras, agrada-me profundamente saber que no Brasil pelo menos um órgão de circulação nacional bem referenciado assume diante do seu público consumidor que é pedra e não tijolo. Bem diferente do que fazem Veja, Globo, Folha e Estado de São Paulo e outros menos cotados que odeiam de paixão os atuais ocupantes do Planalto, mas não assumem e insistem na mentira da isenção, da imparcialidade que não existe em canto algum do mundo, muito menos em suas páginas.

 

Com rádio e tevê não dá

Não devemos esperar nem advogar a mesma atitude nos meios eletrônicos. Rádio e televisão são concessões públicas, delegadas a particulares pelo agente político com legitimidade para tanto porque foi eleito e recebeu um mandato para exercer tal prerrogativa. Já o outorgado, ou seja, a empresa ou entidade que recebe uma emissora, não pode dispor à vontade do veículo que lhe foi entregue porque explora um patrimônio dos eleitores em geral e contribuintes em particular, não apenas daqueles que votam no candidato do concessionário. Agora, se me permitem, mesmo parecendo um pouco de cabotinismo a mais do que o habitual, lembro que solitariamente venho cometendo a exposição de meu voto a cada eleição em todos os espaços de opinião que me foram confiados nos últimos 40 anos. Não é grande coisa, mas serve pelo menos para mostrar a minha crença de que viver é tomar partido, seja ele político ou não.
Audita primeiro, reajusta depois

Apesar da decisão que saiu ontem do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em João Pessoa, proibindo que 60% dos motoristas e cobradores de ônibus da Capital façam greve, desejo sucesso a esses trabalhadores no movimento com o qual reivindicam melhorias salariais e melhores condições de trabalho. Mas que suas conquistas não sejam pagas integralmente, exclusivamente e inocentemente, pelos usuários do sistema de transporte coletivo.
Para que isso não aconteça, o cidadão que anda de ônibus precisa exercer o seu direito de saber o quanto realmente a folha de pessoal pesa na tarifa desse serviço que é uma concessão pública, não vamos esquecer. E precisa tomar conhecimento não apenas do peso do salário no preço da viagem. Todos os demais custos que influem no valor da passagem – do óleo diesel ao lucro do ‘dono’ da linha – têm que ser divulgados e debatidos de forma transparente, aberta.
Digo assim porque lembro das manifestações de rua de um ano atrás, motivadas principalmente por reajustes sucessivos na passagem de ônibus sem contrapartida mínima em qualidade, segurança, conforto e pontualidade. Depois daquilo, duvido muito que aumentos sejam concedidos sem discussão além dos conselhos que fazem o gênero vaquinha de presépio diante de manhas e artimanhas dos empresários do ramo.
Não esqueçam que onde o protesto ocorreu sob regência ou inspiração do Movimento Passe-Livre (MPL) ou de qualquer outro movimento social mais organizado, mais politizado, ninguém se contentou apenas em discutir percentuais. Em São Paulo, Capital, por exemplo, pela primeira vez na história as planilhas das empresas de ônibus foram submetidas a uma auditoria externa e independente que o Prefeito Fernando Haddad mandou contratar.
Não tem porque ser diferente aqui. O prefeito Luciano Cartaxo pode muito bem copiar seu correligionário e colega de Sampa, submetendo proposta e cálculos das empresas à análise de técnicos do Dieese, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) ou da própria PMJP. Aposto como na Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob) e em outras secretarias municipais tem gente capaz de dar um parecer bem fundamentado sobre se a tarifa merece realmente ser reajustada. Pra cima ou (por que não?) pra baixo.
Afinal, pode ser que após o estudo encomendado pelo alcaide se chegue à conclusão que a passagem vem há anos acumulando tanta gordura que chegou a hora de queimar o excesso. Pode ser até que após a dieta as concessionárias, uma vez enxutas, funcionem melhor e prestem um serviço menos ruim à população.