Rubens Nóbrega

Recebi esta semana denúncia segundo a qual a Emepa – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária – está passando por um dos períodos mais difíceis de sua história, amargando acentuado sucateamento agravado pela omissão ou incompetência de gestão e de governo, que nada fazem para reverter quadro tão deplorável quanto deprimente.

Segundo o denunciante, das nove estações experimentais da Emepa a que se encontra em ‘melhores’ condições é a de Jacarapé, Capital.

Mesmo assim, em estado lastimável, praticamente inoperante. Pra vocês terem uma idéia, em seus 260 hectares de terra fértil e água abundante, o trabalho com fruticultura tropical, especialidade da casa, não é nem sombra do que um dia foi.

“Não se vê mais campos experimentais. A última vez que estive lá vi cavalos amarrados (por moradores da periferia) em plantas jovens nos campos, e pesquisadores em desespero com tamanho descaso. O trabalho de enxertia e de clones com cajá, mangaba e goiaba, que chamava a atenção de tudo que era produtor, dado o tempo recorde de frutificação das culturas, também não existe mais”, relata a fonte.

Revela ainda que recentemente, coisa de duas semanas atrás, o campo de goiaba da estação foi todo destruído e a plantação dizimada por conta de uma praga que ataca as raízes, mas que poderia ter sido controlada no início. A providência, tardia, foi queimar não se sabe quantos pés de goiaba, acabando com uma produção que antigamente dava gosto de ver.

“Todas as plantas matrizes foram destruídas para não comprometer a sanidade das outras culturas”, ressalta o denunciante, acrescentando que o fogo não evitou destruição semelhante no campo de graviola. Tudo isso daria razão a quem suspeita de que da parte da atual direção da Emepa não haveria “uma preocupação, não existe uma atenção, não há responsabilidade com o que se faz ali”.
Paralisia e abandono

Acompanhe agora um resumo de outros problemas e questionamentos contidos nessa denúncia, que encaminhei à presidência e chefia de gabinete da Emepa no último dia 20 com pedido de informações em forma de questionário (não respondido):

• os telados da produção de mudas estão vazios e a Emepa deixou de produzir;

• uma estrutura para o cultivo em hidroponia – jamais usada, sequer montada – jaz esquecida no chão, próximo à mata por trás da Estação;

• uma moderna estufa gigante, com sistema de funcionamento automático e controle para o crescimento e adaptação da mais frágil cultura, nunca foi utilizada e também está abandonada, com o vento rasgando a cobertura e o mato crescendo no seu interior;

• o Laboratório de Cultura de Tecidos (reformado com recursos do mesmo projeto que financiou a estufa) é um dos mais bem equipados do Estado, tem toda a infraestrutura para reprodução in vitro, melhoramento genético etc., mas pouco ou quase nada produz em benefício do pequeno produtor;

• no final do ano passado, uma aluna de pós-graduação do Rio Grande do Sul teve seu trabalho totalmente estragado na sala de vegetação daquele laboratório por conta de uma queda de energia num final de semana, decorrência de uma rede elétrica “toda feita em gambiarras”;

• em razão da mesma queda de energia, muitos outros equipamentos foram danificados, mas o fato parece não ter causado a menor preocupação aos dirigentes, muito menos providências no sentido de apurar ou dotar a estação de um no break, estabilizador de voltagem etc.;

• semana passada, no Espaço Cultural, falando a um auditório cheio e crédulo, Ricardus I elogiou a Emepa e disse, talvez sem saber que não é verdade, que em apenas três meses de seu governo a empresa havia desenvolvido tecnologia capaz de acabar com a mosca negra que ataca os laranjais, principalmente em Matinhas;

• “(…) estão enganando o governador, porque os experimentos ainda não foram iniciados e, portanto, não há produtor algum beneficiado, inclusive porque a pesquisa precisa ser validade e isso leva muito tempo”, comenta o denunciante.

• este ano, ao contrário do que vinha acontecendo há mais de um decênio, pela primeira vez a Emepa não fará a sua exposição de novas tecnologias, algo que atraia atenção e visita de pesquisadores e turistas do próprio Estado e de outros cantos do país.
Calado como resposta

Mantive contato telefônico na última terça-feira com um dirigente da Emepa que inicialmente mostrou-se bastante solícito. Disse-lhe que enviaria meu pedido de informações e esclarecimentos por i-meio e ele, prontamente, forneceu-me o endereço para remessa ([email protected]), garantindo que a mensagem seria lida pelo próprio presidente Manoel Duré.

Aguardei 48 horas por uma resposta e vou continuar aguardando muito mais as medidas urgentes e eficazes que o governo precisa tomar governo para salvar a Emepa. Que vem sendo precarizada não é de hoje. O caos é obra de sucessivas gestões. A atual, se mais inteligente e menos rançosa, poderia resgatar a empresa, deixá-la positiva e operante e marcar ponto junto à opinião pública e aos profissionais da área.